Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 27 de julho de 2024


Manoel Hygino    [email protected]
87127
Por Manoel Hygino - 23/7/2024 09:39:30
Tempo de governo

Manoel Hygino

Em minha terra natal, aprendi ainda criança que “quem fala demais dá bom dia a cavalo”. É assim, algo essencial em todo ser humano saber a hora de falar... e a hora de parar. O hoje presidente da República não aprendeu a lição de minha cidade, embora sua primeira esposa lá tenha nascido, para falecer num episódio pouco explorado pelos jornalistas de plantão. O caso caiu no olvido.

O jornalista Acílio Lara Resende, de notório prestígio entre companheiros de profissão e da classe política, entra em cena com outra frase muito útil e oportuna: “O peixe morre é pela boca”, que corresponde à primeira assertiva. Há algum tempo, referi-me aqui à lição inolvidável de história do Brasil como apregoada pelo presidente a respeito da duração de governos brasileiros, não restrito ao do regime instalado em 15 de novembro de 1889.

Para justificar-se ou explicar-se, S. Exa. ensinou “que ninguém esteve mais tempo à frente do Executivo do que ele em seus três mandatos. Observou à nação que o exercício de suas gestões é superior às de Pedro II e Getúlio Vargas”.Ocorre, no entanto, que nosso segundo imperador esteve no trono durante 49 anos, até o fim da monarquia. Quanto a Getúlio, presidiu o Brasil desde 1930, após a Revolução, pois, e até o fim do Estado Novo, quando foi despedido do poder pelos militares, isto é, em 1945; e, eleito pelo voto, assumiu o Catete novamente em 1950 para deixá-lo em 24 de agosto de 1954, após dar fim à vida com um tiro no peito.

É uma simples questão de aritmética, que se aprende ainda no curso primário.

Meses depois de sua declaração primeira, Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista exclusiva à TV Record em que mantém sua versão sobre tempo de governo e reitera os números de sua fala anterior.

Ninguém deve tê-lo advertido do engano ou equívoco, ou ele fez ouvido de mercador, cometendo a gafe novamente.

Antigamente se dizia que “o pior cego é o que não quer ver”. Assim, com a audição. Quem não deseja ouvir - tapa as orelhas com as mãos.


87125
Por Manoel Hygino - 20/7/2024 07:41:24
O labor literário

Manoel Hygino

O autor é Francisco Chagas Lima e Silva e o livro se publicou no ocaso de 2023. Não obstante, o escritor tem outros trabalhos editados e bem recebidos. Com o texto “Caminhos da Memória”, a presidente emérita da Academia Mineira de Letras Elizabeth Rennó, prefacia o trabalho, a que Jair Leopoldo Raso, da Academia Mineira de Medicina, acrescenta seu justo beneplácito.

A primeira diz que seu preâmbulo é apenas uma síntese sobre o romance, comprovando a excelência do autor, O Buabo, representa o homem e o escritor, pela linguagem, autenticidade, desenvolvimento e humanismo. O segundo observa que, em algum lugar desse complexo Universo, o autor Francisco Chagas Lima e Silva se encontrou com Heráclito de Êfeso e lhe disse que não se banha duas vezes na mesma “Lagoa do velho cercado”.

Mas acontece que o personagem central da história, o dr. Florindo José da Silva, é o alter ego do autor, presente em todas as páginas desde menino e, depois, colando grau em medicina; para honra e glória pessoal, de todos seus familiares e para os moradores do vilarejo distante e desconhecido em que nasceu e ganhou estatura e educação.

Em torno da formatura se desenrola a simples, humana e louvável solenidade em lugar muito próprio, com o diplomando envergando a beca de seda preta da cerimônia. À noite, o baile de sua juventude, já enfeitado com um paletó de linho bege, reformado sob medida pelo alfaiate. Tudo muito simples, mas muito relevante para o diplomando e para os moradores do local.

Francisco Chagas escreve exemplarmente em termos de vernáculo. O vocabulário, amplo e excelentemente eleito, ajuda a construir uma história – ou estória – que dá alegria percorrer nas muitas páginas do romance. O fio da meada conduz à trajetória de um menino do interior que consegue vencer empecilhos e dificuldades e, finalmente, formado em medicina, volta à origem para reencontrar-se. É quando Floriano, o personagem central medita: - Lamento ter perdido um pé de sapato novo, aos quatro anos de idade, no fundo da lagoa.

Como Floriano, Francisco Chagas é médico. Mas se dedica também à pesquisa científica. Ao longo da carreira, tornou-se escritor. E bom.


87122
Por Manoel Hygino - 17/7/2024 08:39:18
Crueldade flagrante

Manoel Hygino

Formam-se comissões e se promovem reuniões no âmbito legislativo e executivo para conter o desvario, mas permanece a crueldade sobre jovens negras e pardas no Brasil, impactadas pela violência de gênero. Os números que aparecem na Imprensa comumente dando ciência da evolução positiva desse grupo de cidadãos não correspondem à verdadeira situação.

Artistas pardas e negras conseguem alguma situação privilegiada em espetáculos públicos ou em televisão e rádio. Percebem cachês elevados, recebem aplausos em suas apresentações, tornam-se estrelas. Mas são exceções no universo de dificuldades, de até humilhações, para conseguirem um lugar ao sol, no rol das atividades comuns.

No Brasil, as mulheres sofrem toda sorte de infortúnios e são conduzidas a um somatório conhecido de dores para uma sobrevivência, até muitas vezes ainda subumana. As mulheres negras padecem mais duramente, ignominiosamente, se escurece a tez do rosto.

A vulnerabilidade socioeconômica contribui enormemente para submeter esse grupo da espécie humana a toda sorte de padecimento. São pessoas que nascem estigmatizadas, com imensas dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, recebendo salários menores e, em consequência, com maior dependência em relação aos parceiros e concorrentes.

Em nosso país, em que tanto já se exaltou a igualdade de direito, sente-se de perto, além de tudo, a influência criminosa do racismo, que não diminui a despeito de tentativas sucessivas nas casas dos três poderes. De modo que não causa surpresa o fato de crianças e adolescentes negras serem vítimas registradas por estupro, totalizando em torno de 40% de pessoas em tais condições, e correspondendo ao dobro da incidência comparativamente às meninas brancas. Não são informações desprovidas de consistência. O quadro integra um painel elaborado pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper, com base nos dados do Sistema Nacional de Atendimento Médico do Ministério da Saúde.

O levantamento aponta que seis de cada dez registros de estupro no país envolvem meninas com menos de 18 anos e com predomínio de mulheres negras e pardas de todas as faixas etárias vítimas desse tipo de ignomínia. Mais grave ainda: o índice de casos registrados só vem crescendo nos últimos anos.

Como um grande orador romano, pergunta-se: até quando se abusará de nossa paciência ou de nossa indisfarçada omissão?


87119
Por Manoel Hygino - 13/7/2024 07:01:42
Hamlet entre nós

Manoel Hygino

Em 1965, foi editado em Belo Horizonte um dos meus primeiros livros. Refiro-me a “Considerações sobre Hamlet”, resultado de anos de estudo e pesquisa da obra de Shakespeare e de seu célebre personagem. Inspirara-se o dramaturgo inglês na vida de um príncipe nórdico, cujo pai fora morto pelo próprio irmão, a fim de assumir o trono e o império: como resgatado nas páginas da história por um religioso – Saxo Grammaticus, no século XII.

Se meu trabalho desapareceu na memória dos que o leram, não aconteceu com todo o público. Tanto que ilustre estudioso do assunto, catedrático de universidade no Nordeste do país, recentemente publicou excelente estudo, inspirado em meu livro, sobre uma personalidade marcante da peça do dramaturgo de Stratford.

Não só isso: Hamlet, originalmente encenada em Londres a partir do ocaso do século XIX (em torno de 1596), ainda é uma das peças de teatro mais levadas à cena em palcos de todo o mundo. Tanto que, no finalzinho de junho deste 2024, ela desembarcou em Belo Horizonte com montagem audaciosa, segundo jornal local.

A folha anunciou que “Rodrigo Simas, um rosto conhecido da televisão brasileira, chegava a Belo Horizonte com o monólogo “Prazer, Hamlet”, espetáculo escrito e dirigido por Ciro Barcelos”. Explica-se: “A peça é uma adaptação contemporânea do clássico de William Shakespeare, que mergulha nos dilemas e prazeres ocultos do personagem Hamlet”. Não assisti à peça no Sesc Palladium, nos dois últimos dias do sexto mês, ainda que se anunciasse a peça, “com sua abordagem inovadora e subversiva”, prometendo ressoar com dramaturgos, estudantes de teatro e sociologia”, oferecendo uma experiência teatral única e provocativa, embora o simples fato de ser um “Shakespeare” já fosse um convite no mínimo razoável”.

Simplesmente por ser algo da criação genial do dramaturgo inglês, constituiria um acontecimento para a capital bem mais “novinha” do que a Londres em que a peça se encenara pela primeira vez. E também por se tratar de um personagem novo, imaginado pelo autor Ciro Barcelos para interpretação de Rodrigo Simas.

De todo modo, uma bela oportunidade para a capital mineira ingressar ou enaltecer uma das mais comoventes tragédias do gênio de Stratford, que forneceu à língua inglesa o maior número de expressões de uso comum e inspirou várias dezenas de títulos e temas não propriamente ligados ao conteúdo da peça, como disse o escritor José Guimarães Alves, apresentador de meu livro.

Conclui-se, com orgulho, Hamlet permanece vivo e poderoso depois de 400 anos de sua estreia. A capital de Minas substitui a dos ingleses.


87115
Por Manoel Hygino - 6/7/2024 07:17:02
Adélia soma prêmios

Manoel Hygino

Nome, Divinópolis. O topônimo significa cidade do Divino e recebeu o nome atual em 1912. Mas é um núcleo dos mais importantes de Minas: de centro ferroviário, sede de indústrias, de comércio forte, de muito que é bom existente em Minas. A hidrelétrica de Gafanhoto, instalada no Governo de Valadares, rica por lá, um ambiente paradisíaco.

Mas José Luciano Pereira, nascido lá, empresário, autor de dois livros de crônicas, que me fez a doação de um exemplar com a obra completa da Adélia Prado, comenta que, no auge do rock`n roll, nem tudo que aparecia lá era bem aceito imediatamente. “Nossa Divinópolis, apesar de cidade progressista, sempre guardou para si a tradição das famílias, quanto aos bons costumes, muitas vezes arraigados em preconceitos”.

Adélia recebeu, faz pouco, o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, a mais importante honraria da instituição. Estava festejando, à altura de seus 88 anos, a distinção, quando se soube vencedora do Prêmio Camões, 1924, o que equivale a 100 mil euros, segundo o Ministério de Cultura de Portugal.

É a primeira mineira a vencer a fascinante premiação, já que os anteriores eram homens: Autran Dourado, Rubem Fonseca e Salviano Santiago. Professora, filósofa, romancista, Adélia é autora de uma obra muito original ao longo de décadas e sua poesia, na apreciação de Marcos Luchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, é lírica, metafísica, amorosa e existencial, antiga e moderna, um dos nomes mais importantes da língua portuguesa”.

Em “Bagagem”, a escritora confessa: “Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia, sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia”. O estilo é inconfundível, alerta Augusto Massi.

E pergunta: “A sexualidade, debatida nos divãs dos psicanalistas ou em programas de televisão, pode correr solta pela carne e pela imaginação de uma mineira casada, quarentona, mãe de cinco filhos”?

O catolicismo também gerava certo incômodo e era visto com desconfiança por quem havia mergulhado de cabeça na militância dos anos rebeldes, mas Adélia Prado desarmou a todos. A própria escritora revela que a sua primeira aproximação da experiência poética se deu quando descobriu que São Francisco de Assis escrevia, cantava e tocava banjo. “Mas é este santo que eu quero”, desabafou.

Ex-presidente da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares não deixa passar oportunidade e não emudeceu: “Ela é irmã do primeiro frade franciscano de Divinópolis, Frei Antônio do Prado. Ela integrou a Ordem Terceira de São Francisco na cidade e Adélia assinava publicações com pseudônimo de Franciscana”.


87113
Por Manoel Hygino - 4/7/2024 09:37:13
À beira do fogo

Manoel Hygino

Nova estação do ano chegou. Desta vez, praticamente todos os países se preocupam com o que virá. Vivemos tempos difíceis e o noticiário de toda a imprensa mundial cuida de divulgar e esclarecer causas da hora presente, como a população deve agir para evitar o agravamento da situação. Jornal de Belo Horizonte estampa a manchete: “Maior parte da área atingida por queimadas era de vegetação nativa do Cerrado e da Amazônia”.

Imagem de satélites permitem análise do padrão histórico das ocorrências, mas se aduz que quase ¼ do país pegou fogo ao menos uma vez em 39 anos. Em nosso caso específico, Minas Gerais é o 9º estado em registro de casos. Informação atormentante, mas a que devem dar especial cuidado não só os prefeitos de agora e seus sucessores, mas todo o contingente humano. Todos temos responsabilidade no processo.

O conceituado jornalista Luiz Carlos Azedo titula seu artigo: “Caixa-d’água do Brasil está pegando fogo”. Eis um parágrafo: “O governo foi pego de surpresa em relação às queimadas, mas não foi por falta de advertência das instituições responsáveis pelo monitoramento do clima nem da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva”. “Depois das enchentes no Rio Grande do Sul, que se enquadram na categoria dos eventos externos, os incêndios do Pantanal e do Cerrado estão só começando e já são avassaladores”.
Minas tem intensa responsabilidade em tudo. É um dos maiores, tem a maior rede rodoviária, tem enorme população, envolve um complexo avantajado de cerrado e sofre influência climática de outras unidades federativas que podem ampliar seu potencial de destruição pelo fogo. O Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul estão perto e há condições favoráveis à propagação das chamas, sem lembrar que o território é uma espécie de caixa d’água do Sudeste, podendo aliviar ou ampliar a gravidade da situação atual.

Sem pretender atirar culpa e responsabilidade a quem quer que seja, o quadro de Minas é delicado. Os heróis de Guimarães Rosa, ele próprio nascido e criado, na beira do cerrado, devem estar inseguros e inquietos. Li numa folha: “O cerrado perdeu 1,11 milhões de Hectares de vegetação nativa em 2023, um aumento de 67,7% em relação a 2022 (662.186 hectares), conforme o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, divulgado pelo MapBiomas”.

O veterano Luiz Carlos completou o raciocínio: “O Cerrado abriga nascentes de nove das 12 principais bacias hidrográficas do país e que contribuem para cursos hídricos de países vizinhos, como Rio do Prata, e essenciais ao agronegócio e à vida humana. A supressão da vegetação compromete a perenidade dessas fontes de água potável, dos rios e dos lagos”.


87112
Por Manoel Hygino - 2/7/2024 08:37:26
O Ministério Público

Manoel Hygino

A palavra é repetida, inúmeras vezes, nos tribunais, nas manifestações de rua, em todos os lugares do país, como um apelo de salvação: Justiça, Justiça, Justiça. Grande parte do noticiário pelos meios de comunicação repete o substantivo e páginas inteiras das informações e das entrevistas, dos artigos de fundo – como se dizia antigamente a reitera. Mas, via de regra, só se apela quando algo está falhando.

Aliás, é o que se deduz do discurso do novo procurador-geral de Justiça de Minas, Jarbas Soares Júnior, ao empossar-se na presidência do Conselho Nacional dos Procuradores Gerais, CNPG. Com sua autoridade, o chefe do Ministério Público mineiro fez uma advertência: a instituição precisa repensar e buscar novas formas de atuar, objetivando “mais resultados do que processos”.

Na solenidade estavam presentes o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, que devem ter sentido a amplidão da lição, válida para todo o poder. Mas Jarbas foi claro e candente, sem ferir. Registrou, em boa hora, que o Ministério Público deve aprender com erros e acertos, que o modus operandi do “prendo e arrebento” ficou para trás, na Operação Lava-Jato em seu apogeu.
Ter-se-á de atuar com “consenso e consciência coletiva”, alertou, pensando no futuro e diferentemente de como se vinha agindo. Acrescentou em seu discurso, ouvido com especial atenção por todos os presentes: “Não pode nos interessar a destruição de biografias, a interferência indevida em processos que não nos dizem respeito, para no final pedir desculpas ou terceirizar nossos fracassos. Neste contexto, não podemos jamais criminalizar a política, ela é matéria de primeira necessidade, como nos ensina o professor Luís Roberto Barroso, ainda mais nesse ambiente de extremos em que vivemos”.

O procurador-geral ressaltou que os “erros” da Lava Jato acenderam no Ministério Público a “necessidade de mudanças de rumo”, e uma grande reflexão sobre o papel da instituição. Jarbas também defendeu a atividade empresarial, respeito ao Congresso Nacional, e destacou que um membro do MP “não pode ser um justiceiro”.

“A inviolabilidade da sua consciência e autonomia, garantidas pela constituição, impõe o dever de ser o primeiro juiz da causa para formar a sua convicção. (...) Este Ministério Público mais lúcido, experiente, maduro, menos impulsivo, mais inteligente, coeso, mais consciente do seu papel no xadrez institucional pensado pelos constituintes, é o que o CNPG buscará consolidar”.


87109
Por Manoel Hygino - 29/6/2024 07:25:15
Conselho de Lincoln

Manoel Hygino

Laudívio Carvalho, norte-mineiro de nascimento e formação, homem de Imprensa e ex-deputado federal, em certo dia publicou em jornal diário de Belo Horizonte uma carta dirigida ao magistério de sua pátria por um presidente da República. A assinatura é de Abraham Lincoln, que governou os EUA entre 1861 e 1866. Nesta hora de gerações nem-nem, de milhares que não trabalham, nem estudam, a lição do líder do país do Norte é muito válida. Leiam comigo:

“Caro professor, o jovem terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, para cada vilão há um herói, para cada egoísta, há um líder dedicado.

Ensine-lhe, por favor, que para cada inimigo haverá também um amigo, ensine-o que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada.

Ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso.
Faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales.

Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos.

Ensine-o a ser gentil com os gentis, e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram. Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho.

Ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram.
Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.

Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço. Deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.

Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.
Eu sei que estou a pedir muito, mas veja o que pode fazer, caro professor”.

A lição é válida por todo tempo. Lincoln, décimo-sexto presidente dos Estados Unidos, nasceu em Kentucky, em 1809. Morreu assassinado em Washington, em 1865. Era filho de um carpinteiro e agricultor, tendo recebido, em pequena fraquíssima educação escolar, mas era um leitor infatigável, o que muito o ajudou na juventude. Viajando incessantemente pela pátria, conhece bem o problema da escravidão e da escravatura, pondo-se a serviço da luta contra a insidiosa injustiça social e humana.


87107
Por Manoel Hygino - 27/6/2024 08:43:56
Tempos de governo

Manoel Hygino

Luís Inácio Lula da Silva, o presidente da República em que nascemos e habitamos, no dia 6 de junho, em sua quarta viagem ao Rio Grande do Sul após a tragédia das chuvas, enchentes e destruição, cometeu equívocos históricos. Só não os identificou os que tampouco conhecem fatos e datas.

S. Exa. declarou peremptoriamente e à Imprensa, que não dá sossego: “Possivelmente, muita gente me olha e fala: ‘O Lula nem diploma universitário tem’. Só tem três pessoas que têm mais experiência que eu neste país. Dom Pedro, que governou durante 70 anos, até a Proclamação da República. Getúlio Vargas, que fez a Revolução de 1930, ficou até 1945 e depois foi eleito em 1954. Depois dos dois, só eu. Ninguém tem a quantidade de experiência que eu tenho de viver problemas neste país”.

Pedro II esteve à frente dos destinos da nação por exatamente 49 anos, não dos quase 70 mencionados. Estou seguro de que ele gostaria de aproximar-se das sete décadas, o que não lhe foi permitido. A República foi proclamada em 15 de novembro de 1889 e a monarquia passou a referência.

A princesa Isabel partiu para a Europa com a família real, para exílio na França, onde montou uma embaixada informal no castelo em que morava na Normandia. Ela foi a primeira chefe de Estado das Américas, uma das nove mulheres a governar uma nação durante boa parte do século XIX. Substituiu o pai, Pedro II, três vezes, quando ele se ausentou por motivo de viagens. Foi também a primeira senadora do Brasil, cargo a que tinha direito como herdeira do trono a partir de 25 anos de idade, segundo a Constituição do Império, de 1824.

Getúlio se fez presidente em outubro de 1930, quando foi deflagrada a revolução. Em seu diário anotou: “Que nos reservará o futuro incerto neste lance aventuroso?” Mas aquela primeira série de fatos estava vencida. Veio o Estado Novo: 15 anos, até 1945, quando deposto. Anos após, a nova aventura: vencer as forças armadas, muito estimuladas por Lacerda, desta vez pelas urnas. A eleição foi em 1950.

A despedida do governo e da vida se deu em 24 de agosto de 1954, depois de uma última reunião na sala de refeições dos barões de Friburgo, primeiros donos do Catete, transformado em sede da Presidência poucos anos após a Implantação da República. Anos transcorridos depois da implantação da República, Getúlio usava, naquela manhã, terno azul-cinza e olhava cada participante com o tradicional ar enigmático.


87105
Por Manoel Hygino - 22/6/2024 07:37:17
Nava diplomado

Manoel Hygino

Estou escrevendo sobre Pedro Nava, após 13 de maio, que assinalou 40 anos da morte do escritor e médico, no Rio de Janeiro, num banco de rua da Glória, em bairro de mesmo nome. Na Faculdade de Medicina, iniciativa de profissionais interessados numa escola para formação de médicos, a instituição foi inicialmente à Universidade de Minas Gerais, e ela formou Nava numa turma brilhante. Nela, estavam Juscelino, Odilon Berhens, José Maria Figueiró, Pedro Salles, Flávio Marques Lisboa e poucos mais. O grupo, pequeno, dos menores que se formaram no século. E era 1927.

Ingressar na faculdade era difícil, os preparatórios eram longos, exigia-se muito dos candidatos. Um deles foi exatamente Pedro da Silva Nava, nascido em Juiz de Fora, em 5 de junho de 1903, um ano após JK. Foi com muito esforço e sacrifício da mãe, pois o pai falecera quando ele era menino. Custou o juiz-forano ingressar na faculdade, sonho pessoal e de toda a família.

Gosto de referir-me ao assunto. O plano e vontade geral da família era arrumar um meio de chegar à Santa Casa, único hospital na capital jovenzinha. A faculdade assinara um contrato com a filantrópica para os universitários usarem as instalações da casa de saúde.

Juscelino, como Behrens e Pedro Nava, adentrou as enfermarias do estabelecimento. Um projeto realizado, uma glória. Nava muitos anos após, registrou:

“Bom dia, Irmã Madalena. Bom dia! Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado tão bom Senhor”.

Nunca nos momentos de maior êxito de minha vida de médico – conquista de várias chefias de serviços, livre docência, duas cátedras, professorado emérito e honoris causa, três academias, sociedades estrangeiras, presidência da sociedade Continental – nunca na minha vida de médico tive a estasia, o orgulho, uma sensação de plenitude que sentia naquele 1926. Quintanista de Medicina! Interno residente da Santa Casa”.

Nava contou o sucesso à mãe doente, acamada. Depois, ela disse: “faço questão de pôr no seu dedo o anel de seu Pai. E ali ela me casou com a profissão e enfiou no anular a aliança cujo aro pertencera ao velho “Doutor Meton, cuja esmeralda fora de meu tio-avô Leonel Jaquaribe e cujos brilhantes seu Pai comprara completando a joia familiar”.



87103
Por Manoel Hygino - 19/6/2024 08:31:43
Vida pela arte

Manoel Hygino

Não sei se os 94 anos de idade me permitirão ir à Academia Mineira de Letras, no número 1.466 da rua da Bahia, para a posse de Ricardo Aleixo, membro da entidade da cadeira 31, cujo antecessor foi o mui caro e respeitável escritor Rui Mourão, que veio ao mundo um ano antes de mim. Estarei presente em espírito e coração.

Sobre o novo acadêmico já se manifestara Jacyntho Lins Brandão, além de um belo número de autores outros. Declarou o presidente da AML: “Ricardo Aleixo é, sem dúvida, uma das vozes mais potentes e originais da poesia contemporânea. Ao aliar o ritmo do corpo ao da fala, obtém resultados de um rigor poético destacável, o que se mostra presente também em sua prosa. Seu ingresso na Academia é por nós todos com alegria celebrado”.

Mas o confrade não estava só. A escritora e acadêmica Maria Esther Maciel estendeu o raciocínio: “Ricardo Aleixo é um dos poetas brasileiros mais inventivos e multidisciplinares da atualidade, com uma obra de notável consciência reconhecida no Brasil e no exterior. Literatura, música, dança, artes visuais e performáticas mesclam-se no rico repertório de práticas criativas do poeta mineiro, potencializadas pelas suas instigantes pesquisas e reflexões sobre as culturas afro-brasileiras e as questões raciais. Ele sabe, como poucos, conjugar estética e política, imaginação e lucidez crítica. Além disso, é professor emérito de universidades brasileiras, com uma bagagem intelectual admirável. Sua eleição para a AML é um grande presente para nós, integrantes da Casa, e para as Letras de Minas Gerais”.

Mas Ricardo Aleixo já viajara para os Estados Unidos a cumprir programa na Universidade de Nova York. Antes de fazê-lo, contou para quem quis saber suas atividades na prosa ficcional, filosofia, antropologia, história, música, radioarte, artes visuais, vídeo, dança, teatro, performance e estudos urbanos.

Ainda na infância, Aleixo iniciou sua formação artística como músico. Aos 17 anos, começou a compor, o que marcou seu primeiro contato com a poesia. O livro de estreia, “Festim, um desconcerto de música plástica”, foi publicado em 1992.

Produtor cultural, foi um dos criadores do Festival de Arte Negra (FAM), em 1995, espaço importante voltado para a promoção da diversidade da herança cultural africana.

Ricardo Aleixo lançou 20 livros. Com Modelos Vivos (2010) foi finalista dos prêmios Portugal Telecom e Jabuti. Com “Antiboi” (2017), ficou entre os finalistas do Prêmio Oceano.

Em 2021, escritor recebeu da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) o título de Notório Saber. Professor visitante da Universidade da Bahia (UFBA), é casado com a pesquisadora Natália Alves, vive atualmente em trânsito entre Salvador e Belo Horizonte.


87102
Por Manoel Hygino - 18/6/2024 07:42:44
Um dia glorioso

Manoel Hygino

Os veículos de comunicação, isto é, a imprensa não falhou em 6 de junho deste ano quando se relembrou o Dia D, o de invasão da França ocupada pelos alemães de Hitler, na II Grande Guerra Mundial. Seria, como foi, o de libertação da Europa do jugo nazifascista. O Dia D é um símbolo da derrota das ideias de Hitler e Mussolini, seu aliado no conflito.

A Segunda Grande Guerra, desde setembro de 1939, com todo o seu cortejo de horrores destruindo Nações e deprimindo o mundo civilizado ainda não engajado na fogueira a guerra, era mundial, mas o Brasil só se declararia contra o Eixo em 22 de agosto de 1942, não se julgando então viável sua cooperação militar a não ser mediante policiamento de nossas costas marítimas ou nas escoltas a comboios no Atlântico Sul.

A participação brasileira só se efetivou em 18 de abril de 1943, sem se ouvir o Parlamento. Até então, o Brasil não era uma nação que entraria em guerra, pois apenas um reforço integrado a Tio Sam, colocando-se deliberadamente sob tutela dos EUA. Os franceses estavam praticamente inexistentes até aquela hora, embora lutassem desesperadamente para ter expressão e os soviéticos fugiam à tutela americana.

Os fatos se precipitavam, enquanto as dificuldades se tornavam crescentes na Normandia. Os diversos teatros de operação em que os americanos operavam com uma mobilização superior a 11 milhões de combatentes começavam a dar sinais de esgotamento dos mananciais humanos, quando a mão-de-obra da indústria comprometida com a guerra e o povo norte-americano já se apresentava extremamente sobrecarregado.

De todo modo, havia absoluta certeza de que os Aliados tinham de enfrentar as forças alemãs concentradas na Normandia. E eram efetivos substanciais: 50 mil homens do 7º Exército da linha de frente, com 40 mil nas praias. Mas a ordem era libertar aquele pedaço da Europa na França em momento dramático: 140 mil homens das Forças Aliadas entraram em ação, com 1.200 navios de guerra, 4 mil lanchas de desembarque, mais 1.800 barcos diversos. Os aliados perderam 10.800 vidas, feridos e desaparecidos, enquanto seus 3 mil canhões entraram em cena, além de 27 mil paraquedistas.

Houve o desembarque glorioso como os cinemas e telas de TV de todo o mundo mostraram. Assegurava-se o triunfo sobre os nazistas, possibilitando a vitória final.


87101
Por Manoel Hygino - 15/6/2024 07:06:46
O cão presidencial

Manoel Hygino

José Mário Pereira assina a última capa do novo livro de Pedro Rogério Moreira, mineiro de quatro costados, mas que mora em outros lugares do país há dezenas de anos, presentemente em Brasília, para onde se transferiu desde que ela é capital. Pois na capa da nova publicação da Thesaurus Editora, José Mario Pereira afirma: “O que vale mesmo na vida política é a dimensão humana. Só ela redime o governante das misérias que comece contra o povo. A dimensão humana vale mais do que uma hidrelétrica, mais do que uma rodovia”.

Pois no seu novo livro, Pedro Rogério Moreira explora exatamente a dimensão humana de ilustres brasileiros - ou não - que habitam a metrópole sonhada por JK, tornada terra para gente morar, tanto pobres e humildes, tanto ricos e portentosos. Com o sobejo conhecimento que angariou da cidade-monumento, o autor conquista mais luz solar para sua já extensa produção: agora com “A vida misteriosa dos gatos”, é um exemplo.

Ele lembra que, quando Dilma se mudou, já presidente, para o palácio do Alvorada, levou consigo o cão Nego (com o som do e fechado). Não era novidade, observa Pedro Rogério, porque Lula também levara consigo à residência presidencial a cadela chamada Michele, cujo nome nada tem a ver com a mais recente ex-primeira- dama. O autor observa que não existe nenhum cachorro mais chamado Baleia, Rex, Plutão. Têm nome de gente. Mas a Michele da Dilma ganhou prestígio quando a Kombi da Presidência da República foi flagrada levando uma cachorrinha do Alvorada para a Granja do Torto, onde se encontravam Lula e Dona Maria Letícia numa reunião ministerial.

A mulher do presidente esclareceu que uma arrumadeira do Alvorada explicara que Michele chorava demais quando a sua dona se ausentava. A Imprensa gostou, foi um escândalo enorme. Os repórteres deploraram o transporte concedido à cadelinha. Pedro Rogério argumentou, então, que não é atentado à lei um presidente conviver com seu animal de estimação sob proteção do Estado. “O rigor dos costumes republicanos não pode chegar a tanto. Todos os presidentes dos Estados Unidos levam seus cães para a Casa Branca e eles até voam no Air Force One. O importante é preservar para a família presidencial as mesmas condições de felicidade doméstica desfrutada em sua casa particular. O buraco de onde se esvai o dinheiro do contribuinte é mais embaixo, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil”.

Lembrou-se: no Brasil o primeiro presidente a gostar de um animalzinho desses: o marechal Deodoro era devotado ao Tupi, que não levou para sua residência oficial, porque essa não existia. Deodoro morava numa casa modesta na rua Taylor, na Lapa, passando os últimos dias da vida acariciando o Tupi, a seus pés, sem palácio.


87100
Por Manoel Hygino - 12/6/2024 08:51:01
Fome no Rio

Manoel Hygino

O assassinato da vereadora Marielle passou a fazer parte do noticiário de todos os veículos de comunicação do país. Não poderia ser de outro jeito e maneira, se nossa Imprensa quiser manter credibilidade. Enfim, o óbito se deu faz anos e ficou por isso mesmo, por mais que se esmerassem as autoridades em apontar culpados. Novas frentes de investigação, não tão novas assim, indicam possíveis mandantes do crime no Rio de Janeiro, sempre preparados para festejos, principalmente os carnavalescos ou esportivos. Sem contar, obviamente, os que enchem os fins de semana na periferia, com muita música, som alto, e sexo, é claro.

Mas o Rio de Janeiro não está sozinho, nem no riso, na alegria, nas cores, porque todo o Brasil se tem deixado envolver pela saga da felicidade, embora efêmera e falsa. Exemplo é o próprio caso de Marielle, que – desde o princípio – traz no rol de suspeitos gente de toda respeitabilidade.

Há mais – apesar de tanto riso, tanta alegria, tanto álcool e droga, outros aspectos a se levar em consideração. Os jornais da semana que passou não deixaram de dar ênfase a outra face da vida carioca, além dos milicianos e invasores de terras públicas ou de terceiros. Quero dizer da fome que perpassa a vida carioca. A insegurança alimentar grave é realidade em 7,9% das casas na capital fluminense. Em números redondos, absolutos, são 489 mil pessoas que passam fome. Isto é, quase meio milhão, sem ter comida suficiente no prato.

Os dados são oficiais, inéditos, inseridos no inquérito sobre a Insegurança Alimentar no Município do Rio de Janeiro. A verdade verdadeira é que cerca de 2 milhões de cariocas com algum grau de insegurança alimentar, seja leve, moderada ou grave. O documento mostra a quem desejar que o percentual de fome no município é quase o dobro, se comparado com a informação nacional recém-divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, merecedor de todo respeito.

Segundo o IBGE, conforme pesquisa divulgada em abril, a fome esteve presente em 4,1% das casas brasileiras. No Rio de Janeiro, o percentual é de 3,1% no Estado, mas a situação na capital fluminense é aguda. Claro que varia muito num país desigual como o nosso.

Um detalhe: a fome é maior nos lares chefiados por pessoas negras (9,5%). E há mais: 8,3% das famílias comandadas por mulheres não têm o que comer.


87098
Por Manoel Hygino - 8/6/2024 07:39:32
Os perigos do poder

Manoel Hygino

Eleições cá e lá. Na África do Sul, o partido do grande Mandela perdeu pela primeira vez em trinta anos. Nos Estados Unidos, é extremamente difícil, ou impossível, prever quem será o futuro presidente. No Brasil, mais uma contenda municipal nas urnas em outubro próximo. Pelo voto no décimo mês do ano, poder-se-á adivinhar o nome do futuro chefe do governo, após o terceiro mandato de Luís Inácio. Ou será ele mesmo?

A luta pelo poder encontra raízes na própria história do homem. A geração atual pretende alcançar o poder por vias outras que não as adotadas até aqui? Afinal, o que é o poder? Como chegar a ele?

Há poucos dias, Dom Walmor de Oliveira Azevedo focalizou o tema com sabedoria. O arcebispo metropolitano alerta para problemas do aqui e agora. “O paradigma tecnocrático, fortalecido pela inteligência artificial e outros recentes avanços tecnológicos, vem alimentando a ilusória convicção de que não há limites para o ser humano. Esse paradigma alimenta-se monstruosamente de si próprio, conforme a indicação do Papa Francisco”.

O nosso prelado observa que “pensa-se que a tecnologia pode levar o ser humano ao impossível. Há, pois, uma ideologia na base desse entendimento equivocado quando se pretende aumentar o poder humano para além de tudo o que se possa imaginar”.

Aí, o engano. “Esse entendimento incapacita a humanidade para a indispensável compreensão de que tudo o que existe é uma dádiva que se deve apreciar, valorizar e cultivar, como aliás constitui o ensinamento do Pontífice, acrescentando que não se deve tornar escravo ou vítima dos caprichos da mente humana.

Traduzindo, o que se adverte é para a urgente necessidade de se repensar o modo como se utiliza e se exerce o poder. Quer-se dizer: Nem todo aumento de poder significa progresso para a humanidade, bastando verificar com tecnologias sofisticadas a serviço do extermínio de pessoas. Isso se constata, a cada dia, bastando apenas estar atento aos noticiários dos veículos de comunicação.

O progresso técnico é admirável, mas lastimavelmente carrega no seu reverso inúmeros horrores, pois não são acompanhados de uma irrenunciável responsabilidade. Esse detalhe se há de medir em caso de grandes conflitos ou de uma simples passagem aérea ou subterrânea nas vias públicas.


87096
Por Manoel Hygino - 5/6/2024 08:36:26
Chegando a hora

Manoel Hygino

Aproxima-se a hora de votar. Os candidatos às eleições deste ano ultimam entendimentos e acertos para o 6 de outubro, a data para os dedos apertarem as teclas. É um instante solene e de grande responsabilidade para os que esperam contribuir com sua escolha para seu município corrigir erros e equívocos dos pleitos anteriores.

O estardalhaço em torno dos concorrentes cresce e incomoda. Os eleitores diante da propaganda eleitoral ficam mais confusos e a confusão pode beneficiar alguns e prejudicar outros. Faz parte do jogo, nem sempre muito limpo.

Fiquemos atentos às normas, inclusive quanto à campanha propriamente. As convenções partidárias e registros de candidatura serão de 20 de julho a 5 de agosto, devendo o registro na Justiça Eleitoral ser feito no prazo fixado pelo Tribunal.

Outro problema é a propaganda. Há dez dias entre o registro da candidatura e o início da divulgação. Visa não só dar tempo à Justiça Eleitoral para confirmar, negar e resolver pendências de candidaturas. Mas, Propaganda Eleitoral tem início mesmo a 16 de agosto. Antes, qualquer publicidade ou manifestação com pedido explícito de voto pode ser considerada irregular e passível de multa. Pesquisas de opinião devem ser registradas no TSE até cinco dias antes da sua divulgação.

Apresentadores de rádio ou televisão pré-candidatos a cargos ficam impedidos de fazê-lo a partir de 30 de junho. A lei eleitoral mostra-se claudicante em relação à propaganda feita via redes sociais. Para muitas candidaturas elas são decisivas. Por outro lado, alguns candidatos não têm a elas qualquer acesso. A propaganda gratuita no rádio e na TV começará em 30 de agosto e se encerrará em 3 de outubro, considerado antevéspera do primeiro turno.

Depois de 6 de julho é vedado aos agentes públicos a realização de nomeações, exonerações e contratações, assim como participar de inauguração de obras públicas. Na legislação anterior esse prazo se estendia por seis meses após o pleito. Candidatos não poderão ser presos. Somente se pegos, pessoalmente, em alguma transgressão

A partir de 10 de outubro quem não pode ser preso são os eleitores: somente em caso de flagrante, ou em cumprimento de sentença judicial por crime inafiançável ou ainda em desrespeito a salvo-conduto. E, assim, deve-se esperar que teremos nossas eleições sempre competitivas, imparciais e democráticas. As eleições municipais são a base da futura eleição para Presidência da República no Brasil. Merece reflexão.


87095
Por Manoel Hygino - 4/6/2024 08:38:32
Hamas, e agora?

Manoel Hygino

A “briga” entre o atual presidente da República e seu antecessor não para, embora a campanha esteja encerrada, há bastante tempo, em âmbito político-eleitoral. Bolsonaro criticou Lula pela postura do petista diante do conflito entre Israel e Hamas. No dia 25 de maio, Luiz Inácio pediu solidariedade para as mulheres e crianças “que estão morrendo na região de Gaza por irresponsabilidade do governo de Israel”.

Por meio de sua conta no X, Bolsonaro acusou seu sucessor de ser amigo do grupo terrorista de Gaza e questionou o interesse do atual presidente e questionando seu empenho em libertar o brasileiro Michel Nisenbaum, sequestrado e morto pelo grupo e cujo corpo foi resgatado pelo Exército de Israel no dia 24 último, como divulgado pela imprensa cá de nossa terra.

Caminhando para um ano a ação terrorista do Hamas, já seria hora de saber o que acontece naquela belicista região do mundo. A causa palestina, que tem servido de motivo para movimentos em vários países da Europa e nos Estados Unidos, passou a plano inferior em meio a uma guerra a partir de outubro deflagrada. A antiga ação movida pela OLP foi chutada para escanteio, ela que defendia e controlava a Cisjordânia e assinara os Acordos de Oslo, que deveriam ter prevalecido.

O Hamas entrou em campo e zerou quase tudo na região, enquanto jovens em países civilizados, desconhecedores do caso e das causas, passaram a fazer balbúrdias nas portas das universidades e nas ruas das capitais, julgando-se em defesa de uma bela e justa causa.

O Hamas aproveitou-se da situação delicada e usou da força para o 7 de outubro, mas a verdade verdadeira é que agiu com apoio de países que têm interesse em dominar aquele pedaço de mundo, principalmente Irã, Rússia e Síria. Conseguiu agravar os problemas com influenciamento das nações compelidas a usar inclusive suas passagens em rotas comerciais e mesmo bélicas.

Márcio Coimbra, com muito senso de oportunidade e conhecimento de causa, julga que o Hamas cogitou usar o Irã, a Rússia e a Síria para estabelecer o predomínio de forças naquela encruzilhada. Nem tudo deu certo, porém se começou a guerra ainda sem fim. Ademais, agora que o Irã perdeu o seu presidente, o que acontecerá? Estamos, mais uma vez, em crise aguda sem saber o que há à frente.

Qual será a posição iraniana com o novo presidente? Sem ele, o Hamas perde muito de sua força.


87094
Por Manoel Hygino - 1/6/2024 07:37:42
Duplo adeus

Manoel Hygino

Perdemos, perdeu Minas Gerais, dois importantes e queridos brasileiros aqui nascidos. Ambos com 80 anos - um que teve berço em Lavras, no Sul de Minas, Aloísio Teixeira Garcia, membro da Academia Mineira de Letras, em que ocupava a cadeia 36, entidade da qual foi secretário geral, além de secretário de Estado da Educação e Secretário de Cultura, chefe de gabinete dos Ministérios da Cultura e dos Ministérios da Agricultura e da Indústria e Comércio, além de deputado; o segundo, Téo Azevedo, nascido no Norte do Estado, cantor, compositor, cordelista e escritor com liames na cultura popular, com mais de 25 mil músicas registradas, tido como o compositor brasileiro com maior quantidade no gênero gravadas no país, com berço e grande parte da existência no distrito de Alto Belo, município de Bocaiúva.

Téo nos deixou no dia 11 e Aloísio Teixeira Garcia no dia 19 de maio, mês em que já de nós se tinham despedido outras expressivas e prezadas personalidades da vida brasileira, deixando lacunas não preenchíveis. Aos que ficamos resta lamentar por terem dito adeus antes de nós e rogar para que se enxuguem as lágrimas dos seus familiares e amigos mais íntimos.

O primeiro, nosso confrade na Academia Mineira de Letras, deixou livros publicados e valiosa colaboração a veículos brasileiros de comunicação, mais especificamente na área econômica a que se devotou, com esmero e sucesso, em ponderável parte da existência; o segundo, Téo Azevedo, conforme a vocação da gente de sua região e sua destinação natural à música, mesmo lá no distante território do sertão mineiro em que nasceu, tornou-se conhecido sobretudo por sua produção artística, que lhe valeu prestígio que ultrapassou os limites de nossa terra.

Sobre o catrumano Téo, declarou o compositor Tino Gomes: “Partiu para os planos celestiais, no toque da viola, um dos maiores defensores da cultura popular deste país, ao qual nós todos devemos reverenciar. Téo foi um lutador pela nossa cultura, nosso povo catrumano. Um poeta e batalhador incansável da nossa cultura. Ela fica mais entristecida, mais pobre”.

Sobre Aloísio, expressou-se o presidente emérito da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares: “Foi um educador comprometido com a causa do ensino de qualidade, tanto na iniciativa privada quanto na vida pública. Na literatura, produziu poesia de destaque. Vivia muito a vida da Academia”. E Jacyntho Lins Brandão, atual presidente, registrou: “Aloísio Garcia teve uma vida plena de realizações, em que se destacam as atividades na área educacional e cultural (...). Seu legado persistirá”.

É o que o signatário desse texto subscreve respeitosamente.


87091
Por Manoel Hygino - 28/5/2024 09:44:34
Saúde de ponta

Manoel Hygino

É um longo tempo – 125 anos, sobretudo quando se trata de uma instituição filantrópica, que passa invariavelmente por sucessivos e numerosos desafios para sobreviver e que sobrevivam seus pacientes, quando se trata de hospital ou assemelhado. Pois este tempo foi vencido e comemorado pela Santa Casa com celebração ecumênica em ação de graças no dia 21 de maio, no salão nobre do Hospital de Alta Complexidade 100% SUS, como agora identificado.

Presidido o ato religioso pelo Capelão, padre Carlos Alberto Amaral, e pelo pastor presbiteriano, Jorge Eduardo Diniz, com participação do coral Voz e Coração, da instituição, viveu-se uma manhã de profunda emoção, quando se entregou a Medalha Dr. Aloysio Andrade de Faria, Benfeitor da entidade, “reconhecendo o trabalho de pessoas, entidades e empresas que prestam relevantes serviços à sociedade no campo assistencial, em todo o país”.

Receberam a honrosa distinção: o procurador do município, Hércules Guerra; o professor e pesquisador Marcus Vinícius Gomez; a médica oncologista clínica dra. Maria Nunes Álvares; o médico e ex-chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica da Santa Casa BH, Moacir Tibúrcio (homenagem póstuma em que foi representado por sua viúva Vera Lúcia Leonardi Tibúrcio e pelo filho Arthur Emílio Leonardi Tibúrcio); o médico e ex-secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães Júnior; o empresário Pedro Lourenço de Oliveira, representado pela diretora de Marketing dos Supermercados BH, Kátia Andrade; e a voluntária e filantropa Maria Christina (Titita).

O provedor Roberto Otto Augusto de Lima, na oportunidade, destacou a evolução da Santa Casa BH em mais de um século de atuação, e enfatizou o trabalho da instituição nos seus 125 anos de vida, coincidindo com o lançamento de uma campanha publicitária reafirmando o compromisso com a cidade, o estado e o país, sob o mote “sonhos não envelhecem” e se mantendo o princípio de “uma grande ideia com a vontade desmedida de fazer bem ao próximo”.

Finalizou o provedor: “Chegamos a 2024 como o hospital que mais realiza internações no país. Além disso, recebemos pacientes de mais de 90% dos municípios mineiros, somando 3,4 milhões de atendimentos por ano e contamos com 1.153 leitos. Somos, ainda, reconhecidos pela excelência e por sermos referência nacional em alta complexidade, em Oncologia, Cirurgia Cardíaca, Neurocirurgia, partos de alto risco e transplantes”, entre outros.


87089
Por Manoel Hygino - 25/5/2024 07:12:41
Prevendo 2025

Manoel Hygino

Minas vai bem, obrigado? Ou vai mal? Não desejo fazer intervenção na situação econômica-financeira, que é problema de centenas de autoridades do alto nível da administração pública. Mas só a famosa dívida mineira junto à União já deixa certeza de que as coisas não andam tão bem como se desejaria.

Sabe-se que o Executivo faz das tripas o coração para ver se consegue equacionar os cerca de R$ 160 bilhões da dívida. E a União, como se sabe e se constata, não perdoa. Agora que se tomou conhecimento do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, visando o exercício de 2025, também se vê que há muito ainda a pagar à frente.

O PLDO, encaminhado à Assembleia Legislativa, prevê um rombo menor do que o de 2024. É algo que merece ênfase. A redução se revela inferior à de 2024 em 53,7%. Algo expressivo, sem dúvida, mas que não diminui a angústia para o ano que vem. O governo, contudo, é objetivo e sincero ao declarar que a “situação fiscal é delicada”.

A dinheirama a ser utilizada vem dos impostos, é claro. É histórico e legal, embora a chiadeira generalizada, sobretudo dos que ganham pouco. O gasto previsto para 2025 é superior a R$ 133,2 bilhões, mostrando um de 8% em relação ao orçamento deste exercício. E não há como desviar dos compromissos.

As despesas obrigatórias são muitas e pesadas, a começar do pagamento de salários do funcionalismo o público e encargos sociais. Só estes exigem 82,9% do total e atingem, como estimado, R$ 78,6 bilhões.

Mas há mais: as despesas constitucionais, como pagamento dos pisos salariais da saúde e educação estão avaliados em R$ 12,9 bilhões. Tudo, tudo, tem de sair do bolso do cidadão. Falar em dívida pública no Brasil, em que as demandas são imensas e sempre crescentes, é algo que causa desgosto e inquietação.

O cenário do Regime de Recuperação Fiscal, já homologado, não permite sorrisos, mas se considerando a expectativa de diminuição da expectativa de pagamento do serviço relativo aos contratos administrados pela União, com quem o estado tem vultosa dívida de R$ 160 bilhões, para a qual não se chegou a um consenso.

Muita água vai passar debaixo da ponte ainda. O que se espera é que não se venha a sofrer como o Rio Grande do Sul. Lá, depois das enchentes e da destruição, há a sujeira, uma terrível ruína, que ainda resta a enfrentar.


87088
Por Manoel Hygino - 21/5/2024 09:02:03
Acontece por aqui

Manoel Hygino

Ouço incessantemente queixas contra ao serviço público de um modo geral, a ineficiência dos órgãos incumbidos de zelar pelo bem-estar e tranquilidade do cidadão e da população. Os mineiros protestam contra o que se deve fazer hoje e se deixa para amanhã. Os problemas, que são meros problemas, se tornam desafios aparentemente insolúveis.

A despeito das promessas, não se cumprem integralmente os compromissos assumidos pelas autoridades. Já nem se fala no pagamento dos juros da dívida de Minas com a União que fica para as calendas, embora os esforços dos que têm o dever de dar-lhe solução. Há o sentimento generalizado de que não se pode mais adiar, mas não se encontra solução adequada.

Os efetivos resultados dos trabalhos da CPI da Pampulha estão adiados e tampouco se sabe qual será o próximo passo. Enquanto isso, acumulam-se as reclamações e protestos pelo mau cheiro aos visitantes da região. Simultaneamente, ouvem-se comentários esplêndidos sobre o Conjunto Arquitetônico reconhecido mundialmente e motivo de orgulho dos mineiros.

Vamos levando.

Não podemos queixar-nos. Depois de 18 anos, o Brasil voltou a ter um caso de cólera confirmado. É uma doença bacteriana transmitida principalmente por água e alimentos contaminados pela bactéria Cholerae, causando sintomas como diarreia e vômito. Aconteceu na Bahia, em que choveu barbaridade no final de abril.
E houve mais. A Polícia Federal do Pará descobriu um banco utilizado para lavagem de dinheiro proveniente do tráfico internacional de drogas. Os donos do estabelecimento foram identificados como responsáveis por movimentações financeiras milionárias, envolvendo pessoas físicas e jurídicas, muitas delas laranjas e empresas de fachada.

Enquanto uma cantora de nome internacional, cujos méritos não se restringem à voz, conseguia levar mais de um milhão e meio de pessoas a sua apresentação em Copacabana, uma catástrofe no Sul brasileiro levou muitos outros milhares ao desespero, ao desamparo, às dores de falta de abrigo e alojamento, se bem que contando- felizmente- com milhões de conterrâneos solidários e dispostos a bem ajudar.

No Rio Grande, contudo, enquanto tantos se esforçam num mutirão sem fim em favor dos irmãos, muitos fora da lei continuam no seu afã criminoso de saquear, roubar, estuprar, ofendendo todos os que fazem parte desta sociedade. Ainda bem que ainda existem os bons e solidários.


87085
Por Manoel Hygino - 18/5/2024 07:45:20
Esperando o porvir

Manoel Hygino

Violentos tremores de terra na Turquia, tsunamis, no Japão, abalos na crosta da China, incêndios enormes na Austrália, erupções de vulcões na Europa, tempestades de neve no hemisfério Norte são manifestações da natureza que os brasileiros pensavam que só aconteceriam bem longe. Não é assim e a catástrofe, que atinge o Rio Grande do Sul, e diz alto que também estamos sujeitos aos caprichos geológicos. No estado sulino, grande produtor de bens que servem à mesa de nosso povo e engordam a nossa pauta de exportação agrícola, vive-se um período de calamidade, cujas repercussões se estenderão à economia e a toda a nação, não se sabe até quando e quanto.

Os dados fornecidos pelas autoridades sobre a catástrofe são alarmantes e ainda não são definitivos, mas alertam a população de que somos iguais aos demais países e agentes espalhados por imensos territórios.
Caminha-se para 150 pessoas mortas, de acordo com a Defesa Civil. E quando a somatória de caos chegará ao término? Ninguém poderia dizê-lo. Os desalojados totalizam mais de 340 mil, e 150 desaparecidos. As chuvas duram duas semanas e afetam quase dois milhões de irmãos gaúchos, em mais de 400 municípios.

Milhares já foram alvos, além de animais recolhidos a lugares protegidos, mas tudo isso é apenas um pouco da tragédia iniciada praticamente em setembro do ano passado e só temporariamente interrompida. Jamais, naquele território especialmente querido nos mais de 8 mil quilômetros quadrados, tantos sofrem e tanto sofrem.

Solidariedade não tem faltado, mas incomoda especialmente o imprevisível. Não se trata, ademais, de um problema simplesmente brasileiro. As gerações de agora reconhecem que as perspectivas são mais graves, o que se avaliará nos próximos dias, enquanto o sr. Putin ameaça o planeta com ferramentais bélicos nucleares.

Esperemos, ao contrário, que a catástrofe ao Sul e outras tragédias fecundem a solidariedade e aprendizagem de novas lições e práticas no horizonte. Como proclamou, há poucos dias, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, cardeal-arcebispo de Belo Horizonte: “A lição da catástrofe no Rio Grande, sem perder a referência amarga de tantas outras, é um convite urgente a renovar o diálogo, com inteligência e boa vontade para efetivar propostas do modo como se está construindo o futuro do planeta”.


87084
Por Manoel Hygino - 15/5/2024 08:52:13
A morte de Nava

Manoel Hygino

Completam-se 40 anos. Na noite de 13 de maio de 1984, no Rio de Janeiro, suicida-se o escritor Pedro da Silva Nava, com um tiro na cabeça após receber um misterioso telefonema.

Havia transcorrido menos de 30 anos do suicídio de Getúlio Vargas, que dera fim à vida mas com um tiro coração, na manhã de 24 de agosto de 1954, em seu dormitório no Palácio do Catete, após reunião com seus mais graduados auxiliares e no ápice de uma crise política.

Médico inovador, juiz-forano, Pedro Nava, memorialista dos maiores a que Minas serviu de berço, ele começa as mais de 5 mil páginas de obra jamais concluída, parafraseando Eça de Queiroz: “Eu sou um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais. Se não exatamente da picada de Garcia Rodrigues, ao menos da variante aberta pelo velho Halfeld e que, na sua travessia pelo arraial do Paraibuna, tomou o nome da Rua Principal e ficou sendo denominada a Rua Direita da Cidade de Juiz de Fora. Nasci nessa rua, número 179, em frente à Mechanica, no sobrado onde reinava minha avó materna. E nas duas direções apontadas por essa que é hoje a Avenida Rio Branco hesitou a minha vida”. A literatura brasileira perdeu naquela noite de domingo um de seus mais importantes nomes, o memorialista Pedro Nava. Ele foi encontrado morto com um tiro na cabeça, na rua da Glória, no Rio, perto de onde morava. Segundo a polícia, foi suicídio. Ele completaria 81 anos de idade em junho.

Mineiro, médico, companheiro de Carlos Drummond de Andrade na vanguarda modernista, amigo dos mais importantes personagens do mundo cultural do País, até 1972 Nava só havia publicado poemas esparsos. Naquele ano, editou seu primeiro livro ("Baú de Ossos"), ao qual se seguiram mais cinco. Sua sétima obra ("Cera das Almas") já estava praticamente concluída.

Foi possível recompor os últimos passos de Nava. Na noite de domingo, em seu apartamento na rua da Glória, ele terminou de escrever o discurso que deveria pronunciar na Assembleia Legislativa do Rio, no dia 23, quando receberia o título de Cidadão Fluminense. Mostrou o discurso à mulher, d. Antonieta, e jantou normalmente. Por volta das 20 horas, o telefone tocou e a esposa atendeu, uma voz de homem perguntava por Pedro Nava. Este ouviu em silêncio o que a voz lhe dizia e depois desligou. À mulher, ele informou apenas tratar-se de um trote de mau gosto. Às 22 horas, dona Antonieta foi ao banheiro. Nava então saiu, sem avisá-la (segundo a família, "fugiu"). Mais tarde, foi visto sentado à calçada, parecendo abatido em meio ao movimento de prostitutas e travestis. Às 23h30, o tiro, disparado de um velho revólver calibre 32, do próprio Nava.

Em entrevista concedida à "Folha" em junho anterior, em seu 80° aniversário, ele dissera “ter pensado várias vezes no suicídio, mas que o fato de ser médico o protegera, até ali, contra o ato”.


87082
Por Manoel Hygino - 14/5/2024 09:00:12
Rodas contra câncer

Manoel Hygino

Se há uma área médica a que Belo Horizonte e, por extensão, Minas Gerais dá especial atenção, é a do câncer. O que aqui se fez, desde as primeiras décadas do século passado no combate à doença, até hoje das que mais matam no mundo, é quase inacreditável, considerando que a capital fora inaugurada em dezembro de 1897.

Os profissionais vinham de fora, até porque aqui não havia faculdades de medicina, além de que especialização era coisa raríssima. Somente em 1919, o câncer passou a preocupar. Um grupo de profissionais começou a reunir-se na casa de Ezequiel Dias (ele era cunhado de Oswaldo Cruz) para tratar do assunto, e médicos de alta reputação compareciam para discutir o que se podia fazer. Entre eles, estava – por exemplo – Eduardo Borges da Costa, carioca com dois anos de formado e cheio de entusiasmo. Na noite em que aqui desembarcou, a cidade repleta, ele teve de dormir numa mesa de bilhar no Grande Hotel, porque não havia vaga nem em hospedarias.

No dia seguinte pela manhã, foi à Santa Casa, único lugar de assistência médica e ao provedor Júlio Veiga declarou que queria trabalhar e não ganhar nada. Imediatamente atendido, assumiu de pronto a chefia de Clínica Cirúrgica, onde permaneceu até o final da vida, gloriosa – posso afirmar. Foi importante sua atuação nos meios políticos, conseguindo a constituição de uma comissão para tratar do assunto junto ao presidente de Minas, Artur Bernardes. E mãos à obra.

Em 1922, o Instituto do Câncer foi inaugurado, com a capital e o Estado pioneiramente à frente de toda a América; um júbilo ainda hoje não comemorado com a merecida relevância. Aqui enfim, estava o Instituto, honrando nossa Medicina e a classe médica, o espírito público nas montanhas. Belo Horizonte se equiparava a Paris.


Em 2023, a filantrópica pôs também a serviço da população a Unidade Móvel de Saúde Oncológica SUS, com uma carreta que percorre as cidades de Minas Gerais para exames de mamografia, raio X e atendimentos multiprofissionais na área de câncer, focando ainda a educação, prevenção e identificação de casos de alta suspeição em crianças, adultos e idosos.

Roberto Otto Augusto de Lima, o provedor, no dia do início de trabalho da Unidade, afirmou: “Um marco simbólico para a Santa Casa BH, pois recentemente a gigante da saúde do estado passou por um reposicionamento institucional e tornou-se uma causa: saúde de ponta para todos, e essa causa não cabe mais dentro do prédio.

“Ela é maior do que a própria instituição. E, agora, mais do que nunca, não cabe no hospital, a Santa Casa BH ganhou rodas e vai para as estradas, levando saúde a quem precisa. Vamos levar prevenção e tratamento para toda Minas Gerais. É algo tangível nesta nossa causa”.


87080
Por Manoel Hygino - 11/5/2024 07:15:03
Drama no Sul

Manoel Hygino

A já longa tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul nos deixa a todos em sofrimento, se é que somos um povo efetivamente irmão e solidário. Procurei transmitir os sentimentos de que me achava possuído, e me lembrei do nome de um velho tango argentino: “Sin palavras”. Como definir numa palavra única a dor que desabou amplamente pelo nosso estado mais ao Sul?

Catástrofe talvez a mais indicada, porque corresponde a uma grande desgraça, lembrando que o profeta Jeremias expressou sua angústia com a destruição de Jerusalém pelo exército dos caldeus de Nabucodonosor, em 587 antes de Cristo.

A descrição nos leva a ver diante dos olhos extensas regiões de terras gaúchas nos dias de abril e maio. A rua entulhada de destroços do Templo, dos prédios públicos e casas particulares. E, quando Jerusalém ficou deserta, o profeta Jeremias assentou-se a chorar e lançar gritos de dor, as chamadas Lamentações.

O ministro Edson Fachin, gaúcho de nascimento, fez como Jeremias, expressando profunda preocupação com a situação catastrófica do estado, após visitar Porto Alegre e Canoas, ao lado de Lula e outras autoridades dos três poderes.

Vice-presidente do STF, Fachin comparou o impacto da tragédia a uma “Bomba atômica” da natureza, ressaltando que o estado enfrenta uma crise humanitária, social, econômica e ambiental sem precedentes. Ele enfatizou a importância da cooperação entre todas as esferas do Judiciário e dos poderes, incluindo União, Estado e Municípios para enfrentar a situação crítica. Finalmente, destacou a urgência de implementar um regime jurídico emergencial, similar à época da pandemia, para lidar com os desafios decorrentes da catástrofe.

Numerosas estradas estão fechadas ou interrompidas. O aeroporto Salgado Filho deve permanecer com atividades suspensas até o final de maio.

A Abear informou, também, que os aeroportos das cidades de Passo Fundo, Caxias do Sul, Pelotas e Santo Antônio ainda estão operando, mas podem ser impactados pelas condições meteorológicas no estado, onde chove há vários dias. “A Abear se solidariza com a população do Rio Grande do Sul e, junto com as suas associadas, se mantém à disposição para contribuir com ações de logística para viabilizar o transporte de doações”.

Mais de uma centena de mortos, o dobro de feridos e desaparecidos. As chuvas voltaram e o grande medo agora são dos que fazem saques e roubos nas áreas atingidas.


87078
Por Manoel Hygino - 8/5/2024 08:45:35
O apelo de Maduro

Manoel Hygino

Fica-se imaginando o que serão as eleições na Venezuela, sobretudo porque a hora se aproxima e ninguém segura o tempo. O pleito será no apagar das luzes de julho próximo e ninguém sabe o que a ditadura de Nicolás Maduro poderá tramar até lá. Esse “negócio” de ocupar altos cargos públicos deve ser bom para os candidatos, caso contrário ninguém estaria tão disposto a disputá-los.

No caso específico da Venezuela, a Coordenação Nacional, alinhada ao presidente, anunciou a inabilitação política de mais cinco opositores ao regime, o que dá ideia do tipo de democracia que se pratica no país ao Norte.

Ao longo dos mais recentes meses e anos, Nicolás Maduro vai afastando sistematicamente todos aqueles que querem apresentar-se como candidatos. Nenhum dos que manifestaram desejo e propósito do ilustre titular do palácio, sobrou. Caracas é uma cidade que já foi muito boa para nela se morar.

A lista já extensa de líderes que perderam o direito político antes do processo eleitoral vai-se avolumando e o nome de Maduro é o único intocável, por motivos óbvios. O episódio me desperta para o que aconteceu com Putin, o presidente da Rússia, que tem o mesmo desvelo pelos que pretendem o voto dos patrícios.

Na recente eleição no país do Norte, Vladimir Putin pediu aos compatriotas que votassem para demonstrar patriotismo. Disse com a maior caradura: “Peço que compareçam para votar e expressem a sua posição cívica e patriótica, que votem no candidato de sua escolha, pelo futuro da nossa amada Rússia”, disse Putin em um discurso exibido pela televisão pública russa.

“Participar nas eleições é demonstrar seus sentimentos patrióticos”, acrescentou Putin, candidato à reeleição. “Estou convencido de que compreendem o período difícil que o nosso país atravessa, os difíceis desafios que enfrentamos em praticamente todas as áreas”.

Como se tinha certeza, o eleitorado atendeu ao pedido do titular do Kremlin. Será mais um mandato para o camarada Vladimir, que já deve estar sonhando com mais um período de governo, quanto terminar o que ainda sequer começou.

Depreende-se que tanto no alto do mundo, bem no Norte, se tem igual voracidade de poder como no hemisfério Sul. O antecessor do atual mandatário venezuelano poderia melhor manifestar-se sobre o tema. Se não tivesse sido cerceado pelo câncer, que agora fere profundamente o Mujica no Uruguai, Hugo Chávez daria a resposta. Infelizmente, já partiu, há muito.


87077
Por Manoel Hygino - 7/5/2024 08:27:06
A hora de Mujica

Manoel Hygino

O Uruguai volta novamente, com destaque, aos principais jornais do Brasil... E do mundo. Desta vez, não para informar que políticos brasileiros ou de outras nações sul-americanas tivessem pedido asilo ou lá se refugiaram. Apesar do pequeno território – menos de 180 mil quilômetros quadrados– quando ditaduras no hemisfério sul apertavam, para lá fugiam os perseguidos. Basta se dar uma volta ao passado para confirmar.

Imprensado entre Brasil e Argentina, pressionado por ambos em momentos decisivos da história, lideranças de outros povos procuravam asilo nos pampas ao sul do arroio Chuí e de outras regiões limítrofes. Páginas heroicas do solo oriental foram escritas, de que muito se orgulham os poucos milhões de uruguaios, que sempre lutaram em defesa de seu território, de suas riquezas e da concretização de projetos e sonhos. Na monarquia ou na república brasileira, foi assim.

Até o século XVII, a região do atual Uruguai era habitada pelos índios charruas, chamaés e guaranis, cujas tribos também habitavam por aqui.

Em 1680, os portugueses criaram uma colônia em Sacramento, mas foram expulsos pelos espanhóis que, em 1726, fundaram São Felipe de Montevidéu.

Daí em diante, portugueses, espanhóis e uruguaios, estarão sempre em guerra para ver com quem ficaria o rico quinhão. Os blancos e colorados acirram o ambiente, do lado dos partidos nacionais. Entra a França na disputa. Em apoio ao caudilho colorado Venâncio Flores, o Brasil intervém enquanto o próprio Uruguai passa a integrar a Tríplice Aliança, ao lado do Brasil e Argentina, na Guerra do Paraguai. Complicado. Em determinado período, o território é anexado ao Brasil, numa espécie de estado, com o nome de Província Cisplatina. Era 1821.

José Mujica, ex-guerrilheiro que governou o país de 2010 a 2014, conquistou prestígio no continente. Agora está gravemente enfermo, de uma doença imunológica há mais de 20 anos e, desde o final de abril de 2024, com câncer complexo.

Há poucos dias, em seu gabinete em Montevidéu, foi claro e peremptório, falando aos jovens: “Vocês que a vida é bela e passa, vai embora, e o cerne da questão, ter sucesso na vida, é recomeçar toda vez que alguém cai. Se há raiva, que a transformem em esperança e lutem pelo amor, não se deixem enganar pelo ódio. Se as drogas os pegarem, não fiquem sozinhos, ninguém se salva sozinho. A única liberdade que existe está na cabeça e chama-se vontade, e se não a usarmos não somos livres. A vida é tão bonita que não faz sentido sacrificá-la pela estupidez”.


87075
Por Manoel Hygino - 4/5/2024 10:20:02
Acerto de conta

Manoel Hygino

Sem contar novidade, a recente afirmativa do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal, a jornalistas estrangeiros, foi clara, incisiva e incontestável. Na noite de quarta-feira, 24 de abril deste fluente ano de 2024, o chefe da nação lusa declarou peremptoriamente a correspondentes estrangeiros em Lisboa que “Portugal assumia total responsabilidade” pelos erros do passado e que os crimes incluem massacres, e tiveram “custos”. “Devemos arcar com os custos”, concluiu o raciocínio.

É alto de eminentemente sério, partindo de um chefe de Governo, mas não é a primeira vez que Rabelo de Sousa se manifesta sobre um tema tão candente, tão velho e, simultaneamente, tão atual. Em abril de 2023, ele já dissera que o país deveria desculpar-se e assumir sua responsabilidade pelo comércio transatlântico de escravizados. Por sinal, na época, ele foi o primeiro líder de uma nação do sul da Europa a sugerir tal atitude.

E avançou mais na exposição de seu ponto de vista: “pedir desculpas às vezes é a coisa mais fácil de fazer. Você pede desculpas, vira as costas e o trabalho está feito”, declarou então. Desta vez, foi mais longe e profundamente: mencionou o dever de uma reparação, repetindo que “pedir desculpas é a parte mais fácil”.

Afirmou de modo indiscutível: “Há ações que não foram punidas. E os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso”. Vê-se que o presidente assume, neste ano que se aproxima da metade, um grande papel perante sua pátria, perante o Brasil e de relevância supranacional.

Os periódicos que cuidaram do assunto encontraram subsídios fartos, e obviamente o Brasil poderá muito explorá-lo.

Por mais de quatro séculos, milhões de africanos foram sequestrados, transportados à força em navios por comerciantes principalmente europeus e vendidos como escravos. Aqueles que sobreviveram à viagem acabavam trabalhando em plantações nas Américas, em especial no Brasil e no Caribe. Portugal teve um papel importante nesse sistema, já que traficou quase seis milhões de africanos, mais do que qualquer outra nação europeia. Até agora, porém, falhou em confrontar seu passado.

A própria declaração de Rebelo no ano passado foi marcada por uma ponderação contraditória que romantiza o modelo escravocrata. Na ocasião, o presidente português disse que a colonização do Brasil também teve fatores positivos, como a difusão da língua e da cultura portuguesa. “Mas, do lado ruim, a exploração dos povos indígenas, o sacrifício dos interesses do Brasil e dos brasileiros”, disse.


87073
Por Manoel Hygino - 1/5/2024 10:30:17
Bom para o Brasil

Manoel Hygino

Não é de hoje nem de ontem que temos advertido para os problemas que a siderurgia brasileira atravessava. Parece incrível que, tantas décadas após a nação ter criado e desenvolvido um setor econômico tão importante, enfrentando o desafio no mercado internacional, ainda estivéssemos a clamar para que a produção alcançasse os níveis desejados, necessários e indesviáveis.

Mais recentemente, o ingresso da China no mercado internacional resultou em abalo enorme nos preços, fazendo tremer nossas contas e perspectivas. Finalmente, transpôs-se a barreira e a situação começa a clarear. É uma bela hora, enfim. O Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, deu aval à medida providencial aprovada pela União.

Com aplauso, a entidade avalizou a decisão do governo federal de implantar uma cota para importação de produtos siderúrgicos e sobre- taxar em 25% o volume de compras externas que extrapolam o teto. Demorou, mas saiu. Na penúltima semana de abril, o Comitê Executivo da Câmara de Comércio Exterior, Camex, colegiado do governo federal, aprovou a medida. Finalmente.

A decisão ocorre depois que as empresas siderúrgicas nacionais protocolarem pedido para aumentar a alíquota do Imposto de Importação dos diversos produtos ligados ao aço para o percentual referido. Foi o período de uma gestação humana. Nove meses de negociação para resolver-se uma situação predatória para o aço aqui produzido, onde se extrai o minério. Quase a fórceps, mas enfim.

O setor se comprometeu a retomar investimentos previstos e manter os empregos nas siderúrgicas, que estavam ameaçados pelo aumento da importação de aço, principalmente da China. O setor aporta, em média, R$ 12 bilhões por ano no Brasil. Valores médios para manutenção das unidades fabris, mas que podem crescer de acordo com os novos projetos. Grandes empresas como Usiminas, Gerdau, Arcelor e Aperam têm planos de investimentos bilionários em curso, boa parte deles em Minas Gerais. Durante os nove meses de tratativas entre o setor e o governo federal para impor essa sobretaxa ao produto importado, esses investimentos foram colocados sob risco.

Agora se espera que a China não volte com novas propostas que comprometam tão valioso setor. Chegamos com algum atraso ao ponto atingido. Não é de bom alvitre nem sensato voltar no tempo, o que representaria uma grande perda em uma área da economia a que o Brasil se acha vocacionado historicamente.


87072
Por Manoel Hygino - 30/4/2024 08:35:14
Nova instituição

Manoel Hygino:

José Fernandes Filho atuou com admirável distinção nos altos cargos que exerceu na vida pública de Minas. No Executivo como secretário de Estado ou na magistratura, deixou lições e registros de dignidade em bem servir. É exemplo e lição de vida, que servem de rumo e caminho para os cidadãos que formam a sociedade mineira.

Integrando hoje a Academia Mineira de Letras, pela qual têm também passado homens ilustres e merecedores do respeito de seus cidadãos, publicou ele, há poucos dias, um depoimento pessoal que merece registro, como ora faço. José Fernandes Filho, meu confrade na Academia, relata que teve um sonho real, afetivo, induvidoso. Do qual acordara feliz, a compensá-lo dos pesadelos, que o acicatam. “Ao abrir-me uma janela ensolarada, quase redentora. Não grandioso tal o sonho de Luther King de acabar com a segregação social em seu país”. Conta:

“Sonhei, aos 94 anos com a criação de alguma instituição, cuja clientela fosse apenas e tão somente de carentes e necessitados. Pessoa jurídica, a prestar serviços gratuitos, integrada por seres humanos sedentos de um rumo para a vida. Instituição singular, fundamentada na firme convicção de que a vida só tem sentido quando a serviço dos outros”.

Adiante: “Do sonho à realidade: colegas com iguais preocupações, angustiados, prisioneiros da velhice, companheiros de caminhada. Convocados, refletimos, conversamos. Sabedoria, todos, de que a vida é o exercício do possível. Não fazemos o que deveríamos fazer nem o que gostaríamos de fazer, mas o que podemos fazer.

A despeito disso, a vida é bela. Basta adicionar-lhe uma pitada de sol, pessoal e intransferível, para espancar-lhe a escuridão”.

O ex-presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais afirma ter companheiros certos em seu projeto e cita alguns nomes dos que já estão a seu lado: “ Não por acaso vieram ao mundo Seabra Fagundes, Mandela e tantos outros, testemunhos vivos de que a vida merece ser vivida.

Arraigada crença na economia do bem, aqui estamos, eu, João Luiz, Gutemberg e João Baptista, embarcados na benfazeja nave da esperança. Visionários, ingênuos, inocentes?. O tempo responderá. Outros serão bem-vindos. O barco é espaçoso, capaz de a todos acolher. É conhecido, por isso, como nave-mãe.

Realistas, verazes, determinados, os quatro reiteram: conviver, viver com, é bênção e desafio. Aquela, fruto da confidencialidade, ínsita nas amizades duradouras. Este, a exigir dos confidentes total transparência, revelados como efetivamente são, na santa nudez da verdade”.


87071
Por Manoel Hygino - 29/4/2024 09:21:20
Joaquim Cardoso

Manoel Hygino

Mesmo expirando abril, mesmo olvidando Joaquim Cardozo, não se esquece Brasília, cujo aniversário de inauguração como capital nacional se festejou sem especiais festejos no dia 21 deste mês, em que honramos a memória e sacrifício de Joaquim José. Mesmo o Tiradentes, por motivos sabidos e compreensíveis, não recebeu a homenagem sempre merecida.

Ao lado de Niemeyer, por exemplo, esteve Lúcio Costa, arquiteto, que se encarregou do conceito urbanístico da cidade-parque, hoje plenamente consolidado. Competiu-lhe, também conforme Luiz Carlos Azevedo, projetar a Torre de TV e a Rodoviária do Plano Piloto, marco Zero da capital: É por ela que a vida dos moradores do Distrito Federal se conecta com a arquitetura monumental. “Brasília é fruto da imaginação diante das pranchetas e dos cálculos de engenheiros projetistas”.

Aí entra Cardozo, o grande calculista das principais obras da cidade e poeta que o Brasil praticamente desconhecia. Seu nome foi lembrado neste 2024, em versos de João Cabral de Melo Neto e na prosa de Imprensa: "O que seria da luz de Brasília sem seu traçado e o concreto armado, em meio ao cerrado? Sim, a luz de Cardozo veio do Recife e lembra Velásquez, mas encontrou seu espaço no cálculo dos grandes palácios que encantam o mundo e faz do Plano Piloto uma cidade única e até hoje futurista. São de Joaquim Cardoso os cálculos estruturais da maioria dos prédios icônicos da capital federal, que hoje completa 64 anos”.

Eleito governador de Minas, Israel Pinheiro, terminada a missão anterior de presidir a Comissão Construtora da nova capital nacional, ao aproximar-se o final do mandato, desejava também erguer no bairro Gameleira, em Belo Horizonte, um Pavilhão de Exposições. Mostrar-se-ia tudo o que o Estado produzia e o mais que pretendia. O projeto era de Niemeyer e os cálculos evidentemente de Joaquim Cardozo. Tudo se fazia como a legislação determinava e consoante as normas de engenharia, com cálculos de Cardozo, o maior do Brasil, o que tornara viável a metrópole mais moderna do planeta.

Tudo rigorosamente acompanhado pelo próprio governador, que pela manhã, dia a dia, auscultava o engenheiro responsável sobre a consecução do projeto.

Inesperadamente, o Pavilhão desabou. Sem explicações. No Palácio dos Despachos, na Praça da Liberdade, reuniões sucessivas, presentes diretores de construtoras se disponibilizando a qualquer colaboração. Muitos mortos, feridos. Joaquim Cardozo, respondeu à Imprensa. Nada a fazer. Não conteve as lágrimas. Poetas - além de fazer versos - choram.


87064
Por Manoel Hygino - 18/4/2024 09:05:50
Ainda sobre 1964

Manoel Hygino

Não se disse tudo sobre o golpe de 1964. Ou revolução, como preferem outros considerá-la. Inúmeros os mortos, feridos, expulsos do país, fugitivos. O ambiente se caracterizara pela intolerância, pela disposição de mudar um quadro muito anteriormente esboçado e preparado.

Quando finalmente se deu largada para a publicação de um livro revelador como “Memórias: A verdade de um revolucionário”, muitos anos tinham decorrido, como bem o sustenta o próprio autor, o general Olympio Mourão Filho, com apresentação e utilização de arquivos do historiador Hélio Silva.


O general que comandou a tropa que partiu de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro, em 31 de março de 1964, confessa que ele próprio “não pretendia escrever, nem muito menos publicar este livro”.

“Explica que aqueles que assim procedem terminam sem importância, com prejuízo do geral, objeto da História; ou, ainda, dominados pela paixão despertada ao sabor dos acontecimentos, falseá-los, o que ainda é pior; além disto, como a História não é um relato puro e simples, é necessário tempo para o exame das reações e consequências, que não podem ser adivinhadas”.

Diz o velho general: “Minha intenção era deixar apontamentos relativos aos fatos, a fim de permitir a historiadores futuros, não envolvidos diretamente neles a tarefa de relatar imparcialmente os eventos, desprezando as minúcias, fazendo luz sobre o fato geral e tirando as consequências que só o futuro pode mostrar”.

Com os anos, Mourão sentiu que era dever escrever. “Para restabelecer a verdade para destruir os falsos e numerosos heróis, a começar por mim próprio, que não pratiquei nenhum, heroísmo. Para fazer aluir a pretensão de falsos chefes da Revolução”.

Afirma, peremptoriamente: “Meu verdadeiro e principal papel consistiu em ter articulado o movimento em todo o país e depois ter começado a Revolução em Minas. Se nós não o tivéssemos feito, ela não teria sido jamais começada”.

Tanto anos decorridos de 1964, ler o que conta Olympio Mourão é válido. Pairam ainda dúvidas ou controvérsias sobre a revolução/golpe, que repercute na vida, de cada brasileiro e de todos, em nossos dias, em outro século e sob outras circunstâncias.

Uma coisa é certa e insofismável. O livro do general ajuda, e muito, a entender os acontecimentos de décadas transpostas. Não sei se o volume é encontrado ainda em livraria; ou em algum sebo, talvez.





87063
Por Manoel Hygino - 16/4/2024 09:20:55
O nosso petróleo

Manoel Hygino

Josué Montello é nome consolidado como um dos grandes escritores brasileiros no século passado. Conviveu com os maiores de seu tempo, mas também com diplomatas, políticos e, enquanto se dedicava à literatura, fazia anotações em cadernos próprios, dos quais não se apartava. Confessava: "Nada mais sou do que escritor. Escritor pela graça de Deus. Não me deduziram outros títulos. Não busquei outras recompensas. E, se tivesse de reviver esta vida, queria vivê-la com igual pendor”.

Acrescenta: "Já descendo a outra encosta da vida, a nada mais aspiro do que este canto, esta folha de papel, esta caneta, estes livros e a luz desta mesma lâmpada, enquanto ouço perto de mim os passos da companheira perfeita, outra dádiva de Deus".


Concluída a sua obra como romancista, pôde voltar-se para a publicação de seus diários, valiosos pela sua qualidade literária, mas também pelo conteúdo, porque neles encontramos referências a episódios que não exigiram as numerosas e cuidadosas páginas da ficção.

No "Diário da Manhã", editado pela Nova Fronteira em 1984, Montello anotou em 16 de dezembro de 1953: "Vargas, há dois meses, deu um passo arrojado, que o restituiu aos dias em que criou Volta Redonda; assinou a lei que instituiu o monopólio estatal do petróleo, criando a Petrobras”.
No Hotel Glória, onde vou visitar o Ministro João Neves da Fontoura, este me diz, com ar consternado, ao pé da orelha, no momento em que vem deixar-me à porta do elevador:

- Getúlio semeou ventos; vai colher tempestades. A esta hora, já estou querendo ver onde me abrigar durante o temporal".

Decorridos tantos anos, decênios até, fica-se a meditar sobre o pensamento do antigo ministro Neves da Fontoura. Depois do movimento do Petróleo é Nosso, que reuniu nas capitais a juventude entusiasmada com a possibilidade de o Brasil libertar-se da dependência ao jugo óleo negro, somados aos comunistas que não eram poucos, a empresa estatal deu e dá fortes dores de cabeça aos chefes de governo. Lembre-se da Lava Jato, por exemplo, e quantos tiraram proveito dos lucros da estatal, ilicitamente.

A mais recente ou atual crise na Petrobras ganhou corpo após o seu Conselho de Administração reduzir o pagamento de dividendos, guardando o lucro de R$ 43,9 bilhões para reserva da remuneração de capital. Com isso, a União, principal acionista da estatal, deixaria de receber R$ 12 bilhões, o que desagrada ao governo de forma geral, além de colocar o nome do presidente Jean Paul Prates na mira do Ministério de Minas e Energia e de outros ministros palacianos. Esperam-se decisões importantes na reunião do dia 25.


87060
Por Manoel Hygino - 13/4/2024 08:44:04
O caso Marielle

Manoel Hygino

Não esqueceria. Um dia exatamente após meu natalício, isto é, em 14 de março de 2018, a vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados na antiga capital da República, após participarem de uma reunião política bem no Centro do Rio de Janeiro.

Foi meia dúzia de anos em investigações, em que se envolveram integrantes de várias polícias, em gestão de dois presidentes da República. Dois ministros da Justiça participaram de levantamentos diversos ao longo do tempo decorrido: Flávio Dino, desde a posse de Lula, e Ricardo Lewandowski, que assumiu o posto após o primeiro demitir-se para ingressar no STF.

Lewandowski, ainda às voltas na caça a dois fugitivos da Prisão de Segurança Máxima de Mossoró, Rio Grande do Norte, afirmou que a prisão dos envolvidos no caso Marielle, no domingo, 24 de março de 2024, “é uma vitória do Estado brasileiro, das nossas forças de segurança do país em relação ao crime organizado”. “Neste domingo chuvoso de março, a verdade começou a ser desvelada”, dizia um texto assinado por membros das famílias enlutadas.

Já na Páscoa, um domingo muito especial, a Polícia Federal prendeu os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, indicados como mandantes do crime contra Marielle e Anderson, que ocupavam elevados cargos na administração pública carioca. O primeiro era conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio e Mano deputado federal pelo partido União Brasil.

Foram também presos: o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio, e Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha, dono do ferro-velho que desmanchou o automóvel preto usado pelos assassinos, além de Ronnie Lessa, autor dos disparos, Elcio de Queiroz, que teria dirigido o carro na noite do crime e Maxwell Simões Corrêa, o Suel, que participou pessoalmente com medidas oportunamente necessárias, inclusive no desaparecimento da arma utilizada.

Com as prisões, a Polícia Federal considerou encerrada a apuração sobre os mandantes, intermediários e executores do duplo assassinato; Andrei Rodrigues, observa contudo: “Isso não impede que outras situações sejam analisadas”. Andrei é diretor-geral da Polícia Federal atualmente. Ainda: o delegado Rivaldo Barbosa foi demitido da Universidade Estácio de Sá, em que era professor de Direito desde 2003.

E agora: vai-se esperar mais seis anos?


87056
Por Manoel Hygino - 10/4/2024 09:01:42
Apenas uma morte

Manoel Hygino

Esta é uma das funções da Imprensa: fiscalizar as ações do poder público; em suas inações, o que é muito comum. Basta que se acompanhe a sujeira de ruas nas cidades, a intolerância flagrante, a violência crescente, o desrespeito ao patrimônio histórico ou aos monumentos recém-implantados. Uma tristeza de doer.

Por esta coluna, há cerca de dois anos, tecemos elogios à assinatura e ao contrato para construção de uma grande ponte sobre o Rio São Francisco, entre os municípios de Pintópolis e São Francisco, com 1.130 metros de comprimento, de vital importância para toda aquela região, cenário das aventuras de Antônio Dó, personagem do escritor Petrônio Braz, prefeito de várias cidades e conceituado advogado.

Passada a Páscoa, lendo as mesmas folhas, verifico que as obras da ponte estão interrompidas desde a primeira metade de 2023, pois cancelado o contrato com a firma, quando apenas 20% foram concluídas. Uma lástima.

Seriam empregados na construção 11,1 milhões, o que dá uma ideia de sua grandeza e do que ela representaria para toda a área de sua influência, cuja população terá de voltar a fazer a travessia nas lentas balsas de anteriormente, retardando o transporte entre as margens do rio da unidade nacional.

O DER-MG informa que vai abrir licitação para a finalização, mas até que as providências legais sejam concluídas mais tempo será consumido e não há previsão para retomada da construção.

O prefeito de Francisco Sá, Levy Lopes, diz que a interrupção das obras "desacelera o progresso do município". O secretário-executivo e coordenador da Defesa Civil de Pintópolis, Nilson Pereira Ruas, lamenta que os moradores, incluindo os pequenos produtores rurais, tenham de pagar a conta do atraso.

Segundo ele, sem a ponte, tudo fica mais difícil. "Temos problemas diariamente para a travessia de balsa. Às vezes, as pessoas precisam esperar até três horas para cruzar o rio". Aquele expressivo território de Minas Gerais pode perfeitamente adquirir maior importância e muito beneficiar o estado e os que o habitam. Quem lê a história da região conhece as dificuldades e os desafios que ela tem enfrentado desde os anos 1.500. É isto mesmo. Aquele pedaço do chão mineiro é sobremodo valioso em termos de história, teremos de esperar mais, no entanto.


87052
Por Manoel Hygino - 9/4/2024 09:02:23
A América ainda

Manoel Hygino

Constitui sempre problema falar sobre os países latino-americanos, em face das reiteradas mudanças de governo e de presidentes. É o caso, por exemplo, do Equador, que tem menos de 280 mil quilômetros quadrados e que já foi tido como território de paz e cordialidade.

Com população predominantemente cristã e menos de 14 milhões de habitantes, viveu um período bastante longo e firme, com economia baseada em produtos agrícolas exportáveis como café, cacau e predominantemente, bananas, de que é um dos maiores produtores mundiais e de venda externa.

Com 50% de seu petróleo exportado, o Equador esteve em apreciável tranquilidade interna e adotou o dólar como moeda oficial, depois de grande crise econômica em 2020. Mais recentemente enfrenta o narcotráfico, que conduz a população ao medo e a regimes políticos de instabilidade.

Na primeira semana de abril, registrara-se uma nova onda de violência, que provocou três massacres em dois dias. O país, de passado relativamente tranquilo, pois, está mais recentemente sob comando de quadrilhas que disputam violentamente as rotas do narcotráfico.

O ciclo de violência causou o aumento da taxa de homicídios, que cresceu de 100 mil habitantes em 2018, para o recorde de 43 por mil habitantes para 100 mil em 2023.

As agências informativas publicam que o primeiro massacre foi numa sexta-feira, antes da Semana Santa, quando quatro pessoas, entre as quais um militar, foram assassinadas na cidade de Manta, departamento de Manabi. Logo em seguida, outro ataque se registrou na área de Guasmo, na cidade de Guayaquil, Sudoeste do Equador e a maior cidade do país. Oito pessoas foram mortas a tiras a tiros e outras oito ficaram feridas e estão sob proteção policial.

Um grupo de turistas também foi assassinado em uma praia do Sudoeste por traficantes. Ao presidente Daniel Noboa, que decretara estado de exceção, restou enviar condolências às famílias das vitimas. Assim, somos na América.

O grupo de turistas não tinham vínculos com organizações criminosas, mas os agressores “aparentemente teriam confundido esses indivíduos com seus adversários na disputa pelo micro-tráfico na região”.

Em verdade, o estado de exceção não conseguem evitar o pior no continente que Colombo, bem mais ao Norte, descobriu.


87055
Por Manoel Hygino - 6/4/2024 07:32:55
Meu amigo Pedro

Manoel Hygino

O presidente da Academia Mineira de Letras, Jacyntho Lins Brandão, não deixa a peteca cair. Para a Semana Santa, programou um belo programa, para a terça-feira, 26 de março. Deste modo, a partir das 19h30, recebeu Tadeu Sarmento para uma palestra do escritor pernambucano sobre um tema que passa quase ignorado pelos interessados na história nacional.

Tadeu Sarmento tem 47 anos, já editou 13 livros, entre romances, contos, poesia e biografia e já conquistou vários prêmios importantes, o que é uma distinção a que muitos aspiram na difícil existência de escritor.

O autor, com propriedade, discorreu sobre seu livro mais recente "Meu amigo", lançado pela editora Abacatte, em que resgata interessantes momentos e fatos da vida do primeiro e único imperador nascido no Brasil. O escritor da terra de Gilberto Freyre conta a difícil infância de Pedro II, sem brinquedos, marcada por rotina de obrigações e estudos que o tornaria o mais jovem imperador da história. Segundo os editores, o volume é um convite a que os jovens reflitam sobre o direito das crianças à sua própria infância.

Em 1841, um dia antes de ser coroado imperador do Brasil aos 15 anos de idade, Dom Pedro II foge do palácio na companhia de Gato, amigo fiel e filho do sapateiro real, para viver seu único dia de criança pelas ruas e praias da cidade do Rio de Janeiro do século XIX. "Dom Pedro II foi de fato um personagem controverso de nossa história, ou um personagem importante (...) Culto, progressista e apaixonado pelo país, o imperador foi, sobretudo, uma criança que não teve infância, ou um garoto cuja infância foi roubada pelas altas expectativas que tinham a seu respeito".

Segundo Tadeu Sarmento, o progressista Dom Pedro II, seu amor pelo Brasil e sua simpatia pela causa abolicionista fazem crer que a história contada em "Meu amigo Pedro é possível, ou absolutamente verossímil”.
O direito à infância é tema principal também em mais três livros escritos pelo autor, com foco nos jovens leitores: "O cometa é um sol que não deu certo”, (infâncias interrompidas pelo abuso sexual); “Sundiata, o filho de Sogolon” (infâncias interrompidas pela alta expectativa dos adultos em relação aos filhos). "Garantir o direito à infância de todas as crianças é garantir um futuro em que adultos tenham sido crianças que não precisam envelhecer rápido e que, por isso, se tornam saudáveis", concluiu.

Tadeu Sarmento, a despeito de tudo o que já produziu, ainda não goza do prestígio a que faz jus, em quase cinco décadas de produção.


87050
Por Manoel Hygino - 3/4/2024 10:31:10
A porteira do crime

Nenhuma hora seria mais propícia ao esclarecimento de numerosos casos pendentes de solução no âmbito da administração pública do que a que ora o Brasil chegou. Penso que as revelações do caso Marielle desperta a nação que não queria mais acreditar na Justiça diante das delongas que conduziam às prescrições ou ao cancelamento de pesadas punições que se aplicariam aos temíveis beneficiários de indevidos favores públicos. A ascensão de um novo procurador-geral da Justiça indica simultaneamente a possibilidade de dar fim e punir os criminosos que imensos prejuízos causaram e causam ao patrimônio e tesouro públicos. Lembrei aqui, há algum tempo, o caso da J&F, que é apenas um entre tantos casos.

Em fevereiro último, o jornalista e professor Aylê-Salassié Filgueiras Quintão, atento ininterruptamente, também ingressou no indigesto assunto, mais uma vez, com coragem. Registrou, então: “Nesses dez a quinze anos, tempo de três a quatro mandatos presidenciais, e metade do tempo das aposentadorias no Supremo Tribunal Federal, se se somar os desvios de recursos públicos da Lava Jato e do Mensalão - este sempre lembrado na discussão das tais emendas parlamentares -, a soma dos dois inquéritos políticos policiais representaria um prejuízo ao Tesouro Nacional superior a 20 bilhões de reais. Para ficar na Lava Jato. Cinco anos de investigação, 285 condenações, 600 réus e 3.000 anos de penas de prisão. Só no STF foram 300 inquéritos e deflagradas 60 fases desde 2014. O fato está registrado na História do Brasil, na mente e no coração dos brasileiros como a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro ocorrida no País. A Lava Jato gerou a expedição de 1250 mandados, 140 condenações e detectou logo R$ 800 milhões desviados só dos cofres da Petrobras. O rombo generalizado é muito superior e está tipificado, como crime, na legislação, conforme mostram pesquisas de duas jornalistas ligadas ao campo jurídico, Brenda Lícia e Heloisa Sousa, seguindo o relatório da Lava Jato(...).

A investigação da Lava Jato gerou quase 2.000 ações de buscas e apreensões pela Polícia Federal, resultando em 244 ações penais, 349 prisões preventivas e 211 prisões temporárias. Ao todo, foram denunciadas 981 pessoas, entre empresários, líderes políticos, ministros, inclusive dois presidentes da República”(...).


87048
Por Manoel Hygino - 2/4/2024 11:18:34
Justiça criticada

Manoel Hygino

Tem absoluta razão. Refiro-me ao desembargador José Arthur Filho, presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em recente entrevista. Ele se referiu a problemas enfrentados pela Justiça em nossa época. Um deles - é o mais comumente lembrado - é de que é lenta e termina pela delonga e resultando em injustiça. Com sua prudência e com coragem, não fugiu às críticas, tanto que admitiu a necessidade de uma revisão do que existe para melhor servir à sociedade.

Em verdade, para avaliar a posição correta de sua opinião, bastaria acompanhar os fatos cotidianos pelos veículos de comunicação. Tudo leva a crer que o Brasil não anda porque todas as questões, por mínimas que sejam, são praticamente transferidas ao Judiciário. Diante disso, o Estado se inclina à indesejável situação de a gestão pública se estagnar no campo do Executivo e Legislativo, impedidos de ação por sua transferência ao Judiciário.

A questão não é do juiz ou da Justiça, mas do sistema. Eis o que disse o magistrado: “O sistema de justiça hoje é um sistema falido e precisa ser repensado, por isso, entram as mediações e conciliações. Há também um aspecto cultural. O brasileiro tem que levar menos questões para o Judiciário, tentar conversar mais, ampliar a escuta e o diálogo. Hoje, qualquer problema que se tenha com um vizinho, uma batida de carro, vai para a Justiça”.

“Eu confio muito nas mediações e conciliações. A sentença não é pacificadora, ela tem, às vezes, potencialismo ao litígio. Já as mediações e conciliações, essas, sim, são pacificadoras, porque as partes passam a ser protagonistas do seu próprio destino. Elas é que fazem, através desse consenso, uma decisão que fazem, através desse consenso, uma decisão que seja mais justa ao olhar delas próprias. Então, temos inclusive incentivado muito o Judiciário nesta área”.

A propósito, lembro o artigo publicado em folha belo-horizontina, há bem tempo, que recebeu o forte título de “Falência do Judiciário”, (mas tinha razão), de autoria do professor Antônio Álvares da Silva, professor da Faculdade de Direito da UFMG. Referia-se ao malsinado Mensalão. É que, na condição de revisor do processo, Lewandovski confessou que possivelmente não teria condições de julgar os réus a tempo de impedir prescrições.

Explicou-se: só o relatório do ministro Joaquim Barbosa, relator, tinha mais de cem volumes e já sofria quatro embargos de declaração, 17 embargos regimentais e oito questões de ordem, quase todos negados. Lewandovski, hoje ministro da Justiça, afirmou então que, na condição de juiz, não poderia condenar ou inocentar ninguém.


87044
Por Manoel Hygino - 30/3/2024 07:18:56
Urucuia avança

Manoel Hygino

Urucuia conta agora com uma Academia de Letras, o que conduz automaticamente à convicção de que a cidade cresce não apenas economicamente. Eis uma boa notícia que compartilho com a população e, especificamente, com o presidente da entidade Napoleão Valadares, que lá tem berço e com os demais cidadãos que tomaram o mesmo barco. Urucuia tem liames sólidos com Montes Claros, minha unidade natal, unidos, histórica e geograficamente pelo rio São Francisco, que corre para o Norte em território mineiro. Somos água da mesma fonte e muito nos orgulha.

Urucuia tinha e tem tudo para desenvolver-se exponencialmente, contando com a fertilidade do solo e a operosidade de gente que não descansa. Se o São Francisco é um grande caminho da civilização brasileira, fonte de vida e de riqueza, nascido cristalinamente na serra da Canastra para diversificar-se em vários rumos e sentidos, os que vivem à sua margem também foram presenteados com o solo que muito contribui e mais contribuirá para maior desenvolvimento ou retardará. Estão abertas as vias do progresso não restritas evidentemente aos bens materiais.

As povoações geradas às margens da grande corrente se tornaram pródigas em benesses a seus moradores. Poder-se-ia evocar Caminha, que antevia que, naquelas terras, em se plantando tudo nelas renderá. Com o desenvolvimento regional, que tanto já exigiu em forças e sacrifícios, o urucuiano conscientizou-se de que, embora muito materialmente se usufruirá da bondade do solo e da dedicação do homem, há ainda imensamente a aproveitar-se das populações que ali se assentaram em suas manifestações culturais, artísticas e literárias.

Há uma vocação natural para expressão de sentimentos, descrição de episódios passados, mas não pretéritos, visando à perenidade ao que se conseguiu ao longo de décadas, representadas em vidas e obras. Para esse prolongamento dos efeitos do tempo, unem-se, a partir de agora, os urucuianos com sua notória e natural disposição de preservar e venerar o belo e duradouro.

A população está cônscia da importância de sua Academia em benefício da cidade e de seu progresso, inclusive pela escolha de um timoneiro à altura das tradições, ideais que nortearam e norteiam os pródigos filhos de uma das mais belas e progressistas regiões da velha província.


87041
Por Manoel Hygino - 27/3/2024 07:58:43
As várias Minas

Manoel Hygino

Minas não é única, sob muitos aspectos. Basta ler um pouco de sua história para confirmar a veracidade. Não sem razão se tem propalado que Minas são várias, como consagrado por conceituados escritores. Neste março, por exemplo, constatamos como são múltiplas estas terras e gentes.

Em meados do mês, para gáudio geral e felicidade de todos os segmentos, tomou-se conhecimento de que, pela primeira vez na história, o PIB de Minas ultrapassou a casa de R$ 1 trilhão. De acordo com a Fundação João Pinheiro, inteiramo-nos de que a economia mineira cresceu 3,1% em 2023 relativamente ao exercício anterior. O nosso Produto Interno Bruto alcançou resultado tão memorável, que certamente agradaria a ambos governantes.

É confortável apreciar os números e percentuais e conferir que eles decorrem do aumento de nossa produção mineral e do agronegócio, evidentemente sem esquecer o desempenho da indústria de transformação.

O atual governo mineiro se exulta, e não poderia ser de outra maneira, tanto que o chefe do Executivo sublinha que o Estado tem crescido acima da média nacional.

Entretanto, a felicidade não é permanente e total. É o que se demonstra com outros números e áreas. Apanho o pré-título de matéria em jornal belo-horizontino: com quase 54 mil casos prováveis e 21 mortes já confirmadas, incidência da chikungunya segue nas alturas e pode mais elevar-se. Já se registraram 82.714 casos prováveis no país e Minas atinge 53.972 também prováveis, que podem ser menos ou mais, conforme anunciará o Ministério da Saúde tão logo conclua o monitoramento.

E não se trata somente da doença cujo nome é um desafio de digitação para repórteres ou redatores. Há também a dengue. Até o dia 14 deste março findante, conforme o Painel de Monitoramento das Arboviroses da Secretaria de Estado da Saúde, foram notificados 577.229 casos prováveis de dengue em Minas Gerais, dos quais 211.768 confirmados. Há 354 óbitos em investigação e 88 confirmados. A letalidade da doença é de 2,58% sobre os casos de dengue grave ou com sinais de alarme.

Quanto ao vírus zika, há 122 casos prováveis e 14 confirmações. Esse número é o mesmo há dois dias. Entretanto, a SES-MG informa que, desde 2018, não há casos confirmados de zika por métodos diretos de identificação viral, o exame RT-PCR. Por isso, os municípios são instruídos a fazer uma avaliação bastante criteriosa e, após essa investigação, alguns casos são reclassificados por não atenderem critérios para mantê-los como confirmados.


87039
Por Manoel Hygino - 23/3/2024 07:05:12
Marinha em ação

Manoel Hygino

Caminha para meio ano a verdadeira guerra iniciada com a empreitada a que se decidiram fortes dispositivos terroristas do Hamas, na invasão de território israelense, em outubro de 2023. Desencadeou-se, a partir de então, violento conflito com Israel, que já deixou mais de 33 mil vítimas. A exploração política da guerra Hamas-Israel ganhou mais do que espaços na imprensa, porque espargiu sangue em toda a região, historicamente bélica.

Não se dá maior importância aos fatos, mas o Brasil também se envolve na questão. Não simplesmente por manifestações públicas do presidente Lula sobre o evento, resgatando animosidades históricas como o holocausto patrocinado por Hitler, que resultou no extermínio de mais de seis milhões de judeus.

Aquele pedaço do mundo é palco de guerras de todas as dimensões, ao longo dos séculos. A região é ligação geográfica entre nações e grupos diversos, como somos cansados de saber. Hoje, há uma barafunda de navios de guerra, comerciais e porta-aviões ingleses e americanos, trocando dezenas de bombas e mísseis com grupos rebeldes houtis. Estes são milicianos armados fortemente e prontos para enfrentamentos em qualquer dia e hora.
O que temos com isso? É o que se perguntaria, respondendo-se de imediato com as informações precisas de Aylê-Salassié Filgueiras Quintão, professor da UnB e jornalista conhecedor do problema. Os somalis justificam suas atividades clandestinas, sob alegação que agem em favor da proteção ambiental no golfo usado como depósito de lixo para navios, às dezenas, que transitam por ali ou por ali atracam.

A Marinha do Brasil, além de pretender dar sua contribuição ao estabelecimento da paz no Golfo de Áden e o retorno à normalidade ao tráfego mercante, foi indicada para liderar um grupo de embarcações de fiscalização e rastreio das ameaças latentes na região, entre as quais estão cargueiros brasileiros que trafegam por ali transportando produtos exportados e importados, inclusive para a China, maior parceiro comercial do Brasil. Os piratas atacam à noite, sorrateiramente e agem com violência.

Nossa gloriosa força de mar, reaparelhada pelos norte-americanos na 2a. guerra, tem participado indiretamente de guerras até perseguição e 66 ataques a submarinos alemães, e realizou missões de guarda de comboios para o Norte da África e no mar Mediterrâneo. Entre 1942 e 1945, foram comboiados cerca de 3.164 navios, sendo 1 577 brasileiros e 1.041 norte-americanos. Ultimamente, comboiou o equivalente a 50 navios mercantes brasileiros.

A Marinha é a mais velha das forças armadas brasileiras. Dispõe de cerca de cem embarcações.


87034
Por Manoel Hygino - 19/3/2024 09:13:22
A dívida de Minas

Manoel Hygino

O cidadão me confessou ter medo de ler as notícias de jornal quando se referem às dívidas de Minas. De um dia para outro, os números crescem espantosamente, e se fica sem saber que se leu a notícia com correção, se a entendeu bem ou se houve algum equívoco na compreensão do texto.

Recorro a um dos diários do domingo, 10 de março deste 2024, ano de eleições municipais no país. Eis: “A dívida pública de Minas Gerais já chega a quase R$ 171 bilhões, de acordo com dados da própria Secretaria Estadual da Fazenda (SEF), que atualizou recentemente os débitos do Estado. Esse valor pode até ser maior, pois os números se referem às informações de dezembro passado, quando o Estado fechou o ano fiscal. O valor exato da dívida, atualizada em dezembro passado, é de R$ 170.829.708.709.83, números que superam a previsão do Estado para a arrecadação deficitária deste ano, estimada em R$ 115,4 bilhões, frente a uma despesa prevista de R$123,5 bilhões”.

O contribuinte, pobrezinho, queda pensativo sobre a utilidade do quinhão diminuto ao bolo total da receita. “Adianta eu dar uns poucos reais, se o débito é tão grande? Eu transfiro essas migalhas aos cofres públicos, se o volume do débito é imenso”?

Considerações assim passam pelo raciocínio de cada e de todo cidadão que se sacrifica, às vezes, para não falhar com o fisco estadual. E vem, inapelavelmente, a pergunta crucial:

- Como chegamos a esse ponto? Sem querer ingressar no quintal dos maus julgamentos, indaga-se se houve desvios, de quem foram, quando e quanto representam, como devemos agora proceder? Não podemos deixar que o glorioso Estado se afunde mais no buraco sem fim.

O pior é que, além dos valores referidos, ainda há muitos outros débitos que precisam de quitação. Em decorrência, novas indagações aumentam na cabeça do contribuinte. Porque se tem também de quitar compromissos com o BNDS, CEF, BNB e Bird. Dentre outros, é claro.

E o redator do texto também tem o direito de querer acrescer algo ao já dito pelo contribuinte. Lembrou-se de Eduardo Frieiro e de um capítulo em seu “O Diabo na livraria do Cônego”. No primeiro parágrafo, lá está: “Uma das patranhas da nossa história, tal como usualmente se conta nas escolas, é a da pretendida riqueza e até mesmo opulência das Minas Gerais na época da abundância do ouro. Em boa e pura verdade nunca houve a tão propalada riqueza, a não ser na fantasia amplificadora de escritores inclinados às hipérboles românticas”.

Mas os tempos são outros, não são?


87033
Por Manoel Hygino - 16/3/2024 07:19:53
Passado imperdível

Manoel Hygino

Não se pensaria que a posse de Conceição Evaristo na Academia Mineira de Letras arrefeceria o ânimo que transborda no palacete Borges da Costa, após ingresso da antiga moradora do Pindura Saia no caso do celebrado (com todos os méritos) médico. Antes pelo contrário, pode-se afiançar.

Já nos últimos dias de fevereiro bissexto, o presidente da Academia Mineira de Letras, Jacyntho Lins Brandão, anunciava o início da série “Encontro com os Clássicos – Viagens e Literatura”, que ele ministrará na Universidade Livre da entidade. O primeiro módulo do curso, intitulado “Literaturas Antigas e Medievais”, será realizado no formato híbrido (presencial e virtual) desde este março até junho, com encontros nas noites de terça-feira ou pela plataforma Zoom.

Neste espaço de jornal, escreve-se sobre tudo, porque há campo para todos os temas e preferência de leitores. Mas não posso deixar de realçar que, no dia 12, programou-se a Descida de Inana, um poema sumério do século XVII antes de Cristo e a Descida de Ishtar, um poema babilônico do século XII antes de Cristo. Não há algo mais atraente, mas em junho será a vez da vida de Apolônio de Tiana e Pseudo-Calitene, romance de Alexandre, ambos do século III d.C., e de Marco Polo, com o Livro das Maravilhas, do século XIII, e de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”, do século XIV. Algo maravilhoso, para quem aprecia.

Segundo ponto: Não posso deixar de registrar, embora de passagem, a Semana de Arte de 1922, que constituiu um marco importante na vida cultural, artística e mesmo histórica e política do Brasil. Haverá ocasiões em próximas edições para estender comentários, porque ainda estamos no terceiro mês deste 2024, que celebra o centenário da visita que nos fizeram artistas brasileiros e não brasileiros, que se exponenciaram no movimento modernista e, a partir de Minas, deram nova significação à arte nacional.

Os visitantes que vieram conhecer cidades históricas, monumentos e artistas como o Aleijadinho descobriram nas coisas antigas o Brasil que desconheciam. O acadêmico Ângelo Oswaldo tem excelentes contribuições sobre o tema, inclusive na Revista da Academia Mineira de Letras. Não se deve, tampouco, deixar de consultar “Uma tristeza mineira numa capa de garoa”, belo livro de Ivana Ferrante Rebello e Fabiano Lopes de Paula, resgatando o papel de Agenor Barbosa, um poeta mineiro que brilhou na Semana de Arte Moderna, em 1922, em São Paulo.

Pelo que se apreende, pois, há muito de que podemos e devemos aproveitar: no passado distante, ou mesmo entre as montanhas de Minas.


87028
Por Manoel Hygino - 13/3/2024 08:00:13
Jequitaí em festa

Manoel Hygino

Um sonho antigo, uma imposição de toda uma região que aguardou durante dezenas de anos: o projeto hidroagrícola de Jequitaí, demanda histórica do Norte de Minas, foi leiloado, com expectativa de investimentos de R$ 1,51 bilhão, no qual se incluem os custos de implantação de duas barragens de usos múltiplos no rio Jequitaí. Os que primeiramente quiseram ver concretizado o sonho não mais existem. Seus netos verão consumado o ideal de mais de uma geração.

Segundo a Codevasf, à qual se incumbiu o empreendimento, ele poderá beneficiar em torno de 150 mil pessoas na área de sua influência, principalmente nos municípios de Jequitaí, Francisco Dumont (antigo Conceição do Barreiro) e Claro dos Poções.

Graças ao propósito alimentado por mais de meio século, será implantado um sistema de irrigação de áreas agrícolas e se contribuirá para regularização do vazão do São Francisco, que crescentemente tem de manter-se como rio da unidade nacional.
Será a realidade, que terá de esperar mais 48 meses, portanto quatro anos, para tudo se concluir. Em todo caso, para quem tanto esperou, acrescentar um tempo a mais se transformará em tanto gáudio para quem tanto nutriu expectativas.

Daqui a cinco anos, praticamente, se dará o desencadear do processo de desenvolvimento regional através da produção agrícola e geração de empregos. A estimativa é de 84 mil vagas diretas ou indiretas após o empreendimento. E mais: como observou o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, se melhorará significativamente a realidade clamante da seca no Norte de Minas. Textualmente, eis sua palavra: “As barragens vão permitir o desenvolvimento da agricultura irrigada em aproximadamente 35 mil hectares no Norte de Minas”, disse, acrescentando que serão produzidos cerca de 20 megawatts de energia limpa e renovável, “o suficiente para abastecer cerca de 200 mil pessoas”.

Os que atravessaram tantas décadas imaginando a grandeza e a beleza do rio Jequitaí, com suas águas descendo ruidosamente na região bendita do Cachoeirão (um substantivo tão valioso para os moradores da área), daqui a um quinquênio agradecerão a Deus por terem atravessado anos tão penosos para sentirem os benefícios que o progresso traz.

Para sempre, a população será brindada com a irrigação, que constitui um dos objetivos do projeto. É que, segundo os números anunciados, o empreendedorismo possibilitará a formação de um reservatório de 9.100 hectares, com potencial para irrigar 10 mil hectares de início, embora possa alcançar 35 mil.

Pena que Daniel Fonseca Junior não esteja mais vivo para saudar, com sua sensibilidade e euforia oratória, o futuro que enfim chegou.


87026
Por Manoel Hygino - 12/3/2024 09:23:39
Cem anos sempre

Manoel Hygino

Há dois ou três meses, foi publicado o livro “São Lucas, O Hospital: 100 Anos de Assistência à Saúde”, para celebrar o centenário de inauguração do prestigiado estabelecimento belo-horizontino, que tanto tem servido a Minas em seus decênios de funcionamento. A publicação agradou aos seus leitores, inclusive por trazer à memória nomes expressivos das ciências médicas no Estado. Mas com a edição não se esgotou o assunto.

Agora mesmo, fico sabendo que o São Lucas – Hospital Particular e Convênios, braço da saúde suplementar da Santa Casa, a que historicamente pertence, fez entrar em funcionamento seu novo Centro de Diagnóstico e Tratamento, que absorveu investimentos de R$ 6 milhões. A iniciativa possibilitou novos exames em hemodinâmica, com foco em Cardiologia, Neurologia e Radiologia Intervencionista, cumprindo seu compromisso e pioneirismo em atendimento.

Foi um dia de generalizada alegria, na solenidade presidida pelo provedor Roberto Otto Augusto de Lima, da Santa Casa BH. Então, ele reafirmou a tradição do corpo clínico do Hospital São Lucas na oferta de tratamentos inovadores com a excelência de sua estrutura. Assim, o hospital se esmera em propiciar saúde de ponta.

Vitória Bispo, gerente do CDT, elogiou a revitalização do serviço e a incorporação de equipamentos para assistência de alto padrão no diagnóstico e prevenção em diversas doenças, incluindo colonoscopia e hemodinâmica. Entre as principais inovações, destacou-se o moderno angiógrafo Siemens Artis Zee, que viabiliza procedimentos terapêuticos e diagnósticos minimamente invasivos, elevando a qualidade do atendimento. O aparelho revoluciona o diagnóstico e o tratamento de doenças cardiovasculares, mapeando anormalidades e prevenindo condições graves, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC), além de possibilitar procedimentos intervencionistas, como drenagens, embolizações, quimioembolizações, dentre outros.

A superintendente assistencial, dra. Raquel Felisardo, disse estar muito feliz e emocionada. “Hoje é um marco para toda a sociedade, mas também para todos os profissionais do hospital, em especial aqueles que estiveram envolvidos no projeto de revitalização do CDT. Foram reuniões, vários projetos sempre pensando em oferecer o melhor para os nossos pacientes. Além disso, esse ano teremos mais novidades, aguardem”. Aliás, o diretor técnico do hospital, dr. Pedro Augusto Macedo de Souza enfatizou que esta é mais uma etapa do “Projeto São Lucas 100 anos”, visando modernizar e aprimorar as instalações do hospital, oferecendo ambiente para a prestação de cuidados de saúde de vanguarda.





87024
Por Manoel Hygino - 9/3/2024 07:52:13
Esperando paz

Manoel Hygino

No momento dificílimo que a mundo atravessa, com ênfase pela guerra no Oriente Médio, ouço o deputado federal Patrus Ananias, ex-ministro de Lula, e ele se abre: “Tenho vínculos históricos e profundos com o povo judeu e a tradição judaica, assim como com os povos árabes e palestinos. Sou neto de libanês. Sou leitor da Bíblia desde a infância, quando comecei a me abrir para as questões políticas, inspirado pela vida e pelos ensinamentos de Jesus”.

Adiante diz o parlamentar: “Lembremos o sonho, ainda não realizado, de Martin Luther King, nele inspirado: “Sonho que um dia todos os montes serão rebaixados, todos os vales serão exaltados; os lugares inóspitos serão aplainados”. Isaías, em muitas passagens, antecedeu Jesus nos anúncios da justiça e da paz: “Eu trarei paz como um rio (…)”.

Muito aprendi com os Livros Proféticos e Sapienciais. Os Salmos, em boa parte atribuídos ao rei Davi; os Provérbios, a Sabedoria de Salomão – outra figura contraditória e intrigante – Eclesiástes…¹

Chegamos a Jesus, o Príncipe da Paz, que nasceu e viveu em territórios onde se encontram judeus e palestinos. Andou também pelo Egito. Jesus, o judeu-palestino, abre os olhos e o coração para o mundo: “Bem-aventurados os que promovem a Paz”.
Saltemos agora dois mil anos de história. Os judeus dispersos pelo mundo, maltratados e vistos com preconceito. Por outro lado, os árabes-palestinos também não tiveram boa vida. Enfrentaram as Cruzadas, “guerras santas”, o colonialismo e a exploração europeia. No caso dos judeus, a violência atingiu seu ponto culminante com o genocídio nazista – um dos maiores crimes, senão o maior da história da humanidade. As memórias de Anne Frank tocam o coração e nos acompanham para sempre!”.

À frente, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Patrus, analisa o quadro de Israel na geografia do outro lado do Mediterrâneo:

“Atravessamos as guerras, tristemente presentes desde a criação do Estado de Israel; a Guerra dos Seis Dias, em 1967; os territórios palestinos invadidos e ocupados. Chegamos aos nossos dias. O atentado terrorista do Hamas matando e sequestrando pessoas totalmente indefesas. Inaceitável o número de mortos e sequestrados! O que nós estamos assistindo, através das imagens dos meios de comunicação (e aqui presto homenagens às transmissões da TV França, focada na América Latina), é estarrecedor! Não se trata de uma guerra contra o Hamas, mas sim de uma guerra de Israel, poderosamente armado, contra o povo palestino”.


87022
Por Manoel Hygino - 6/3/2024 09:25:18
Guerra e eleição

Manoel Hygino

Transcorridos dois anos, Rússia e Ucrânia continuam numa guerra que apenas acrescentou número de mortos e problemas financeiros para ambas. O presidente da primeira jamais quis empregar a palavra guerra. Tratava-se, em seu entendimento, de “uma operação militar especial para defender repúblicas separatistas pró-Rússia”.

Ninguém ganhou ou o que quer que seja nesse conflito, já considerado o maior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, de que ninguém conserva boas memórias. Antes pelo contrário. O Kremlin, agora, pode contar como vantagem unicamente a ocupação de territórios antes independentes.

A situação das populações se torna mais difícil dia a dia, mas isso é apenas um detalhe na maneira de Putin considerar os acontecimentos. Cerca de 1,3 milhão de ucranianos, de um total de 6,5 milhões deslocados do país, se refugiaram. Problemas aumentam mais e mais em ambos os lados do conflito, sem perspectivas de paz.

Os jornais de todo o mundo são unânimes em suas opiniões, assim como os mandatários dos países, europeus principalmente: “Do ponto de vista econômico, os prejuízos são consideráveis para ambos os países. Na Ucrânia, as perdas passam de US$ 137 bilhões, segundo cálculos da Kyiev School of Economics, e os gastos militares projetados para este ano somam US$ 40 bilhões. Do lado russo, Moscou sente os efeitos de dois anos de sanções financeiras e contabiliza US$ 300 bilhões em reservas congeladas no exterior.

Embora a situação interna na Ucrânia se torne mais difícil, o mesmo se poderá avaliar do quadro interno na Rússia, inclusive pela morte, na Sibéria distante, do principal líder da oposição a Putin. As centenas de prisões realizadas o demonstram à suficiência, embora o natural silêncio do Kremlin.

Pesa, ademais, no caso russo, o fato de faltarem apenas semanas para a eleição de um novo presidente, o que põe Putin com as barbas de molho. Não deixa de pesar também o vultoso número de baixas já registradas em seus contingentes bélicos. Segundo os ucranianos, até agora foram 315 mil baixas do lado russo, o que influencia no psicológico da imensa população que ainda apoia a campanha na Ucrânia, ou que não encontra razões para se sacrificar em um conflito que não diz de perto à sociedade nacional.

Se depender de Putin, a guerra continuará até a vitória da Rússia. Mas o irredutível presidente da Ucrânia, Zelenski, acha que o triunfo poderá transferir-se a Kiev.


87020
Por Manoel Hygino - 5/3/2024 07:56:57
As chuvas chegaram

Manoel Hygino

Belo Horizonte ficou atrás no tempo. Montes Claros, a mais economicamente vigorosa cidade do Norte de Minas, passará a sua frente com a construção de uma concha acústica no espaço novo da Praça dos Jatobás, no bairro Morada do Sol, nome que muito se enquadra nas virtudes da natureza e do clima da região.

A capital mineira chegou a construir uma, há anos, mas problemas técnicos impediram seu funcionamento. A metrópole do Norte ganhou a vez, atendendo a carência da cidade por espaços públicos culturais. Assim a Concha será ali erguida para utilização em eventos, nos termos do Programa de Investimento no Cidadão, lançado pela Prefeitura, com valor previsto que se aproxima de 2 milhões de reais.


Um detalhe: a conclusão será em seis meses, de modo a confirmar o título de MOC como a “cidade da arte e da cultura”. Para o vice-prefeito de Montes Claros, o empreendimento melhorará os índices de desenvolvimento da grande cidade em população no estado. Promoverá e participará da vida cívica, social e artística e será palco de eventos comunitários, atividades educativas e promovendo atividades de escolas e demais organizações locais.

Foi um bom registro a fazer no ocaso de fevereiro/princípio de março. O outro resulta da notícia que transmite José Ponciano Neto, técnico em Recursos Hídricos/Meio Ambiente, com uma bela titulação também no campo literário. Anunciou: “Ufa, até que enfim!.. Barragem de Juramento transbordou”.

Depois de onze anos, a barragem quebra o jejum e chega ao nível máximo de sua capacidade. Aconteceu em 22 de fevereiro, pondo fim à ansiedade da população de Montes Claros e do próprio pessoal da Copasa, diretores e colaboradores. Explica-se: com capacidade de 45 milhões de metros cúbicos, desde dezembro de 2010, ela não alcançava plenitude 100%.

A pirraça das chuvas se deveu às mudanças climáticas dos últimos anos, segundo alguns especialistas, embora o técnico Ponciano considere que se trata de antropocentrismo. Isto é, um caso de ocorrência de ciclos naturais do sol-lua e da inclinação axial da terra (eixo). Em resumo, são as chuvas recidivas de 50 a 100 anos, que vêm acontecendo pelo mundo afora a cada ciclo, inclusive no Brasil. Traduzindo, nos dois últimos anos, o mundo vem sofrendo inundações vorazes, mas – se se verificar com diferentes métodos – estas chuvas já estavam previstas. Demoraram, mas chegaram.


87019
Por Manoel Hygino - 2/3/2024 09:14:01
Fatos de fevereiro

Manoel Hygino

São fatos que somente o mundo moderno nos possibilita. De Portugal, onde presentemente vive o escritor Ronaldo Cagiano, nascido em Cataguases, comunicou ao cronista Danilo Gomes, que falecera o cônego Agostinho, na capital mineira.

O sacerdote Agostinho de Lourdes Coimbra Oliveira era o padre mais antigo da velha vila e cidade e falecera na madrugada do sábado, 17 de fevereiro, aos 103 anos de idade, dos quais quase 80 dedicados à Igreja. Ordenado em 26 de novembro de 1944 pelo arcebispo Dom Helvécio Gomes de Oliveira, Agostinho foi pároco em São Gonçalo (hoje Acaiaca), Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto e da Paróquia Cristo Rei, também na segunda capital mineira, e ali o primeiro a atuar, encerrando a passagem terrena e, finalmente sepultado ao lado dos pais.

Em 18, também de fevereiro, domingo, o presidente da Academia Mineira de Letras, enviou aos confrades também uma comunicação curta, objetiva e triste: deixara de viver entre nós o confrade Rui Mourão, cujo corpo seria velado em Belo Horizonte, no Cemitério do Bonfim, onde ocorreria o sepultamento na capital.

Num daqueles dias, chegou-me mensagem, procedente de Brasília. Dizia: “Foi criada a Academia Urucuiana de Letras (que abrange os municípios banhados pelo rio Urucuia, em Minas Gerais), que terá, entre suas finalidades, contribuir com publicações, eventos e outros meios, para a elevação do nível cultural do povo brasileiro”. A região, como se sabe, é parte do cenário de “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa que, aliás, é patrono de uma cadeira na recém-fundada Academia, sendo eleito para presidente o escritor Napoleão Valadares.

Observo, nestas poucas e despretensiosas linhas de registros vários, a presença indisfarçável de Minas. Pessoas, locais e fatos referidos são liames de história que se começou a construir até antes da província. A despeito de tudo e de todo o negativismo pessoal, político, fático desta hora, há traços do passado que perduraram e se refletem no estado de hoje.

Um dos longevos da Academia Mineira de Letras, Rui Mourão, era de 1929 e ocupava a cadeira 31, de que foi fundador Machado Sobrinho e patrono o médico, compositor e jornalista Lucindo Filho. Seus antecessores na Casa de Alphonsus e Vivaldi foram Salles Oliveira, Manoel Casassanta, Waldemar Pequeno e Luiz Carlos de Portilho.

Para o presidente da AML, Jacynto Lins Brandão, Rui Mourão dirigiu e introduziu importantes inovações no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, além de ser um dos mais respeitáveis romancistas de Minas.


87016
Por Manoel Hygino - 28/2/2024 08:31:54
Ameaças à vista

Manoel Hygino

Sequer transcorridos dois anos da malfadada reunião na primeira quinzena de julho de 2022, no Planalto, perguntamo-nos desconfiados: que de bom e de bem resultou do encontro na sede do Executivo em Brasília?

Nada, concluem os brasileiros que tem bom-senso. Serviu exclusivamente para suscitar suspeitas em torno de brasileiros que disputavam altos escalões na República, enfim concorrentes dos que se assentaram nas mais de 33 cadeiras do grande salão de um Palácio, neste período em que a democracia não vive uma bela fase em nível mundial.

Recente pesquisa da Atlasintel registra que 62% de brasileiros têm opinião positiva sobre a democracia liberal, enquanto somente 45% da população dá apoio ao regime em nosso país, conforme o Latinobarômetro, citado por Márcio Coimbra. Para um povo que passou longos e terríveis tempos de ditaduras, é um percentual que incomoda, desagrada e atemoriza. Segundo o mesmo jornalista, estamos perto de um barril de pólvora, e riscar um fósforo muito próximo seria uma tragédia, acrescentaria eu.

Exatamente nesta hora, passamos por dificuldades com eclosão de movimentos golpistas, pré-golpistas, de intransigência e de movimentação de várias índoles nos países irmãos da América, alguns com pretexto antitráfico de drogas.

Nem tudo é tão alegre, brilhante e musical como esplendorosamente se assistiu no Carnaval. Como na expressão do maior vate inglês, há algo de podre no reino da Dinamarca. Além dos muitos milhares que desfilaram, cantaram e se esbanjaram nos dias da folia, há milhões que enfrentam necessidades clamantes, a começar pela falta de alimentos suficientes para a vida. É um segmento sofrido e explosivo.

E há parcelas que entram em cena sob o pretexto de vir em ajuda aos carentes, embora à procura de satisfação de seus anseios pessoais e políticos, sem medir as consequências de seus atos e planos. O Brasil não pode inclinar-se a esses inconsequentes e ambiciosos.

Muitos milhares já foram sacrificados, ofendidos e humilhados em experimentos, não poucos, da história do Brasil. Não poucos perderam a família e a própria vida. De 1907 a 1966, a América Latina sofreu 20 golpes de Estado que repercutem ainda hoje sobre seu povo.

Em julho de 2022, estivemos – mais uma vez – à beira de um abismo. Escapamos por pouco, mas não é uma situação definitiva. Temos de nos manter atentos e dispostos. Os alto-falantes carnavalescos não nos fizeram surdos...nem mudos.


87013
Por Manoel Hygino - 27/2/2024 08:49:21
Favela, a palavra

Manoel Hygino

Bem recentemente ressurgiu a discussão sobre a palavra favela. Não se queria que o substantivo fosse usado para os locais de habitação de grupos menos favorecidos da população. Explica-se e se compreende. Mas convém ir às origens do vocábulo para melhor entender. Para isso, temos de chegar a “Os Sertões”, a celebrada obra de Euclides da Cunha, que descreve a epopeia de Canudos e a atuação dos sertanejos que acreditaram, em sucesso. Deus no céu e Antônio Conselheiro na terra.

Manif Zacharias lança luzes. Médico no Paraná, perseguido inexplicavelmente pelo regime instalado no país em 1964, pesquisou em profundidade a obra e em livro de quase mil páginas, aclara: Favela foi o “aglomerado de frágeis casebres”, precariamente construídos com materiais improvisados, em terrenos baldios e, principalmente, em encostas de morros, sem quaisquer condições de higiene e conforto. Acomodavam-se nesses tugúrios pessoas ou famílias desprovidas de recursos, que vivem à margem da sociedade.

Na obra, favela é a área do arraial de Canudos localizada no declive de um morro, em que, ocupando habitações desse tipo, moravam os fanáticos de Antônio Conselheiro. Foi, aliás, assim, que se originou a denominação genérica – favela, que hoje se dá, em todo o país, às áreas tomadas por esse gênero de moradias. “O nome primitivo, Morro da Favela, adveio do fato de existir no topo da elevação, à espera da campanha militar, um exemplar da árvore desse nome”.

Euclides empregou diversas vezes o vocábulo, que se prestava perfeitamente ao cenário que descrevia. Na página 25, está: “Galgava o topo da Favela”. “Volvia o olhar para abranger de um lance o conjunto da terra”.

Na 148, encontra-se: “O Monte da Favela, ao sul, empolava-se mais alto, tendo no sopé, fronteiro à praça, alguns pés de quixabeiras, agrupados em horto selvagem”.

Está na 313: “Restava-lhe um recurso sobremaneira problemático e arriscadíssimo: saltar fora daquele vale sinistro da Favela, que era como uma vala comum imensa, à ponta de baionetas e a golpes de espadas”.

Compreende-se pois, a esta altura, que se queira substituir a palavra favela. Imensos são os esforços que os moradores de áreas pobres e mal consideradas que tudo fazem para mostrar que os tempos são outros e muito outros os favelados, dispostos a ingressar numa nova fase de vida e vivência.

O essencial, no entanto, é que a simples mudança do substantivo favela por comunidade não significa mera substituição de uma palavra por outra. As comunidades não podem ser valhacouto de foras da lei e de aprendizes de bandidos, como acontece nas grandes cidades do país.


87011
Por Manoel Hygino - 24/2/2024 08:02:31
Antes, seria diferente

Manoel Hygino

Quem assistiu ao buliçoso Carnaval de Belo Horizonte, neste 2024 já caminhando para o terceiro mês, não imaginará como seria por aqui há cem anos ou pouco menos. Estamos longe do que seria a já capital com a pequena população de então. Tampouco registraria que blocos de milhares de pessoas desfilariam animadamente pelas ruas do antigo Curral del-Rei, neste principio de ano.

Ninguém, hoje, se lembrou de que décadas antes a metrópole dos mineiros era em grande parte habitada por pessoas que para aqui vinham, além evidentemente de participar da construção, tratar-se de doenças pulmonares, de tuberculose. Inicialmente, nem médico queria vir para cá, a não ser aquele que, para aproveitar o clima, também fazia da cidade nascente um meio para recuperar-se de seus males.

Abílio Barreto, historiador da cidade, falou em 1928, de um certo Dr. Paul Miquet, “excêntrico médico e botânico francês, o qual perambulou durante muito tempo, em explorações pelas circunjacências do arraial” até desaparecer sem deixar pista”.

Com a fundação, em 1899, da Santa Casa, Belo Horizonte começou a mudar expressivamente. Levantando recursos junto à população, pôs-se a atender as pessoas de várias patologias. Pedro Salles, médico e considerado o historiador da medicina na capital, a alta fama do bom clima de Belo Horizonte, especialmente ao tratamento a tuberculose pulmonar, fez afluir grande número de doentes, determinando uma incidência artificialmente elevada de tuberculosos. “Os clínicos gerais buscavam terapêutica com recursos muito simples: clima, repouso, superalimentação”. A cidade nova se encheu de doentes de todo o estado e de outras regiões. A Santa Casa criara clínicas especializadas, para homens e mulheres.

Em 1934, premida pelas circunstâncias, a filantrópica inaugurou um hospital só para esta especialidade: o Sanatório Imaculada, na gestão do provedor Jarbas Vidal Gomes, com 100 leitos para começo, na rua Domingos Vieira, entre Ceará e Piauí, onde hoje está o Ambulatórios Especializados Santa Casa BH.

O Imaculada se transformou num marco na assistência à tisiologia no Brasil, com as primeiras aplicações de pneumotórax artificial e, com o tempo, se consagrou pelo início da cirurgia torácica e na sua consolidação.

A capital conseguiu ultrapassar a fase de abrigo da tuberculose. É uma extensa história a contar. E os carnavalescos puderam, em 2024, se vangloriar de uma cidade que soube enfrentar e triunfar sobre a temível patologia que muitas vidas aniquilou.



87014
Por Manoel Hygino - 21/2/2024 09:09:08
Candidata do Pendura Saia

Manoel Hygino

A Maternidade Hilda Brandão, da Santa Casa de Belo Horizonte, hoje inserida no Instituto Materno-Infantil, é um precioso repositório de interessantes histórias, além da sua própria. Em 1916, graças ao pessoal empenho de seu idealizador, o médico Hugo Werneck, após passar pela Suíça e Inglaterra, a inaugurou festivamente.

Pois conto mais um caso para atualizar “a biografia” da primeira maternidade de Minas Gerais, daquele tempo em que os recém-nascidos cujos pais não tinham condições de mantê-los, preferiam ocultar o nome através de artifícios.

Lembro um episódio que bem serve a tornar mais evidente o sentido social do belo casarão da rua Álvares Maciel, 511, em Santa Efigênia. Ao falecer a ocupante da cadeira 40, da Academia Mineira de Letras, em 2023, escritora Maria José de Queiroz, sucessora de Afonso Pena Júnior, abriu-se inscrição para ocupar a vaga.

Esperavam-se vários candidatos, considerando o prestígio e a saudade que Maria José, referência magna pelo que produzira nas letras e em cátedras também no exterior. Para suceder a excelente professora, inscreveram-se seis autores sobremodo conhecidos. Entre os candidatos estava Maria da Conceição Evaristo de Brito, nascida em 29 de novembro de 1946, na favela do Pendura Saia, na jovem capital.

A mãe era a lavadeira Joana Josefina Evaristo e o pai o pedreiro Aníbal Vitorino, sendo filhas Maria Inês, María Angélica e Maria de Lourdes, e filhos, Adair, Ademir, Altair, Altemir e Almir, todos com o sobrenome Evaristo. A escritora não esquece nunca que é a mãe também de Ainá Evaristo de Brito, menina muito especial de 42 anos, filha de seu falecido esposo, Oswaldo Santos de Brito, a seu lado em todas as horas.

Primeira na cédula de votação da AML é, pois, Conceição Evaristo, com 77 anos, nascida na Maternidade Hilda Brandão, uma das mais prestigiosas autoras brasileiras no campo literário. Sua produção é constituída de poemas e ensaios, em grande parte traduzida para inglês, francês, árabe, espanhol, eslovaco e italiano. Em 2014, recebeu ampla cobertura da imprensa no Salão do Livro, em Paris, quando integrou a comitiva de escritores brasileiros.

Em 15 de fevereiro, Conceição foi eleita por 30 dos 34 votantes. Imortalizou-se. Encontrava-se em Havana, no cumprimento de missão literária.


87004
Por Manoel Hygino - 17/2/2024 07:53:57
Bernardes adverte

Manoel Hygino

Em 6 de fevereiro de 2030 completam-se os 100 anos da famosa passeata política em Montes Claros, que se tornou acontecimento nacional. A manifestação se transformou no grito de alerta da Revolução de 1930, com todas as consequências funestas ou benéficas decorrentes. Do acontecimento, apareceu a personagem quase mítica de Tiburtina Alves, mulher que honra e dignifica o sertão mineiro.

A despeito das boas intenções, o movimento de quase um século atrás não surgiu os objetivos desejados e pelos quais se batia a nação. Tanto que, já em 1932, entrava em cena o Estado de São Paulo com uma nova iniciativa, inclusive mediante ação bélica, a Revolução que novamente incendiou o país conquistando também a adesão de Bernardes.


Em julho de 1932, Artur Bernardes, líder do PRM, estando no Palácio da Liberdade Olegário Maciel (que assumira em 7 de setembro de 1930), assinava uma carta de apoio à revolução declarada em São Paulo, em que começava dizendo: “Os que entraram com altos objetivos na Revolução de Outubro e não desconhecem totalmente as ciências políticas e as necessidades nacionais, certamente, estarão decepcionados com os resultados negativos daquele memorável movimento cívico.

Coroada de sucesso como foi a Revolução, era de esperar que, irmanados em um só pensamento, os vencedores logo cogitassem dos problemas mais urgentes do país, de que o mais instante era então a reconciliação dos brasileiros, sem distinção entre vencidos e vencedores”.

Com maior ênfase advertia: “Cumpria-lhes (aos vencedores) reconhecer que a Nação não pertence a grupos ou a classes, mas a todos os brasileiros, indistintamente, e que é direito de todos atuar na sua reconstrução, por tratar-se de patrimônio que lhes é comum. E que não é só isso – um direito, mas DEVER, pois cumpre aos bons cidadãos interessarem-se pela organização da sua pátria, dada a influência, boa ou má, que terá a mesma de exercer sobre o seu futuro e sobre a sorte do povo. Além disso, a Revolução resultou na conquista do país em favor de uns, com injustificável exclusão de outros”.

E Bernardes segue em sua advertência: “Foi portanto erro, e erro lamentável: não se ter feito aquele congraçamento, que importaria no passo decisivo para a pacificação dos espíritos. Erro tanto maior ainda, quando a pacificação interessava grandemente à consolidação da vitória revolucionária. Como não se quis e não se promoveu a reconciliação, aí está a desgraça, fruto da política extremista, senão ódios incontidos: a Ditadura combatida numa guerra civil, por seus erros graves e imperdoáveis”.


87001
Por Manoel Hygino - 14/2/2024 09:17:42
E, agora, Drummond?

Manoel Hygino

E agora José? Perguntaria o poeta de Itabira, mais uma vez. Passado o carnaval, festa tornada nacional num país do hemisfério sul em terra descoberta por Cabral na metade do século XVI, o novo mundo que vai fazer? Como proceder a enorme população após a extraordinária eclosão no período superfestivo?

Respostas dificílimas dos dias e noites de imensas e imponderáveis festanças, cuja exuberância ou exagero atrai turistas procurando confirmar se assim mesmo se procede neste país, acima e abaixo da linha do Equador.

O José, convidado ou instado a responder à interrogação do vate mineiro, encontra dificuldade para contestar. Há epidemias grassando por aí, depois que a maldita Covid-19 perdeu o privilégio de pandemia. Mas sucedem-se as enfermidades; isoladas ou em penca, persistem na interminável relação das patologias humanas.

Há desafios supostamente intransponíveis como a duplicação da BR-381, ainda classificada como Rodovia da Morte e a 262, perigosa e assassina, como o PCC, e demais organizações criminosas, que somente agora a autoridade competente se sente na obrigação de combater.
O carnaval contribuiu com melhoria no sentimento e nas disposições de ânimo de uma população acostumada a sofrer?

E agora, José, ou que outro nome se queira impor à interrogação. Que será depois da festança? Haverá moradores de rua ainda sob viadutos e marquises, enquanto a chuva pode despencar impiedosamente? Não ponhamos maldades e más perspectivas depois que a temporada alegre se consumiu.

Melhor omitir a insuficiência alimentar registrada pelo IBGE e outras entidades ou organizações de pesquisa. Nada de mau olhado ou outras pragas que infestam ou infernizam a vida dos esquecidos dos poderes públicos ou dos detentores do poder que têm demais afazeres e compromissos.

Os tempos são outros sim, mas não diferem substancialmente dos pretéritos. Exigem muito de todos, sem deixar de ferir mais profundamente os menos providos de bens materiais e de horizontes animadores.

O carnaval passou, embora novos caminhos devessem abrir-se aos de boa vontade. Não se perderá a esperança.
Agora, temos a Inteligência Artificial, capaz – quem sabe? – de prever e prover em favor dos carentes e necessitados. Era o que imaginavam os sonhadores. Confiava-se que a IA viria para ficar e dar solidez aos sonhos. Mas ela apenas parece existir para substituir o homem em determinadas missões e tarefas.

Somemos em favor do futuro e dos justos. Pelo menos, os devaneios ainda são permitidos. Amém!


87000
Por Manoel Hygino - 13/2/2024 08:25:09
Apurações muito longe

Chama atenção a atuação do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, no caso da suspensão da multa milionária aplicada em virtude de ação na Operação Lava Jato às empresas acusadas de lesão grave ao erário. Em uma das ações, o ministro suspendeu a multa de R$ 10,3 milhões, fruto de acordo firmado em 2017 entre J&F e o Ministério Público Federal. A Procuradoria Geral da República, pelo novo procurador- geral Paulo Gonet, recorreu da decisão e a questão renasceu das brasas ainda aquecidas.

A imprensa não se esquivou à divulgação, ao conhecer que o pagamento da multa já fora suspenso em dezembro. O ministro, na ocasião, apontou haver “dúvida razoável” sobre a “voluntariedade dos acordos” da empresa dos Irmãos Batista após a divulgação de mensagens trocadas entre procuradores e juízes da Lava Jato, mas houve vazamento do fato. E não foi pelo fato de a mulher de Dias Toffoli, dra. Roberta Rangel, ser advogada do grupo J&F, beneficiado pela decisão. Até porque ela atua em casa diferente.

O lembrado jornalista professor na UnB Aylê-Salassié Filgueiras Quintão comentou: “Observa-se que o ministro Dias Toffoli está fazendo: desqualificando, monocraticamente, os resultados da Operação Lava Jato e suspendendo o ressarcimento ao Tesouro Nacional de prejuízos com operações fraudulentas, confessas pessoalmente por um punhado de empresários e políticos nacionais. Não é pouco dinheiro: próximo de R$ 15 bilhões e cobriria parte do déficit das contas públicas, que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esforça-se para conter”.


Diga-se o que se quiser dizer, essa dúvida de que a contenda está armada mais uma vez na cúpula do Judiciário, o que ficou suficientemente claro desde que Toffoli suspendeu o sigilo das ações determinando a interrupção do pagamento de multas do acordo da leniência da Novonor, antiga Odebrecht, com participação ou não da Transparência Internacional. É bom salientar que, no dia 5, uma segunda-feira, o ministro determinara que a ONG fosse investigada por ter supostamente usado indevidamente recursos públicos na ocasião da Operação Lava Jato. No entanto, foi a própria Procuradoria Geral da República que referendara, em 2020, a informação de que a entidade não recebera remuneração pela assistência prestada na leniência.

Em última análise, eis um caso que muito rende ainda, pondo em xeque altos escalões da República. A Lava Jato, apesar de tudo, não morreu. Afinal foram cinco anos de investigação, 285 condenações, 600 réus e 3.000 anos de prisão. Só no Supremo, foram 300 inquéritos que detectaram R$ 800 milhões desviados dos cofres da Petrobras, mas há muitíssimo mais.



86999
Por Manoel Hygino - 10/2/2024 08:46:48
O futuro do bosque

Manoel Hygino

Jornalista, professor, doutor em História Cultural, com 82 anos, atuante pleno na Universidade de Brasília, Aylé-Salassié Filgueiras Quintão, é – como antes já disse – mineiro, da Zona da Mata. Sob muitos aspectos e sobre muitos problemas, nossos pontos de vista se assemelham. Vejam o que ele afirma e com que concordo:

“Provavelmente, no futuro próximo, não encontraremos fortunas fabulosas concentradas em poucas pessoas. Um por cento dos mais ricos são proprietários privados de quase 50 por cento do PIB mundial: US$ 96,5 trilhões. Não há mais espaço para isso! São 8 bilhões de seres humanos habitando este Planeta, expandindo-se a um ritmo de aproximadamente 1,0 por cento ao ano, numa média de 800 mil novos nascimentos.

E não são as ideologias que estão provocando essa potencial inversão de valores. Elas são apenas véus (discursivas) que nos distraem da verdade absoluta: a ameaça de extinção da vida no Planeta. É a realidade!... Os recursos naturais - a biodiversidade, as florestas, as águas - são cada vez mais escassos para uma população que cresce assustadoramente.

Os dramas ambientais aterradores frequentes são banalizados no cotidiano: tsunamis, terremotos, exploração irrefreável do subsolo (a terra está se tornando uma espécie de queijo mineiro: toda furada por dentro) , temperaturas nunca experimentadas, inundações, secas prolongadas, desmatamento, queimadas, perda de terras cultiváveis, escassez de alimentos, quase 1 bilhão de pessoas famintas. E continua a falar-se em desenvolvimento (econômico), industrialização, guerras fratricidas, até nucleares. Tudo predatório dos recursos naturais que protegem a Terra e os princípios ativos da vida (...).

Falta gestão, mas o Brasil tem, de fato, se adiantado na busca de soluções. Promulgada em 5 de outubro, a Constituição de 1988 pôs em destaque em um capítulo especial, capitaneado pelo artigo 225, segundo o qual a proteção do meio ambiente é um direito do cidadão. Foi a primeira Lei Magna no mundo a tratar dessa questão. Para homenagear seus autores parlamentares, a comunidade brasiliense, idealizou em Brasília, na praça dos Três Poderes, um monumento ambiental simbólico com o nome de Bosque dos Constituintes, em que cada um daqueles congressistas, acompanhado de grupos de escolares, entre 12 a 15 anos, plantou uma árvore nativa do bioma da região de origem”.

A esta altura do tempo e das circunstâncias, poder-se-ia perguntar: que futuro terá o Bosque? Ou não terá nenhum? Os dias estão tempestuosos e destruidores.


86998
Por Manoel Hygino - 8/2/2024 08:27:52
Minas sem dinheiro

Manoel Hygino

Nesta hora lastimável para Minas, ofendida e humilhada por uma dívida imensa para a qual não se encontrou solução digna, não posso deixar de lembrar o governo Silviano Brandão (1898 - 1902). O historiador João Camilo de Oliveira Torres registra que o Estado se metera em “grandes aventuras” e o peso maior recaíra no governador Silviano Brandão, que viveu uma “tragédia”.

Repito: Silviano teve de lançar mão de todos os recursos. “Cortou despesas enquanto lhe foi possível, fechando escolas e estabelecimentos de grande necessidade, demitindo funcionários; dizem depoimentos pessoais que assinava os decretos chorando, pois, compreendia vivamente que estava levando o mal a amplos setores do povo, mas não lhe restava outro meio”.

O crédito não era fácil, forçando-o até a recorrer à poderosa St. John del-Rei Mining Co. E os ingleses de Nova Lima deram dinheiro ao governo do Estado. “Afinal, como solução heroica, o imposto territorial, na época, por força das ideias de Henri George, considerado um expediente socialista”. Os fazendeiros, que constituíam a força mais poderosa de Minas, reagiram, queriam fundar um partido para a defesa de seus interesses. Silviano chegou a fazer as malas para deixar o palácio. “Aos poucos a crise foi vencida. Mas, Silviano Brandão não chegou a ver a vitória. Foi vencido, também”.

Daniel de Carvalho, profundo conhecedor da matéria, comentou: “Silviano teve que adotar uma política realista, dura e firme, para enfrentar a situação calamitosa das finanças estaduais e firmar o prestígio de Minas no cenário federal”.
Médico, Silviano empregou largamente os recursos cirúrgicos. Suprimiu verbas, suspendeu serviços, extinguiu cargos de comissões. Reformou o sistema tributário, criando o imposto territorial. Com energia e firmeza, conseguiu, pela primeira vez na República, unificar a representação mineira, “reunir a boiada”, como então se qualificou a delicada operação de levar à Câmara Federal a famosa bancada do apoio incondicional.

Silviano venceu. Indicado na chapa como vice-presidente da República, ao lado de Rodrigues Alves, “esteve a pique de faltar ao banquete de leitura da plataforma, porque não possuía casaca, nem dispunha de dinheiro para a viagem ao Rio. Cotizaram-se para adiantar-lhe a quantia necessária a alguns amigos, que também não eram abastados...”.

Esse homem admirável não foi poupado pela imprensa... Morreu no exercício da chefia do governo de Minas.


86996
Por Manoel Hygino - 6/2/2024 09:13:48
Bom livro chegando

Manoel Hygino

São apenas 29 dias. Mesmo reduzido, fevereiro de 2024 segue o definido historicamente, somando ao fim do ano 366, e não 365 dias. Nele se inclui especialmente a data de lançamento de mais um livro do desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, como anunciado por ele mesmo.

Já em 11 de janeiro, ele enviara mensagem por e-mail. Repito agora: “Estive hoje à tarde na Livraria e Editora Del Rey, Belo Horizonte, para receber das mãos da Aldria um exemplar impresso do meu novo livro “Redes sociais em prosa e verso”. Fui tomado por emoção indescritível. Já publiquei quatro livros de minha exclusiva autoria. E outros trinta, como coautor. Todos predominantemente jurídicos, mas com algumas incursões pela ciência política, economia, filosofia, história e sociologia. Este novo livro marca a minha estreia propriamente literária.; ou pretensamente literária. Lembrei o saudoso memorialista mineiro Pedro Nava:

“Quem escreve é para ser lido. Mas sejamos sinceros, acrescentando que muito do que escrevemos é para ser lido por nós mesmos. Não há ninguém, por mais pintado que seja, que não goste de lamber a própria cria” (“Balão Cativo”, 1973, p. 268).

Sinto-me como um pai no berçário da maternidade. Afago, no colo, o mais novo filho recém-nascido... Que alegria!

Antes que o primeiro mês do ano, terminasse – a nova mensagem: “Já estão agendados os lançamentos do meu livro "Redes sociais em prosa e verso":

Dia 22/2, 5a feira, a partir de 18h, Belo Horizonte, parque esportivo da Associação dos Magistrados Mineiros - Amagis, Rua Albita, 194, Cruzeiro.

Dia 1/3, 6a feira, ás 19h, São João del-Rei, no Teatro Municipal. Na terra natal, farei, na abertura, uma apresentação do livro. Abordarei minha infância, formação, influência da literatura nessa trajetória e a importância do uso das redes sociais para propagar "pitadas" literárias, culturais, históricas, poética s etc. Devem ser um ambiente de fraternidade e paz, em vez de ódio e propagação de fake news. Não somente São João del-Rei e Minas Gerais forjaram o meu espírito, mas também a querida Paraíba (terra de mamãe e 3 dos meus avós). São muitas narrativas mineiras e paraibanas selecionadas na obra”.

Então, temos mais um bom livro a partir deste fevereiro. Sou assíduo frequentador dos textos do magistrado de São João. A ele devo, por sinal, a informação de que, no ano passado, o padre Vieira ingressou na Companhia de Jesus como noviço, em 1623; quatrocentos anos, pois. E foram os jesuítas que lutaram contra a escravização dos indígenas no território que serviria para implantação de uma nação. Contribuíram para combater o canibalismo, a poligamia e o nomadismo.


86993
Por Manoel Hygino - 3/2/2024 07:46:51
O palacete da avenida

Manoel Hygino

Jornal belo-horizontino vem focalizando lugares especiais do cenário urbano da metrópole. Um deles foi a Funeral House, erguida na Afonso Pena, em local privilegiado. A população que passa pelas imediações a conhece suficientemente, pela imponência das linhas e pela beleza arquitetônica.

O que não ficou dito é que ali residiu o médico Antônio Pimenta, de alta competência profissional, e de tradicional família dedicada principalmente às atividades pecuárias. Eram quatro irmãos: ele, Antônio; João; que cuidou principalmente da produção de gado, mas entrou pela política, elegendo-se prefeito de Juramento e de Montes Claros; Lourdes, formada em Direito, em cujo escritório trabalhava João Chaves, homem das leis, mas também poeta de excelente qualidade e seresteiro; Neném, diplomada em Farmácia, casada com o médico Plínio Ribeiro, enciclopédia viva e atuante em todas as áreas a que fosse chamado. Gente muito mineira, muito sertão, séria, e confiável.

Em Montes Claros, Antônio gozava de alto prestígio. Cuidava de sua extensa clientela, sobretudo no seu consultório, mas também na Santa Casa, e no Sanatório Santa Terezinha, de que foi um dos fundadores e diretores. Nas proximidades da residência da mãe, construiu uma residência do mais alto nível. Ao lado, o consultório a que recorriam homens, mulheres e crianças, confiando ao seu carinho e competência. Dos ferimentos, cuidava pessoalmente, pois não existiam enfermeiros, auxiliares ou técnicos de enfermagem.

Sem pensar em política, a ela se integrou. Elegeu-se folgadamente deputado estadual, no velho PSD, partido do governo, já casado em Nhanhá (naquela época, todos tinham apelidos), ela dos Alcântaras, de Grão Mogol – Dagmar Alcântara Pimenta. Não geraram filhos, fazendo de cada cliente tratado no consultório ou nos hospitais um seu afilhado. Era assim e a cidade sentia-se grata.

Antônio Pimenta e esposa (que gostava de tango argentino) resolveram construir a sua residência, fazendo-o na Avenida Afonso Pena, 2.158. Jeito e maneira dos mineiros, discreta e silenciosamente, o prédio com duas imponentes colunas gregas de frente para a principal via pública da capital.

O prédio deixou de ser residência para os viventes, mas transformado em abrigo temporário para os mortos nos velórios.


86990
Por Manoel Hygino - 31/1/2024 10:19:45

Lições imperdíveis

Manoel Hygino

José Ponciano Neto não deixou que o fato passasse em brancas nuvens, ao publicar a notícia do falecimento de uma das pessoas mais distintivas de Montes Claros. Amelina Chaves, no dia 22 de janeiro último, deixou o nosso convívio. Não a veremos com seu entusiasmo nas reuniões literárias ou sociais, mas será lembrada pela sua história de superação das dificuldades que se acumulavam nas regiões distantes norte-mineiras.

Nascida em berço humilde em Sapé, hoje integrante do município de Capitão Enéas e antes de Francisco Sá. Ela soube superar todos os empecilhos para ser o que sempre sonhara: escritora. Lembra a colega de atividade literária, Glorinha Mameluque, que a sua paixão pelas letras surgiu em torno dos dez anos. Decidiu seu futuro no distante sertão, em época muito distante até da ideia de Polígono das Secas, então sem as academias que hoje existem em Montes Claros, núcleo maior da economia e da cultura regionais.

Na existência de Amelina, que revi pela última vez numa reunião não consumada por imposição da Pandemia, na AML, tudo é grande e expressivo. Ela viveu 92 anos, teve 15 filhos e escreveu 32 livros, sempre com referência à nossa terra e seus ilustres filhos, tema principal e preponderante de sua bela e farta produção.

Assim, seguirá entre nós a despeito das contingências do tempo. Sobre Amelina, poder-se-ia repetir o que escreveu Clarice Lispector a respeito de si mesmo e que a Mameluque transcreveu: “E nasci para escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E, no entanto, cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.”

Suponho, a título de encerramento, que poderia reiterar com Ponciano, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas: Amelina Chaves nos ensinou que “o saber a gente aprende com os mestres e os livros; a sabedoria se aprende com a vida e os humildes”.


86989
Por Manoel Hygino - 30/1/2024 08:48:06
O grande mal

Manoel Hygino

Sou admirador de Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, desconhecido por milhões de pessoas que não aprenderam a ler. Nem vão aprender, de acordo com o andar da carruagem. Ao publicar suas memórias ao ensejo de seu centenário, em 1921, editou-se um livro especial: “Leçons d’un siecle de vie”. Lá, ele elenca algumas das aulas de aulas que guardou consigo: “Resistir à dominação, à incredulidade e à barbárie, tomar consciência da complexidade humana, levar uma vida poética, com fé no amor”.

Sem dúvida, o máximo que se pode exigir de nossa breve passagem pela terra, que muitos, sem embargo, ignoram. Haja vista o que se vê todos os dias e horas, em todos os continentes e países, sem que se dê mais atenção aos fatos.

É o caso, por exemplo, dos inúmeros casos dos que se enchem de drogas pensando que fazem o melhor. As casas de detenção ou prisão, as clínicas, se superlotam com tantos que não querem ver e sentir com o coração. Inventou-se até uma palavra nova para o registro – drogadição -, que vai além das infrações penais e conflitos criminosos que habitam o noticiário policial no Brasil.

O incauto e o descuidado de sua própria vida estão presentes permanentemente em hospícios, clínicas, vários hospitais especializados, quando não em casas de correção, repetidamente sem muitas condições efetivas de recuperação.

Nos anos mais recentes, o poder público percebeu que algo se teria de fazer, de modo permanente, para combater os chefões da droga e seu comércio, que deixam dezenas de mortos e incapazes pelas ruas das cidades brasileiras, não apenas as de maior população. Parte dos resultados se pode aferir pelas notícias da Imprensa, mas nem tudo é apurado.

Um pormenor: o Ipea constatou que a guerra às drogas reduz em média, 4,2 meses a expectativa de vida dos brasileiros, causando prejuízo de R$50 bilhões anuais. Isso quer dizer 0,77% do PIB em decorrência de óbitos no país.

Uma tragédia nossa de todos os dias, com a qual devem preocupar-se também os chefes de família, o núcleo essencial para evitar o mal pior e tentar causar a felicidade geral da nação, mesmo sem Pedro I por aqui. O nosso primeiro imperador e Morin têm razão.


86985
Por Manoel Hygino - 27/1/2024 08:52:04
Nossa pecuária

Manoel Hygino

Depois de longa temporada sem chuva, confirmando até algumas informações da Inteligência Artificial, despencaram em boa parte do território mineiro pesadas pancadas, que deixaram estragos muitos, danos múltiplos, principalmente em cidades de maior porte, embora também efeitos perversos fossem sofridos naqueles de menores dimensões. Com mortos e desaparecidos humanos, que não encontraram meios para fugir às destruidoras cargas.

Extensas regiões, que reclamavam da estiagem maligna, puderam enfim prever que a água descia do céu e que os anjos diriam amém. Aconteceu também no meu Norte de Minas e pelas bandas do Jequitinhonha, Mucuri e Itambacuri. Ainda bem. Mas o que inúmeros mineiros não apreciaram foi com relação aos rebanhos bovinos. Havia gente pensando que Minas liderava, mas se enganou.

Em verdade, pelos dados ora revelados, a liderança no número de bovinos no país pertence a Mato Grosso, com 34.246.313 cabeças, seguido pelo Pará com 24.991.000. Seguem Goiás com mais de 24 milhões também, enquanto o estado montanhês dispunha de 22.993.105, em 2022. Somos, assim, o quarto em número de reses bovinas.

Os maiores municípios criadores entre nós são: Prata, Campina Verde, Santa Vitória, Unaí, São João da Ponte, João Pinheiro, Carlos Chagas, Paracatu, Patos de Minas, Uberlândia. Apesar disso, a quantidade de cabeças segue sob liderança do Triângulo – Alto Paranaíba, seguida pelo Norte, mas com distância assaz relevante. A primeira conta com 5.437.061 cabeças, enquanto o Norte soma 2.834.992. Em seguida, aparecem Sul e Sudoeste, Vale do Rio Doce, Zona da Mata, Noroeste, Oeste, Central, Metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Mucuri, Jequitinhonha e Campo das Vertentes.

Segundo os mais recentes números, o rebanho bovino de Minas é de 22,99 milhões de cabeças, enquanto a população está com 20, 558 milhões de habitantes.

Não podemos reclamar, mas não devemos deixar de investir. Precisamos manter o prestígio de nossa pecuária e a qualidade de nossos produtos. Não sem razão, Antônio de Salvo, de uma família de pecuaristas e presidente da Federação da Agricultura de Minas, declarou recentemente: “A pecuária de corte vem conquistando novos mercados considerando a qualidade e sanidade do nosso rebanho; a gripe aviária não nos atingiu nesse 2023, justamente pelas ações rápidas e alinhamento produtivo”.


86982
Por Manoel Hygino - 23/1/2024 09:01:23
Agora, Equador

Manoel Hygino

A América Latina sempre em evidência sob olhar acurado e cuidadoso; quando não temeroso do resto do mundo. É bom ler o livro de Manoel Bonfim, escrito no princípio dos anos 1800. Informa-se o leitor sobre as causas de nossos atrasos, desavenças e problemas, que só aumentaram no decorrer dos dias.

Vivemos os nossos desafios, mas se vê que não estamos sozinhos. Os “Hermanos” também os enfrentam ou os sofrem. Veja-se a Argentina em suas atribulações antes e depois de Perón, antes e depois dos militares. E há a Venezuela, que incomoda os latinos e os Estados Unidos, mas também as demais nações. O que, afinal, pretende o ditador que é “maduro” no nome, mas não deteriora com suas ideias?


Há pouco dias, o Equador segue vivendo momentos de tensão após toda a confusão, armada sobretudo devido às organizações criminosas, com ênfase dos traficantes de drogas, que montaram um império de alta periculosidade, conseguindo inserir-se num sistema internacional de compras e vendas, que inclui a Europa, a Ásia, mesmo a África. Como em Gaza, são mantidos reféns, pondo em risco o que ainda detém certa dose de complacência e paz na nação latina.

Ainda no Equador, seu jovem presidente se mantém esperançoso e disposto a enfrentar os “grupos terroristas” compostos por mais de 20 mil pessoas. Para ele, as gangues criminosas são terroristas e não alvos militares de seu governo. Daniel Noboa é categórico: “Nós não vamos ceder e deixar a sociedade morrer lentamente. Hoje, vamos combatê-los, vamos dar soluções e em breve vamos dar paz às famílias”.

O Equador é banhado pelo Oceano Pacífico. Tem pouco mais de 272 mil quilômetros quadrados de extensão, com por mais de 20 milhões de habitantes, 25% ameríndios. Daqui dois anos, isto é, em 2026, se registrarão os 500 anos da chegada ali dos espanhóis. Não foram poucas as lutas dos europeus para seguirem no comando do território. A partir de 1932, o cenário político foi assumido pelo líder populista José Maria Velasco Ibarra, eleito cinco vezes presidente.

A capital é Quito, mas a maior cidade é Guayaquil, com população semelhante a Belo Horizonte. Produtos principais: café, cacau e, em especial, banana. Coberta sua superfície, principalmente pela floresta amazônica, há predomínio da exportação de petróleo – 50 % de sua pauta. Durante certo período, 14 presidentes da República foram derrubados. Quem pode não deve perder a oportunidade de conhecer o arquipélago de Galápagos, primeira região do planeta a integrar a lista de patrimônio mundial da Unesco. Lá pelo menos, há sossego.


86981
Por Manoel Hygino - 20/1/2024 07:30:25
Histórica edição

Manoel Hygino

Tem completa razão o presidente da Amagis, Juiz Luiz Carlos Rezende e Santos, ao referir-se à edição histórica lançada pela entidade há poucos dias: “É publicação para ser lida com prazer e guardada com carinho por todos que atuam e têm apreço pelo Judiciário e, de modo especial, por estudantes de Direito em todos os níveis”.

Depois da edição especial, em parceria com a Escola Judicial Edésio Fernandes, protagonizando a vida de um dos mais brilhantes magistrados deste país, Hermenegildo Rodrigues dos Santos, houve a publicação sobre vida e obra de outros dezoito elaborada por quem com eles conviveu e aprendeu a admirá-los.


Mais recentemente e para deleite intelectual de um infindo número de leitores, eis que se focaliza a trajetória exemplar de Raphael de Almeida Magalhães, a partir da inesquecível palestra do desembargador Luciano Pinto. Para não deixar por menos, a edição contou com prefácio de Rodrigo de Almeida Magalhães, bisneto de Raphael, professor de Direito na PUC e na UFMG.

Com tão rico material, o jornalista responsável pela revista, Manoel Marcos Guimarães, a excelente ilustradora Sandra Bianchi e a projetista gráfica Rachel GM Magalhães puderam regalar-nos com uma produção do maior significado histórico, cultural e artístico. Sem falar na relevância da edição para enfatizar a nobre missão de nossos magistrados.

Dá-se relevância ao sentido da missão desses profissionais do Direito na prática da tolerância, em que foi exemplar Raphael de Almeida Magalhães, “nascido na aristocracia do Império, educado no Rio de Janeiro e São Paulo, mas foi em Minas Gerais, lá na margem direita do Grande, nos longes do sertão do Tamanduá, na comarca de Campo Belo, que ele se sentiu filho de Minas Gerais e nas Minas Gerais ficou para sempre”.

Segundo Luciano Pinto, seu focalizado “não se desinteressava da vida pública e a formação liberal e harmoniosa de sua personalidade o incompatibilizava com os destemperos, tanto da demagogia como do regalismo”. Ao depoimento de Mendes Pimentel, amigo de todas as horas, assíduo companheiro nas caminhadas diárias para as sessões de cinema, no seu depoimento a que recorro mais uma vez: “Aquele cuja memória aqui nos congrega teve, como os que mais o possuíam, o senso crítico, a consciência da injunção política. Mas tanto o aborrecia o demagogo como o déspota. No seu espírito nunca se desatou o binômio da ordem e da liberdade. E, se não tolerava a bufonaria dos exploradores das multidões, também não compreendia que a defesa da autoridade precisasse trancar permanentemente a igualdade de direitos entre os cidadãos”.


86975
Por Manoel Hygino - 18/1/2024 08:40:14
Povo e gente

Manoel Hygino

A violência no Brasil é fenômeno que impressiona toda a sociedade, inclusive a que vive em outros países. Ela é estudada porque nãos e compreende com facilidade como um país como o nosso- com suas dimensões, com suas imensas riquezas, ocupando o maior território de um hemisfério, habitado por populações que se caracterizariam pelo pacifismo e solidariedade chegou ao ponto em que está. Raquel Galinati, delegada de Polícia, diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, mestre em Filosofia e pós-graduada em Ciências Penais, processo Penal e Direito de polícia Judiciária, em artigo para jornal de Belo Horizontem, expôs a questão em sua grandeza: “A compreensão da raiz da violência urbana requer um olhar além das lentes ideológicas, direcionando o debate para questões estruturais, sociais e históricas que alimentam esse problema”. A situação a que chegamos inquieta. Intelectuais de nome como Sílvio Romero ingressaram em ia equivocada ao abordar a questão e atribuir ao desvio da população ao arianismo e com o domínio das raças inferiores no país. Encontrou um adversário à altura o Manoel Bonfim a partir da primeira década dos anos 1900. Enquanto Romero se preocupava com a degradação a raça brasileira e com o domínio das raças inferiores, o contendor, usando a Imprensa, o contesta com veemência e ao “pessimismo da sociologia da cobiça”, que nos classifica como “incapazes e inferiores”. “O bravo sergipano defende a correção de rumos e regeneração, ou a vitória sobre a opressão, por meio da educação popular. Segundo Vera Alves, para Bonfim a correção se teria de fazer por meio da educação popular, o estudo das ciências. A instrução básica, pública e de acesso a todos- a educação que liberta e traz a independência- é a grande saída revolucionária para acabar com as generalizações e simplificações errôneas, não fundamentadas por nenhuma ciência que possa realmente se entendida como tal”. Como Manoel Bonfim, Darcy Ribeiro acreditou que “a educação popular tem um papel indispensável em nosso esforço de autossuperação. Somente através dela conseguiremos que os brasileiros de amanhã manifeste em sua extraordinária criatividade, não só no exercício do futebol e no carnaval, mas em todas as formas humanas de expressão”. Manoel Bonfim viveu muito pouco, mas deixou lições fortes. Deixou, por exemplo, o ensinamento de que “Viver é acrescentar alguma coisa ao que já existe”. Para isso, imprescindível união, sem querer extraviar vantagens, com descaso pelo povo trabalhador, que não há de ser visto como mera fonte de energia produtiva, que a sociedade possa usufruir como bem desejar.


86977
Por Manoel Hygino - 16/1/2024 08:27:22
Fatos históricos

Manoel Hygino

Em curto espaço de tempo, a Academia Mineira de Letras perdeu três de seus ilustres membros: Maria José de Queiroz, Olavo Romano e Orlando Vaz Filho, cujas vagas não foram ainda ocupadas. Fazem faltas e farão, pela contribuição que deram à entidade enquanto já atuaram. Do segundo, há de lembrar-se declaração feita no Congresso das Academias Estaduais de Letras, em outubro em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul: “Primeiro, que o sentido da academia é confraternizar. É uma reunião de opostos, de tolerância, amizade. O colega de academia é chamado de confrade. Não importa o que ele pense, a sua cor política. A academia é um espaço de tolerância, amizade e fraternidade”.

Provisoriamente, são 37 que ocupam suas cadeiras. Logo, serão 40, como a Academia Brasileira, voltada para a inteligência, a história, as artes, à literatura especificamente, a cultura. O atual presidente - Jacyntho Lins Brandão, sucessor de Rogério Faria Tavares - dá sequência a um ciclo renovador, que se percebe e se sente. A mansão da rua da Bahia, antiga residência de Borges da Costa, um expoente da Medicina, é um símbolo e um marco na história da capital.

Em outubro, as doutoras Sara Rojo e Júlia Morena Costa promoveram na AML a palestra “Diálogos entre Texto, Cinema e a Obra do escritor chileno Roberto Bolaño”, quando se deu também a noite de autógrafos do livro de Sara “Imagens e teatralidade na narrativa de Roberto Bolaño, da teoria à teatralidade”. É obra que enriquece a produção do Bolaño, usando diálogos no contexto teatral e no cinematográfico.

Em novembro, o sodalício recebeu o poeta e acadêmico Afonso Henriques Beto, para a palestra “A poesia entre os Guimarães e os Guimaraens”. Foi quando se lançou o livro “Correntezas em tinta e versos - Quatro séculos e poesia na família Guimaraens”, sendo mediador Ângelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto e também acadêmico.

Não deixo de registrar que, em 30 e 31 de outubro, mais uma vez a Academia lançou luz à história, ao patrocinar e apresentar o seminário “Compilador Mineiro, 200 Anos”, reverenciando a memória dos que promoveram a edição do “Compilador Mineiro”, que legou marca imperecível ao jornalismo brasileiro, pois se perenizou como o primeiro periódico redigido e impresso na província de Minas Gerais, em 1823, dois séculos antes pois.


86972
Por Manoel Hygino - 13/1/2024 07:20:38
Voz do povo

Manoel Hygino

As cidades têm defensores de seus patrimônios naturais, históricos e culturais, principalmente se há meios de preservá-los, sem prejudicar a exploração, assegurando bens naturais de forma sustentável. E sustentabilidade é vocábulo inserido habitualmente em debates sobre meio ambiente. Em Montes Claros, maior cidade do Norte de Minas, um dos defensores dela é José Ponciano Neto, técnico em Meio Ambiente e Recursos Hídricos e membro da Comissão de Geografia e Ecologia do IHG do município.

É ele defensor de outras ideias, válidas para todos os municípios e regiões – não só de Minas. É o que depreendo de documento que me chegou às mãos, há bastante tempo e cuja divulgação retinha para melhor avaliar.

“Cinco grandes inimigos da paz habitam dentro de nós: a avareza, a ambição, a cobiça, a fúria e a vaidade. Se conseguíssemos desterrá-los, gozaríamos irrevogavelmente da perpétua PAZ”.

O nosso querido país, “abençoado por Deus e bonito por natureza” está literalmente nebuloso, propício a... Sei lá o quê!

A maioria dos nossos patrícios está mostrando que estão afundados no delírio ideológico, evidenciando uma índole inaceitável com muita ignorância.

As facções políticas – de ambos os lados – não querem externar a seus “seguidores” que a paz e uma boa administração são muito mais importantes que determinadas utopias. Estão armando os seus escudeiros com a arma do ódio, uma arma perigosa para provocar uma guerra civil - verdadeiramente um atraso feudal do estado patrimonial; o ódio instiga conflitos entre amigos e familiares.

No tocante ao algoritmo das plataformas, estas estão recheadas de “seguidores” espalhando notícias falsas (fake news) – política do macarthismo. Lamentavelmente, os responsáveis por elas não têm qualquer interesse na qualidade dos conteúdos. Com isso, estão impelindo muitos brasileiros para uma ilusão de animosidade geral entre os eleitores e regiões.

O brasileiro nunca pensou que os políticos são tão cegos diante da relevância de seu cargo e a importância de seu papel na sociedade. Basta observar a maneira como reagem diante de qualquer fraude, crime físico ou catástrofe. São insensíveis! Reações que acabam promovendo mais ódio.

Pelo amor de Deus! Dias destes, li uma frase que diz tudo: – “O Brasil está sendo desfigurado dentro de nossas cabeças”. – certo!

Enquanto nós estivermos nesta guerra civil do ódio, vamos sofrer com a violência do povo contra o povo.


86971
Por Manoel Hygino - 9/1/2024 07:59:14
O bem público

Manoel Hygino

Não vive a nação os seus melhores momentos. Ainda repercutem nos cérebros e nos corações os sentimentos que resultaram dos lastimáveis acontecimentos de 8 de janeiro de 2023. No primeiro mês, deste novo ano, são lembrados os atos do janeiro passado, quando se quis e se pretendeu incendiar o ambiente político no país que ainda busca o ambiente propício ao pleno desenvolvimento a que está destinado superiormente.

Não venceram as aves de mau agouro, mas persistiram as imagens de destruição que invadiram as sedes dos três poderes da República. A desmedida polarização não se prolongou pelas mãos e artifícios dos que não souberam pensar no futuro do Brasil e dos que nele habitam e as futuras gerações. Estas guardarão na memória um espetáculo deprimente que em nada representaram ou representariam em favor do bem nacional. Mas, de todo modo, predominou o bom-senso, o patriotismo, que precisam ser ressaltados e reconhecidos, agora que o mau tempo é pretérito.

Em 1973, também num janeiro, precisamente no dia 31, faleceu aqui o historiador João Camilo de Oliveira Torres, debruçado sobre os processos e os problemas da autarquia INPS, cuja sorte ligou à sua própria vida. Atleta do bem comum, como o classificou o professor de Direito Antônio Augusto de Melo Cançado, membro da Academia Mineira de Letras e ex-secretário de Estado, João Camillo era autêntico “republico”, condição desconhecida ou olvidada pelos planejadores e autores do atentado de 8 de janeiro.

Os bens invadidos e criminosamente danificados eram bens do povo, isto é, “Res Pública”, pertenciam à comunidade nacional que nos abriga, eram de todos e de cada um.

Mello Cançado, mestre-confrade, recorda: “Ora, se o Governo o assume de forma monárquica ou republicana- constitui uma coisa do Povo, pelo que se compreende muito bem porque Dom Pedro II podia ser obstinado republico sem jamais ter adido republicano”.

E que dizer ou pensar dos que decidiram e agiam contra os núcleos maiores das decisões da pátria nas casas dos três Poderes? Pelo menos, que os fatos rendam algum ensinamento útil, é o mínimo que se haverá de rogar a Deus, mas há aqueles que n’Ele não confiam. De todo modo, divido a ideia de que “há renovadas esperanças de que avançamos para a ideia de valores normalmente ascendentes. Deixaria nosso planeta de ser de expiações para ingressar no patamar da negociação, com a prevalência da luz sobre as Trevas, do bem sobre o mal”, como se expressou dias atrás, o jornalista Paulo Narciso, com sua convicção segura e serena.

Não nos inclinemos aos baderneiros e seus tributários. O Brasil merece fé, para alcançar um futuro venturoso.


86969
Por Manoel Hygino - 6/1/2024 07:41:59
Guerra ou Paz

Manoel Hygino

Estamos em tempo de paz? Não é o que parece. Basta passar as páginas dos jornais e conferir. Não temos paz, por mais que a humanidade peça e o Sumo Pontífice pregue.

Os números de mortos expostos nas estatísticas podem parecer irreais. Estamos pessimistas. No entanto, não é exatamente o que acontece. Desde o fim da II Guerra Mundial, de pérfidas e dolorosas lembranças, nunca se matou tanto em tantos lugares do planeta.

Oitenta anos são transcorridos do final da II Grande Guerra, uma das piores carnificinas da história da humanidade, em cruel período da história. Será que as lideranças mundiais não se apercebem do que patrocinam? Os exemplos passados são efetivamente passados? Muitas interrogações nos pairam, mas deveriam ser permanente fonte de dor e inquietação.

Apanho o jornal. Lá está: a recém-lançada Pesquisa de Conflitos Armados, do Instituto Internacional de Estados Estratégicos, registra que houve mais pessoas mortas de 2023, do que no ano anterior: mais de 14 por cento este ano do que em 2022 - nada menos de 267, mil humanos perderam a vida.

Perderam a vida é modo de dizer. São pessoas como nós, que vivem nas ruas das várias nações e imolados. Em nome de que? Que motivos maiores os levaram a pena de morte?
E, no entanto, consta que estamos em tempo de paz? Que paz é essa, no Oriente Médio se travam cruentas lutas, como em outras épocas da história? E a Rússia, há mais de um ano, mantendo sua guerra não declarada contra a Ucrânia?

De plantão, Maduro - na Venezuela - movimenta soldados nas cercanias da Guiana. Um simples jogo de soldadinho de chumbo? Do outro lado do mapa, o aparentemente débil mental Kim Jon Um determina estado e alerta máximo a suas tropas. E a Coreia do Norte, vamos lembrar, é potência nuclear.

Fazer o que?

Estadistas ou dirigentes de nações que não querem guerras são vistos com maus olhos. Consolidou-se a ideia de que somente belicamente se consegue paz. São velhos conceitos e pensamentos que resistem até ao prognóstico de pacificação dos povos. Não é promissor o rumo que ora se toma. Frias, as estatísticas da tragédia darão a resposta.


86967
Por Manoel Hygino - 3/1/2024 11:39:31
Vez dos Pardos

Manoel Hygino

A imprensa do país deu ênfase à notícia do dia 13 de dezembro: oferecendo um retrato do Brasil, informava que, pela primeira vez, a maioria de nossa população é de pardos. Além: quem o contava era o próprio segmento assim classificado. Em resumo: nós dissemos que éramos pardos na maioria, segundo o Censo do IBGE em 2022. A parcela de brancos caiu de 51,6% para 43,5% presentemente, ao passo que a de pardos se declarou de 45%, tendo aumentado além dos 42,5% anteriores.

Com informes coletados pelos recenseadores mostraram que, entre 2010 e 2022, a participação dos pardos cresceu em todos os grupos de idade pesquisados, enquanto a população branca sofreu diminuição em todas as faixas etárias.

Dado que desperta curiosidade: no país, apenas nove municípios exibem população predominantemente preta, o que equivale a 0,1% das cidades brasileiras, sendo oito na Bahia, e apenas uma no maranhão - Serrano do Maranhão.

A gente negra está dispersa na imensidão do território nacional, com concentração no Recôncavo da Bahia. No restante do país, observa-se uma concentração importante no Rio de Janeiro. Outro detalhe: em Morrinhos do Sul, em terra gaúcha, 97% se autodeclarou branca, o índice mais elevado em todo o território nacional.

Restaria, para sentir melhor a questão, saber quem é pardo.

Busquei informação em Manik Zacharias, médico, já falecido, nascido em Curitiba, muito perseguido pela revolução de 1964, que o manteve preso por extenso período. Zacharias, estudioso de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, elaborou um index com cerca de mil páginas (Lexicologia de “Os Sertões”) explica que sobre “a cor parda, intermediária entre o branco e o preto, ou entre o amarelo e castanho”, ou “indivíduo de pele escura, mulato”. Quanto a mulato é “mestiço de branco e negro”.

Mais adiante, para definir “mestiço”, explica que se origina de raças diferentes, nascido de país de raças diferentes. O pesquisador curitibano amplia seu pensamento, à base de Euclides: “Adstrita às influências que mutuam, em graus variáveis, três elementos étnicos, a gênese das raças mestiças no Brasil é um problema que por muito tempo ainda desafiará o esforço dos melhores espíritos”.

E, na página 87: “Oras toda essa população perdida num recanto dos sertões, lá permaneceu até agora, reproduzindo-se livre de elementos estranhos, como, que insuflado e realizando, por isso mesmo, a máxima intensidade de cruzamento bem definido, completo”.


86959
Por Manoel Hygino - 30/12/2023 07:48:46
O Menino Transmutado

Manoel Hygino

Não era para eu estar aqui, hoje, com este comentário. O Natal 2023 já se foi, as pessoas cuidam do iniciado novo ano e dos problemas que afligem o mundo nestes dias iniciais do calendário. Mas a figura do Menino Jesus, tão da ternura da gente cristã, permanece diante dos olhos e do coração de milhões, mesmo dos judeus.

Daniel Polish, diretor da União das Congregações Hebraicas Americanas, sobremodo admirado em sua pátria e entre os de mesma religião, comenta: “há um Jesus que não tem precedente na vida judaica - o Menino Jesus”.

O Menino Jesus, por sua vez, costuma ser central e coerentemente inevitável como componente da vida religiosa cristã.

Como entender a força do Menino Jesus na tradição cristã? Tal como outros ritos e símbolos religiosos, há nesse fenômeno mais coisas do que os olhos veem - ou que pode ser acessível à mente consciente do praticante religioso. É mais fácil que eu, como observador externo, entenda esse fenômeno religioso em analogia com um aspecto específico da tradição religiosa na Índia.

Nesse universo religioso, encontramos o conceito de bhavas: as várias maneiras de amar a Deus. As várias modalidades de amor humano que vivemos em nossa vida podem vir a ser entendidas como vislumbres ou analogias com as emoções que sentimos em relação a Deus. As várias expressões de fé encontradas em Krishna articulam certo número dessas maneiras ou bhavas. O amor que sentimos pela família e pelos amigos pode ser um modo de compreendermos o que é amar a Deus.

As emoções que os servos sentem em relação a seus senhores, os sentimentos de um amigo ou de um amado, todas essas coisas são transpostas em emoções que podemos sentir em relação a Deus. E figura entre as bhavas o amor dos pais pelos filhos.

Caminhando para concluir, escreve o rabino: “... essa bhava do amor pelo recém-nascido é o que se acha na base da veneração do Menino Jesus. A devoção a Jesus como menino é encontrada com tal regularidade e irradia tal intensidade que, articulada ou não, reflete mais do que uma dimensão incidental da vida cristã. Mais que mera curiosidade ou alusão histórica, a força do motivo do Menino Jesus serve de vínculo à descoberta de intensas emoções, no âmbito de nossa própria experiência, que podem ser transmutadas - “despertadas” para servir a um propósito religioso mais elevado. O amor que os pais sentem pelos filhos se transmuta, por meio do envolvimento com o Menino Jesus, no amor que podem sentir por Deus. O menino – no cristianismo, o Menino Jesus - se torna a passagem para a expressão intensa de um amor mais grandioso”.


86954
Por Manoel Hygino - 27/12/2023 07:59:45
Esperando a paz

Manoel Hygino

Até por ser natural de Mariana, primeira capital de Minas, não deixa Danilo Gomes, um dos grandes cronistas e poetas deste nosso tempo, de lembrar-se dos amigos e colegas de faina na Imprensa, ele que desde a época que integrava a equipe do DIP de Getúlio Vargas servia ao Catete. Assim, não se aposenta de todo. Há pouco, por exemplo, enviou a seus privilegiados correspondentes o texto do artigo de 19 de dezembro do imortal José Sarney. A página exige leitura.

O ex-chefe da nação evoca a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o mais importante documento publicado pela ONU, em 10 de dezembro de 1948, escrito por grandes personalidades como Austregésilo de Athayde, o canadense John Peters Humphrey, o libanês Charles Malik, o chinês P. C. Chang, e o francês René Cassin.

O articulista ressalta: “Não é uma convenção e não tem efeito vinculante, de modo que ninguém a obedece. Se tivesse efeito vinculante, também não seria obedecida: nada é tão desrespeitado no mundo quanto o que dizem as Nações Unidas”. Em 1985, ele próprio, Sarney, encaminhou mensagem ao Congresso Nacional comunicando a adesão do Brasil ao Pacto de San José, em vigor desde 1978, a que não havíamos aderido. Em agosto daquele ano, Sarney assinada a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis ou Degradantes, hoje garantidos por força da Constituição.

Observa ainda. “Para nós, cristãos, a História dos Direitos Humanos traz lembranças fundamentais nesse sentido. Não há dúvida sobre a mensagem de Jesus Cristo. Os catecúmenos, em Roma, seguiam para o martírio sem resistência: o exemplo do desfazimento do gesto de Pedro resistindo com a espada não podia ser mais claro. Mas a Europa cristã foi o modelo de barbáries, culminando com as cruzadas e as guerras de religião, em um fundo de discriminação, violência, ódio. O mesmo retrato pode ser feito o islamismo e o judaísmo: a paz que a palavra sagrada traz e destorcida para virar violência que não respeita nem as bárbaras “leis de guerra”. E, com a diferença da complexidade da fé no resto do mundo, a situação se repete universalmente.

O ex-presidente escritor conclui seu precioso artigo, comentando com muita propriedade porque estamos entrando em novo tempo: “E, assim, por seu extraordinário efeito moral que a Declaração dos Direitos Humanos influencia a evolução da sociedade. É lenta, mas paulatinamente vai sendo seguida”.


A violência - na guerra ou no crime comum -, a discriminação, a desigualdade de direitos recebem, cada vez mais, o repúdio universal.

Haverá um dia em que a indústria de armas será substituída pelos gestos de Paz. E poderemos nos juntar aos anjos para cantar na chegada do Menino: “Glória a Deus nas alturas e Paz na terra entre as pessoas de boa vontade”.



86952
Por Manoel Hygino - 26/12/2023 07:10:19
Um lugar ao Sul

Manoel Hygino

Começou por São Paulo. O Brasil inteiro julgava que o progresso tinha ponto fixo, instalado historicamente no Sudeste. Populações expressivas do Nordeste, do Oeste, do Norte e mesmo do Rio Grande do Sul se deslocavam para ali se realizar. No período colonial, coube a um mineiro, Antônio Gonçalves Chaves, assumir o cabresto do Executivo catarinense. Era de Montes Claros, cidade do sertão mineiro que tinha fama de gente decidida, capaz de vencer as dificuldades e desafios daquele período penoso.

De Santa Catarina, lia eu a prosa de Enéas Athanázio, lá do aprazível Balneário de Camboriú, magistrado a quem se devem excelentes livros, que somam dezenas e que a todos agrada; e Emanoel Medeiros Vieira, e com a grave responsabilidade de relatar suas ideias e experiências, perseguido pela ditadura, e agora descansando prematuramente de sua tortuosa aventura humana.

Agora, pela Editora Caminho de Dentro, de Florianópolis, Alcides Buss, publica “Em nome da poesia”, já aplaudido no estado do autor e que nos premia com 350 páginas de memórias, cuja narrativa se estende do ciclo da vida nacional que vai da queda de Getúlio Vargas ao governo Lula, novamente à frente dos destinos nacionais.

É missão extensa, mas agradável e, até, didática. O relato parte de Trombudo Central, no Vale do Itajaí, percorrendo imenso território, passado por Medianeira, na tríplice fronteira de Foz do Iguaçu, alargando-se em Joinville, para desemborcar-se finalmente na bela ilha de Santa Catarina. Uma avenida feliz.

Uma biografia, aventura sim, mas diferente. Vazado o texto em segunda pessoa, a narrativa da vida do poeta se torna numa espécie de pando de fundo e serve de fio condutor dos atos sociais, culturais e poéticos, como o diz o próprio poeta.

Essencial é que o leitor se torna conhecedor de extensas regiões e cidades de um estado riquíssimo em atrações da natureza, de pedaços do território brasileiro, até hoje ainda menos conhecido que deveria e das cativantes gentes que o conhecem. Buss, enfim, ajuda-nos a apreciar o que Santa Catarina tem e que pela leitura, nos revela de modo esplêndido.

Um belo presente, enfim, de Natal, válido para um novo ano, que se deseja mais propiciador de realizações e alegrias do que o que fica perdido no calendário pretérito. Estes são os votos que brasileiros se desejam.


86949
Por Manoel Hygino - 22/12/2023 09:32:59
No cômputo da morte

Manoel Hygino

Quem assiste às transmissões de televisão ou ouve as rádios no Brasil se espanta com a sucessão de crimes contra a vida, mesmo que não se fale nos casos de acidentes, principalmente em rodovias ou nas ruas das cidades. “Um desperdício de gente que morre”, ouvi dizer. E é verdade.

Mas boa parte das pessoas classifica de morticínio praticado pelos fora da lei que agem incessantemente durante o dia ou à noite. Não há a rigor um horário delimitado para descarregar uma arma nas grandes cidades e despachar alguém para a eternidade, como se afirma.

O Brasil é forte no ramo. Na primeira semana de dezembro, leu-se nos jornais ou ouviu-se pelos meios eletrônicos de comunicação, que o Brasil lidera o ranking da ONU pelo maior número de homicídios em números absolutos. A informação está no Estudo Global sobre Homicídios 2023, então divulgado pela Organização das Nações Unidas.

Nosso país registrou 47.722 casos em 2021, seguido da Índia, com mais de 41 mil. Do total de 458 mil homicídios no mundo, 10,4% ocorreram no Brasil. São números de que não se deve orgulhar, antes pelo contrário.

No planeta que habitamos, mais pessoas foram vítimas de homicídios do que em conflitos armados e terrorismo combinados naquele ano. Para ser mais sucinto, bastaria registrar que a média global foi de 52 vítimas por hora, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

A América pode lamentar-se ao tomar conhecimento de que o mundo descoberto por Colombo continua com a maior taxa do mundo – 15 pessoas a cada 100 mil habitantes. Em 2021, perderam a vida, seis vezes mais que a Europa.

Nesse cômputo, os homens representam 81% das vítimas de homicídios, mas as mulheres têm maior probabilidade de serem mortas por familiares ou parceiros íntimos. As mulheres correspondem a 54% de todos os homicídios domésticos e a 50% de todas as vítimas de homicídio por parceiros íntimos. Outro dado alarmante: 15%, ou seja, 71,6 mil das vítimas eram crianças.

Estas estatísticas poderiam servir para um reposicionamento de cada um e todos quando ingressamos no novo ano. Que o Natal de 2023 abra portas de esperança e de real felicidade.


86947
Por Manoel Hygino - 20/12/2023 08:48:24
A transparência

Manoel Hygino

A tradição do Brasil no caso de criminosos e crimes não é das melhores. Nos velhos filmes de Hollywood, ainda em preto e branco, via-se que os condenados ou suspeitos de ilegalidades eram encaminhados ao Brasil. Era a maneira de não se obrigar o bandido a cumprir penas no país de origem.

A situação mudou muito. Temos gerações de foras da lei produzidos por cá mesmo ou em nações limítrofes. Organizações criminosas poderosas operam por aqui, fazem vultosos negócios e são atuantes internacionalmente. Basta conferir pelos veículos de comunicação para se certificar a veracidade da informação. Episódios típicos e escabrosos são noticiados em horários certos por tevês e rádios.

Mata-se no país, muito mesmo. Determinadas áreas do Rio de Janeiro estão infestadas de criminosos, que fazem dali o seu ponto de apoio e o seu sustento. Pesquisa Nacional de Vitimização e Segurança Pública, feita pela Quest Consultoria e Pesquisa, em parceria com o Centro Internacional de Gestão Pública e Desenvolvimento da UFMG, realizada no recente novembro, em todo o país, revelou a redução da pobreza e da desigualdade como solução para o problema da violência.

Confiança maior é com a Polícia Federal.

Mas Andrea Dip e Maria Isabel Couto, do Instituto Fogo Cruzado, alertam para outro aspecto da questão, como publicado em jornal de BH, com assinatura também de Ricardo Terto: “As chacinas policiais no Rio de Janeiro não são algo que ficou no passado”, pelo contrário elas são parte da política cotidiana. Todavia 1.137 civis foram mortos nesses desastrosos embates com militares.

Ocorreram três chacinas ao mês, em média. Apesar das estatísticas assustadoras evidenciarem uma guerra diária permanentemente, por outro lado, há a percepção de que o estado brutal de violência não impacta mais a população.

Em resumo, a violência continua, sobretudo, em certos estados. E a Polícia pensa que está agindo como é preciso, mas o fato não é verdadeiro. Faltam dados imprescindíveis ao combate sistemático, o que exige inclusive transparência. Sem ela, sem confiança, nada feito.


86946
Por Manoel Hygino - 19/12/2023 08:57:20
O aço nacional

Manoel Hygino

Enquanto se atenta para a situação da dívida do Estado de Minas Gerais com a União, embora este não seja o único grande problema, outros estão surgindo no panorama da economia montanhesa como a produção e exportação de aço. E se trata de um excelente item na pauta de vendas ao exterior do país.

A imprensa, às vezes mal interpretada, tem advertido repetidamente para o que ocorre. É que, sem proteção ao item nacional, a importação do produto asiático, principalmente da China, pode subir 20% no ano que vai começar. Segundo estimativa do Instituto do Aço Brasil, este percentual vem somar-se aos 50% já aumentados em 2023.

Ao ver os números, os empresários do setor temem, mas parece que o governo federal não se impressiona. Minas Gerais abriga a Usiminas, a CSN- Companhia Siderúrgica Nacional, a Gerdau, a Aperam e a Acelor-Mittal, padecendo de maturação e inquietação diante da invasão do dragão chinês.

Já diminuindo sua produção justamente, nossos produtores de aço pressionam para ampliar a taxa de importação para 25%, a fim de encarecer o aço importado e, assim, incentivar a siderurgia brasileira. É o que se sente, vê-se a que se assiste. A Aperam, sediada em Timóteo, no Vale do Aço, tem clientes em quarenta países e capacidade para produzir 900 mil toneladas por ano, mas se vê constrangida a reduzir sua expansão.

As siderúrgicas insistem em atitudes da União, sem sucesso. A direção das empresas é objetiva: se o governo não tomar atitude, pode destruir uma indústria estratégica para a nação. A posição sustentável do empresariado está se tornando cada vez mais desafiadora.

Existe ainda o aspecto mão-de-obra. Se não houver providências no Brasil no novo ano, haverá possibilidade de demissões nas empresas siderúrgicas nacionais, a não ser que a União dificulte o ingresso do produto estrangeiro.

Até que algo se faça, ficamos na pior. E os chineses, do outro lado do mundo, dão um sorriso amarelo, porque não há falta de aço naquele lado do planeta.


86945
Por Manoel Hygino - 16/12/2023 07:53:31
As estatísticas revelam

Manoel Hygino


Os problemas existem e não são poucos no Brasil e para os brasileiros. Os recentes dados divulgados pelo IBGE, em sua Síntese de Indicadores Sociais, advertem para uma situação que todos bem sabem inclusive os mineiros, mas que não logram eliminá-la.

As informações são um documento que o organismo federal atira à consideração dos gestores da coisa pública, vive o país, que não conseguem extingui-los. Uma análise das condições de nossa população traz dados interessantes à velha e rica província da qual se extraiu tanto ouro e outras riquezas em benefício dos colonizadores.

Segundo o Instituto, quase 60% (exatamente 58,2%) dos mineiros vivem - eu prefiro usar o verto sobreviver - com até R$ 1.212, que constituía o salário mínimo mensal. Claro que Minas, orgulhosa de ter a maior malha rodoviária entre todos os estados, conhece à suficiência que esse dinheiro não dá sequer para manter o cidadão, muito menos uma família.

Seria de bom alvitre que as pessoas que ocupam cargos importantes e de decisão no país meditassem sobre os números e suas consequências. E há mais: 9% de nossos conterrâneos não tem qualquer rendimento. Como se alimentam? De que vivem? Não adoecem? Não pagam aluguel? Serão moradores de rua? Nas cidades de maior expressão, esses que dormem sob as marquises dos prédios ou de viadutos e pontes, ainda são beneficiados com alguns “favores” e o poder público ou de pessoas de boa vontade que buscam amenizar-lhes o cotidiano.

O presidente da República, em suas incessantes viagens por muitos países, apregoa a necessidade de acabar com a fome. E daí?

Ele, que é rouco, já anda com as cordas vocais em pandarecos, porque os apelos são intermináveis, até porque os responsáveis pela gestão pública não conseguiram êxito sem suas tentativas. A informação mais referida é de que cerca de 33 milhões de brasileiros apenas sobrevivem, enfrentando insuficiência alimentar permanente. Para equacionar o desafio, tem-se de propiciar trabalho para todos. Mas também isso não é oferecido a essa gente, que é apenas números nas estatísticas.


86944
Por Manoel Hygino - 13/12/2023 09:21:23
Um menos entre nós

Manoel Hygino

Como faço dominicalmente, recolhi-me, pela manhã, aos jornais para conhecer os fatos e vejo-me diante da notícia de falecimento de Orlando de Oliveira Vaz Filho, ocupante da cadeira nº 34 da Academia Mineira de Letras. Dela foi fundador Mendes de Oliveira, e sucessores Noraldino Lima, Nilo Aparecida Pinto, Juscelino Kubitschek, Affonso Arinos, Gerson de Britto Boson.

Anos atrás, Orlando e eu, fomos a uma solenidade na Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar, no Prado, ele evidentemente ao volante. Uma bela festa de letras e civismo. Orlando, advogado, foi secretário da Educação de Belo Horizonte, deputado estadual e diretor da Casa do Brasil na Cidade Internacional da Universidade de Paris. Ente os livros que nos legou estão “Otávio Mangabeira, trajetória de uma consciência”, e “Pedro Aleixo, um nome na História”, enquanto outros aguardam publicação.

Descendente de família da Zona da Mata, herdou muito das qualidades da gente daquela região. Preocupava-se com o Brasil de hoje, seu e meu, pensando soluções para os problemas que nos afetam, como o também jornalista e professor Aylê-Salassié Filgueiras Quintão, nascido em Piraúba, também autor de dez livros, inclusive sobre jornalismo econômico.

Sobre o último tema, aliás, Aylé assim se pronunciou: “O Governo está enrolado com a proposta do Orçamento para 2024, com votação, no Congresso Nacional, prevista para até 31 de dezembro. Trafega-se por duas opções: zerar este desequilíbrio; ou enfrentar um déficit primário estimado em R$ 168 bilhões , que alimenta o aumento da taxa de juros, a inflação e o endividamento do Estado, já circulando nas proximidades do trilhão de reais.

Lula não abre mão de gastar. Ele quer este 1% do PIB para bancar as eleições municipais. Ao contrário, o Ministério da Fazenda esforça-se para equilibrar as contas públicas - arrecadação versus gastos do Governo - e acabar com a inflexão nas contas nacionais , que vem se arrastando por dez anos, tendendo a piorar, e arruinar a confiança do Brasil no exterior. Já há, por aqui, empresas que fecharam as portas. O exemplo da Argentina assusta.

O Presidente não consegue, entretanto, descolar o Orçamento Fiscal do processo político eleitoral, este um consumidor contumaz dos recursos do Tesouro, e que terá R$ 37, 4 bilhões em emendas parlamentares individuais impositivas em 2024, sem contar os recursos para os partidos e para o Tribunal realizar as eleições . Diante desse quadro, o Produto Interno ( R$ 1,7 trilhão) parece perder o fôlego. Teve uma queda, no último trimestre, de 0,6%, segundo o Banco Central, contrariamente à expectativa gerada no campo político, de um crescimento de 2,0%”.

Com o adeus de Orlando, temos um a menos a pensar.


86942
Por Manoel Hygino - 9/12/2023 07:25:51
Venezuela e Guiana

Manoel Hygino

Há brasileiros que sequer supõem existir um país, que é limítrofe do nosso, chamado Guiana. The Cooperative Republic of Guyana" está localizada no norte da América do Sul, o único de colonização britânica da região. A população concentra-se na estreita planície costeira e a capital é Georgetown, da qual falei ao focalizarmos um missionário que lá perpetrou um suicídio coletivo que matou centenas de pessoas. O "religioso", por sinal, morou em Belo Horizonte, como conto.

Conflitos entre descendentes de indianos e de africanos, na Guiana, têm causado, no decorrer do tempo, instabilidade política. Seus principais produtos agrícolas têm sido cana-de-açúcar e arroz. Mas há uma histórica disputa fronteiriça com a Venezuela. Sua população é menor do que algumas cidades brasileiras, pois tem menos de um milhão de habitantes.

Sua história remonta a Colombo, que lá deu as caras no século XV, mas só começou a ser colonizada por holandeses da Companhia das Índias Ocidentais em 1621. Passa ao domínio inglês em 1814, mas, com a liberação dos escravos, em 1838, foram contratados indianos para trabalhar na agricultura.

Em 2009, inaugurou-se uma ponte sobre o rio Tacutu, ligando o país a Roraima, isto é, ao Brasil. Na oportunidade, os presidentes do Brasil e da Guiana assinaram um acordo de defesa, e, um ano após selou acordo que permite ao Irã mapear jazidas de urânio no país, enquanto a oposição acusa o governo de compactuar com o programa nuclear iraniano.
Eis a questão.

Agora, o Irã é um dos protagonistas indispensáveis na guerra Israel e Hamas contra Israel, iniciada em 7 de outubro. Estamos possivelmente caindo em uma emboscada grave, sem responsabilidade maior. Em todo caso, o jogo vem sendo armado com a Venezuela montando uma operação militar visando a construção de uma base aérea exatamente na fronteira com a Guiana.

E mais: o presidente Maduro organizou um plebiscito em 3 de dezembro para definir se o território, ora ocupado por guianenses e que se quer que passe à Venezuela.

A consulta popular resultou favorável aos planos políticos e expansionistas de Maduro. Este se exultou com a aprovação de seus súbitos ao plano, que pode causar um perigoso centro bélico na América Latina. É algo tenebroso e inquietante.



86939
Por Manoel Hygino - 6/12/2023 08:00:30
Hora de apoio

Manoel Hygino

A população continua crescendo. Basta conferir as estatísticas desde a inauguração em 1897. E a Santa Casa de Belo Horizonte, fundada em maio de 1899, não foi permitido deixar de seguir esse rumo e, as capitais estaduais não dispunham de uma maternidade pública, quando, em 1916, a instituição inaugurou a primeira no bairro do Quartel, seja dizer, Santa Efigênia.

A entidade se tornou mantenedora do maior complexo de saúde de Minas Gerais, o que é objeto de muito orgulho, mas, também de muita exigência. Tinha-se de acompanhar a evolução da cidade e da gente que a habita e de seguir o aprimoramento científico e técnico com vultuosos investimentos.

Imprescindível levantar recursos. Escolheu-se o lançamento de uma campanha para levantar recursos para a reforma estrutural da UTI Neonatal, exatamente no 50º aniversário da Neonatologia da instituição. Crianças continuam nascendo, logo...

A missão se tornou uma referência nas Minas na assistência aos recém-nascidos e prematuros que nascem com menos de 1 quilo e 30 centímetros, além daqueles bebês com malformações neurológicas, pulmonares, gastrointestinais, geniturinárias e cardiovasculares. E o tratamento é feito para atender cerca de 90% dos 853 municípios mineiros. Diga-se de passagem, que a Santa Casa BH é a única instituição 100% SUS no estado, que realiza esse tratamento. É útil para quem quiser doar para reforma programada saber que, no ano passado, a instituição realizou 1.172 internações na UTI Neonatal, com projeção de crescimento de 1.750 internações para o ano de 2023.

Para que esse importante trabalho continue sendo realizado com excelência, é necessário realizar uma reestruturação da UTI Neonatal. Atualmente, a unidade dispõe de 64 leitos, sendo 20 de UTI (Unidade de Terapia Intensiva Neonatal), 14 leitos de UCI (Unidade Cuidados Intermediários Neonatais e Canguru) e 30 de Alojamento Conjunto (recém-nascido permanece ao lado da mãe).

Neste período difícil do ano, com variações no tempo inclemente, que reforma estrutural foi planejada em todos os detalhes, incluindo melhorias das condições de climatização, iluminação e acústica, condições indispensáveis para o melhor atendimento e desenvolvimento dos bebês, que necessitam de cuidado integral e individual, conforme as suas necessidades.

De acordo com a coordenadora médica do Instituto Materno Infantil Santa Casa BH, Dra. Filó, também grande referência na pediatria mineira, a chegada de um bebê é momento de muita alegria. No entanto, para alguns recém-nascidos que necessitam de cuidados imediatos para viver, a jornada começa como um grande desafio. Para os bebês prematuros, o tempo é uma questão vital. Não só na urgência imediata da vida, mas também na qualidade de vida do bebê. Ser padrinho ou madrinha da Campanha, significa proporcionar a um número ilimitado de crianças, a oportunidade de ter uma nova chance de vida com qualidade.


86938
Por Manoel Hygino - 5/12/2023 12:28:24
A Inteligência Artificial e a Justiça

Manoel Hygino

A Inteligência Artificial é um dos fenômenos de nosso tempo. De uma hora para outra, em país que não o Brasil, surgiu a notícia de seu descobrimento, mas nem todos ficaram sabendo exatamente de que se tratava e para que servia. Em todo caso, a Inteligência Artificial passou a ser conhecida e reportagens a seu respeito surgiram nos jornais, revistas e televisões. Era a consagração.

O desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, que fala bem, bem escreve, culto, e avançado em ideias, foi convidado a manifestar-se. E não foi em Belo Horizonte ou São João del-Rei, sua cidade natal. Seu nome fora selecionado para apresentação no X Congresso Internacional de Direito, da Consinter - Universidade de Barcelona, Espanha, é claro.

Aconteceu no dia da proclamação de nossa República, 15 de novembro, fazendo-o o magistrado oralmente e em síntese. Observei: “Abordei criticamente os juízes robôs. Querem robotizar os juízes. Querem transformar todo mundo em robôs...”.

Porque o tema é relevante, além de fascinante, o trabalho do magistrado, com 26 páginas, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, por ele integrado, decidiu por sua Diretoria Executiva de Comunicação - Dircom dar-lhe ampla divulgação. Por ele, o desembargador demonstra que “a Inteligência Artificial, desenvolvida no contexto da Quarta Revolução Industrial (4.0) é, sem dúvida, ferramenta útil para os diversos campos da atuação humana. Porém, algumas atividades por suas peculiaridades, não podem ser desempenhadas por todos”.

Ressalta-se, ainda, que o “Direito, desde os primórdios da civilização, evoluiu em um processo aberto e inovador”. E acrescenta que “essa marcha desaguou, contemporaneamente, na adoção das novas tecnologias e da Inteligência Artificial. Todavia, a conclusão da pesquisa é no sentido de que somente o juiz humano - de carne, osso e cérebro - poderá julgar com justiça”.

O desembargador adverte que se mostra na pesquisa correspondente que “centenas de tribunais brasileiros desenvolveriam projetos de Inteligência Artificial (IA) com objetivo de aumentar a produtividade, buscar a inovação, melhorar a qualidade dos serviços judiciários e reduzir custos”.

O Poder Judiciário não foi para enfrentar os desafios dos fenômenos de judicialização da política e “ativismo judicial”, em um País onde as deficiências estatais representam o cotidiano da sociedade. “A utilização da tecnologia e das novas ferramentas, portanto, são decorrências do princípio da eficiência, constitucionalmente consagrado”.


86936
Por Manoel Hygino - 2/12/2023 06:50:50
Hora de decisão

Manoel Hygino

Minas Gerais não pode permanecer à beira do abismo como parece que vem acontecendo. Decorridos meses, anos, a situação econômica do Estado e seu prestígio decaíram ao ponto mais rasteiro dos últimos tempos. A dívida com a União é extremamente elevada, mas não se admitirá que o nome da velha Província e seu prestígio sejam atirados ao lixo de problemas insolúveis.

A esta altura, apontar os nomes dos responsáveis pela crise inigualável não acrescenta para resolver a pendência que já passou por mais de um responsável e pela gestão dos negócios públicos. O quadro evoluiu para pré-calamidade e não se há de permitir a prevalência de vaidades pessoais e projetos dos que querem tirar proveito.

Estão em jogo preciosos valores representados por empresas públicas, que foram exemplo e orgulho da sociedade mineira, como a Cemig, a Copasa e a Codemig. Há a proposta para sua transferência a novos proprietários ou exploração de seus bens e serviços.

É uma tristeza imensa reconhecer, mas se tem de considerar que há meios e rumos para que as prestigiosas comunidades empresariais sigam como ativos públicos, inclusive com prestação de serviços em Minas Gerais, além das perspectivas de futuramente os créditos reverterem em proveito de Minas Gerais.

Não se trata de um bilhete de apenas ida. Pelos ativos até agora desenvolvidos, ao término de dez anos, ao invés da dívida de R$ 200 milhões, o Estado teria saldo zero ou pequeno resíduo a ser liquidado. Segundo um dos negociadores do enorme desafio enfrentado, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, haverá assim um resíduo favorável, embora pequeno, que poderá ajudar Minas a recuperar sua capacidade de investimento.

Não é momento senão de pensar em Minas Gerais, reabilitando o bom nome da velha província quanto a seus compromissos. Estamos em fase decisiva e os mineiros esperam que, enfim, se abram as portas para equacionamento definitivo de um problema que coloca tão mal os homens públicos e políticos de uma unidade rica em talentos, que saberão vencer prováveis resistências.

Após Pacheco, novas ideias e propostas surgiam à consideração. O bom senso vem de prevalecer, eis que o tempo se vai esgotando. Uma delas é que se federalizassem a CEMIG, por meio do BNDES, adquirindo o banco estatal as ações do Estado na energética. Analistas, todavia, acreditam que a federalização, como sugerido é um caminho sobremodo complexo, cujas vantagens não valem o esforço do governo. Mas o instante é chegado.


86932
Por Manoel Hygino - 28/11/2023 10:07:46
Esperando Milei

Manoel Hygino

O que acontecerá a partir de 10 de dezembro na Argentina é a grande interrogação que paira no ar. O presidente eleito cumprirá suas promessas, ousadas algumas? Uma série de expectativas se abrem porque o povo está sufocado por dificuldades, dores e angústias, após ter elevado o país a um dos mais avançados e ricos do planeta lá pelos anos 1920.

O candidato Massi, ex-ministro da Economia, perdeu o pleito, mas aí está Massi com a corda toda. Os antigos dias voltarão? Os sucessores de Gardel cantarão seus sucessos pelas rádios como em época gloriosa? A América, especialmente, espera ansiosa, principalmente o Brasil – o seu segundo parceiro econômico.

Da importância do país vizinho se poderá avaliar que se construiu uma ferrovia que ligava as duas principais capitais a Bueno Aires. Uma viagem inesquecível através de uma das regiões mais belas do território brasileiro até a capital portenha, então com mais prestígio junto aos turistas do que Rio de Janeiro.

Vivia-se nos primeiros decênios do século XX, na época de Percival Farquhar, “um empreendedor de acurada visão futura e invulgar coragem”, como o classifica o excelente escritor Enéas Athanázio, de Santa Catarina. Ele conhece muito sobre a lendária construção de uma ferrovia sobre a qual restam pontos a aclarar. Depois de empreendimentos em Cuba e na Guatemala, voltou-se o empresário para a América do Sul e o Brasil, especialmente, ponto de partida para o império que sonhou edificar, conhecido como Sindicato Farquhar. Este incluía portos, exploração de minérios e madeira, frigoríficos, gado, colonização, terras, energia elétrica, carvão e outros. Em termos de ferrovia, planejava implantar uma rede transcontinental de trilhos que cobririam o Brasil, Paraguai, Bolívia, Uruguai, Argentina e Chile. Só esse tema exigiria dezenas de autores, como parcialmente aconteceu.

A década de 1930, contudo, contribuiu para modificar o destino do país sulino, como aconteceu com o Brasil, que muito sofreu, mas tem sabido, a duras penas, superar as dificuldades e manter a esperança de milhões de pessoas. Com Milei, na Argentina, eis novas perspectivas, embora o candidato eleito seja controvertido, assim como suas ideias e planos. Resta esperar.


86930
Por Manoel Hygino - 25/11/2023 07:24:54
A guerra nas ruas

Manoel Hygino

Quem, de outra parte deste país ou de outro, chegar a Belo Horizonte ficará em palpos de aranha para entender a capital dos mineiros como presentemente. Sabido que a metrópole inaugurada em 1897 é de vida política mais intensa, porque esta uma característica da gente que aqui se foi instalado desde que Minas é Minas. Não adianta disfarçar: política é aqui mesmo.

Mas verdadeiramente houve uma substancial transformação nos últimos tempos. O mineiro, tranquilo, sereno e cordato, parece ter cedido lugar a outro cidadão - afoito, impaciente, intolerante e agressivo. Desta constatação se poderá extrair lições que evitem problemas que terminam nos verdadeiros embates de trânsito e nas delegacias de polícia.

Os belo-horizontinos assistem ao desairoso espetáculo do grande número de moradores de rua, sob marquises, viadutos e pelas vias públicas. Com o calor insuportável da primeira metade de novembro, as autoridades cuidaram de fornecer água e alimentos a esses contingentes. Justo, humano, é claro. No entanto, é mais indicado que elas zelem para que esses humanos, cuja cor não interessa, tenham condições apreciáveis de sobrevivência em todos os períodos do ano.

Aí está a questão. A desumana situação do morador de rua não existe apenas em um curto período do calendário e quando as temperaturas alcançam limites insuportáveis. Necessidades são da espécie e da raça, não se restringem a certos períodos das folhinhas e determinados locais de uma cidade que não parou de crescer. Tem-se de fazer algo mais.

Com o acirramento da guerra de Israel versus Hamas, os descendentes de ambos os povos ou integrantes das comunidades judaico-israelenses e palestinos se têm metido em encrencas que já preocupam a polícia. Em São Paulo, a situação é das mais candentes e inquietantes, e as autoridades enfrentam verdadeiros desafios.

Na capital bandeirante, a Polícia Federal prendeu pessoas em operação contra planejamento de atos extremistas, que eram brasileiros recrutados pelo grupo libanês Hezbollah. A situação é séria e impõem ação imediata. Todos a conhecemos. Agir já, antes que seja tarde. O Brasil já tem problemas demais.


86927
Por Manoel Hygino - 21/11/2023 09:23:41
Dois que partem

Manoel Hygino

Anda inclemente o tempo mais recentemente com os humanos. Sobretudo neste penúltimo mês de 2023, em que sofremos com as elevadas temperaturas, que corroem a paciência e encharcam as camisas dos obrigados a vesti-las nos escritórios.

Os que frequentam as bibliotecas e os saraus acadêmicos, os que se aprazem com o convívio dos apenas devotados aos livros e leituras, verificam que o calendário decidira apenar Minas Gerais e Belo Horizonte.

Num mês mais estreito em número de dias, perdemos duas personalidades marcantes nas faculdades, nas páginas dos periódicos e nos encontros de escritores. Em cerca de 48 horas, não mais suponho, perdemos Maria José Queiroz, autora de mais de 30 títulos e professora inclusive de universidades no exterior, ocupante da cadeira 40 da Academia Mineira de Letras, exatamente na data de proclamação a República.

Com 89 anos, ela residia no Rio de Janeiro, depois de tornar-se a mais jovem professora catedrática do país, façanha conquistada aos 26 anos, ao suceder Eduardo Frieiro, na Faculdade de Letras da UFMG. Um vazio irrevogável, incontestavelmente.

Mas não foi só: proclamada a República, isto é, transposta a data comemorativa, eis que perdemos novamente um protagonista raríssimo no cenário literário do estado e da capital. Refiro-me a Olavo Romano, que foi alto funcionário público, jornalista, escritor com numerosas obras editadas, editor membro e presidente emérito da Academia Mineira de Letras a todas as vozes.

Nascido em Morro Ferro, sensível à inesgotável veia da música do interior, soube aproveitá-la para o rádio de televisão, com bom humor e alegria. Foi incomparável sua gargalhada por ambientes sisudos, mesmo na AML.

Enfim, novembro não foi nada bom neste 2023. Mas a AML mudou muito com ele, opina Jacynto Lins Brandão, atual presidente, por desenvolver trabalho importantíssimo de documentação dos costumes da gente mineira, como acrescentou seu antecessor na AML, Rogério Faria Tavares.


86926
Por Manoel Hygino - 18/11/2023 07:29:10
Os nós na reforma

Manoel Hygino

Em discussão há três décadas, eis aprovado o texto-base da Reforma Tributária. Como estamos no mês da Proclamação da República, é um fato auspicioso a pesar em favor do novo regime instalado em 1889, que permanece apesar dos ventos fortes e tempestades. Drummond miraria o pico de Itambé e perguntaria: “E agora, José?”.

A Reforma não é do presidente Luís Inácio, tanto que tem 30 anos. O que se pretende, o que se quer, é que ela atenda aos mais caros anseios da sociedade. O leitor e o eleitor indagam também: se era tão importante e valiosa, se resultou beneficamente em centenas de países, qual a razão de, cá no nosso, encontrar tantos óbices à sua aprovação.

Desta vez, senadores e deputados chegaram à decisão magna. As medidas preconizadas pela RT já deviam ter sido aplicadas no Brasil, se é para o bem de todos. Para que tantos tributos, se eles não resultavam em favor de um povo angustiado sob o imenso peso? Simplificar o sistema e evitar a cobrança em cascata de impostos sobre empresas e consumidores foram dois dos motivos e justificativas que conduziram à decisão.

Em todos os países, isso funcionou, deu certo, aliviou o governo e agradou às sofridas populações. É o que se exige, aqui e agora.

A Reforma não era novidade. Estava terminando desde 2019, no país, mas andava mal ou simplesmente não andava. No atual governo, o ministro da Economia assumiu a paternidade: ela era prioridade absoluta da economia. Criou-se uma comissão extraordinária para tratar do assunto. Uma negociação complexa e ampla foi discutida em profundidade.

Os especialistas são unânimes em que o sistema novo será positivo para o Brasil, e é nisso que todos os cidadãos ora pensam. Há perspectivas de a migração para o sistema poder gerar um crescimento adicional de 4,14% do PIB, antes mesmo de incorporar os ganhos de produtividade das empresas. Outro estudo, mais recente, aponta que o PIB poderá crescer até 7,9% com a uniformização de alíquotas e o fim da cumulatividade. Nem tudo, entretanto, é tão bom como pareceria. Marcilio de Moraes é de opinião que a indústria, um dos setores mais beneficiados com o fim do Imposto sobre Produtos Industrializados e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços vê com preocupação as exceções incorporadas ao projeto pelo Senado. Aí está um nó difícil, agora que a matéria volta a análise dos deputados.


86923
Por Manoel Hygino - 16/11/2023 09:50:57
Ainda a Covid

Manoel Hygino


Para a Organização Mundial de Saúde, a Covid passou daquele período pior, conforme amplamente divulgado pelos quatro cantos do planeta. Mas ela anda por aí, como fantasma perambulando pelas noites escuras. Dados da Secretaria de Estado da Saúde mostram, por exemplo, que Belo Horizonte é a cidade de Minas com mais casos da doença, com 20.402 confirmações até 30 de outubro.

O Sul e o Norte do estado não ficam fora das estatísticas. Seguindo Belo Horizonte, Pouso Alegre registrou 10.596 casos; Montes Claros, 10.484; Varginha, 10.338, além de Uberlândia, no Triângulo, com 10.593. São números, pelo que se vê, bastante altos para exigir atenção da população. Aliás, quem anda pelas ruas da capital encontra pessoas com máscaras, mesmo liberadas pelas autoridades sanitárias.

Quem levantou a lebre foi a histórica Santa Luzia, na região Metropolitana, cujos índices de Covid têm sido bastante elevados, a despeito das iniciativas adotadas pela Secretaria Municipal para evitar o mal enquanto é tempo. Os postos de vacinação da RMBH, por outro lado, ampliaram os locais e dias de vacinação.

Belo Horizonte adota estratégias para conter as novas variantes e os crescentes casos positivos de Covid-19. De 5 de outubro a 1º de novembro, a capital mineira confirmou 1.776 óbitos pela doença. O número é 79,7% maior que as 988 mortes registradas entre os dias 6 e 27 de setembro. Os dados são de boletins epidemiológicos da prefeitura de Belo Horizonte. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, a alta dos casos é justificada pela circulação da EG5.1. Para conter o avanço dessa e de outras subvariantes, a Prefeitura de Belo Horizonte aposta na testagem como forma de monitorar a doença. “Nossa principal estratégia é a vacinação. Porém, temos destinado os testes da rede pública de saúde para aqueles pacientes que possuem sintoma característico, como febre, dor de cabeça, tosse. Restringir os testes é uma forma de observar se o vírus passa por alteração. E ajuda a identificar alguma nova subvariante em circulação”, explica o subsecretário de Promoção e Vigilância à Saúde Fabiano dos Anjos.

O imprescindível e inadiável é que todos nos convençamos de que a Covid não está morta e sepultada ad aeternum. Ela passeia entre nós, embora não a percebamos diante de nós num piscar de olhos.

E atentemos: uma nova provável pandemia já está sendo preconizada pelo mundo científico.


86922
Por Manoel Hygino - 14/11/2023 08:58:41
124 anos depois

Manoel Hygino

Em 12 de dezembro de 1897 inaugurou-se finalmente a nova sede do governo mineiro. A velha e rica província chegara à conclusão indesviável, de que havia necessidade de uma nova cidade para enfrentar os desafios impostos pelas modernidades. Não foi unânime a decisão, mas foi seguida embora todas as dificuldades esperadas.

Mais uma administração pública nova exigia mais do que novas instalações. Cedo se percebeu que o horizonte era belo e saudável a localização, se debochasse com o boato de que a água a ser consumida produzia sapos.

Menos de dois anos após as festividades inaugurais, já se cuidava de pensar na saúde da população e protegê-la. Assim nasceu a Santa Casa, que era e é de Misericórdia, que não faltaria numa comunidade cheia de esperança e confiante no futuro. Implantou-se a entidade, rigorosamente conforme as linhas mestras da iniciativa benemérita da rainha Leonor de Lancastre, lá em Portugal.

A cidade nasceu para metrópole e assim cresceu, como o número de habitantes, dentro do perímetro urbano e se extravasando. Mais pessoas, mais demandas. A Santa Casa foi coagida a construir o maior estabelecimento de saúde local, depois de atender seus pacientes em barracas de lona que tinham servido aos operários da obra.

Quem daquele período heroico hoje visitasse o empreendimento fundado pelos pioneiros ficaria surpreso. Não mais a coleção de barracas, porque um complexo hospitalar surgiu nas imediações do apelidado Bairro do Quartel. A Santa Casa se transformou na segunda melhor instituição hospitalar do Brasil, após superar situações aparentemente intransponíveis.

No setor de saúde, destacou-se, segundo a pesquisa época, altamente conceituada, no primeiro lugar em Visão de Futuro, segundo em Pessoas, e quarto em Inovação, além do quinto em Desempenho Financeiro (e isto numa instituição filantrópica) e ESG Socioambiental. E atente-se: tudo entre as mais de 410 empresas participantes, com o que se posicionou na 22.ª colocação no ranking geral, reconhecida como as melhores empresas do Brasil neste ano de 2023. Leia-se de novo e acredite-se.

No entanto, era isso mesmo, porque a direção da entidade e de seus mais de seis mil colaboradores era exatamente a bela conquista. Todos estão perfeitamente convictos de que se trata de algo fantástico, mas que irá exigir muito mais à frente. A rainha Leonor deve sentir-se feliz, tanto quanto os que utilizam de seus serviços médicos e sociais. É olhar para frente, para que o horizonte continue belo e saudável.


86921
Por Manoel Hygino - 11/11/2023 06:23:14
Três cidades

Manoel Hygino

Neste ano quase encerrante, ainda houve tempo de lançamento de “Três Cidades”, novela de Napoleão Valadares, nascido em Arinos, bisneto de Saint-Clair Fernandes Valadares, um dos líderes políticos que tiveram a feliz e justa iniciativa de promover a emancipação e a constituição de uma cidade naquela excelente região das Minas Gerais. Lá é o berço de Afonso Arinos de Melo Franco e de Ana Leopoldina de Melo Franco, ele uma das figuras mais importantes da literatura brasileira, como oportunamente lembrado por Danilo Gomes, que é de São João del-Rei e o Brasil todo conhece.

Assim como Afonso Arinos, Napoleão se revelou, mais uma vez, no campo literário e nas áreas a que se devotou. Formado em Direito pela UnB, exerceu importantes cargos em Brasília, como de Assistente jurídico da União, Diretor de Secretaria da Justiça Federal, Assessor de Juiz do TRF da 1ª Região e Advogado da União. Membro da Associação Nacional de Escritores, de que já foi presidente, da Academia de Letras do Brasil, do IHGDF, da Academia Brasiliense de Letras e de Letras, Ciência e Artes do São Francisco, já foi premiado em diversos concursos de prestígio no cenário literário nacional.

A mais recente edição de Valadares é a novela “Três Cidades”, pela André Quicé, da capital federal. Depois de cerca de vinte obras publicadas em outros gêneros, ele decidiu caminhar para a ficção.

Em três cidades de porte diverso, experimentou a vida o protagonista, a partir de sua pequenina localidade natal, da qual se despedira apenas com o dinheiro para pagar a viagem de coletivo. A vida lhe vinha toda à cabeça, desde as primeiras lembranças da infância até aquela cadeira de ônibus.

Era a nova ocasião de realizar-se numa cidade maior. A de porte médio poderia dar-lhe ocasião para realizar-se profissionalmente. Até sentindo fome, que lhe dava tontura e dor no estômago, descobriu uma praça pública. “Tinha vindo para fugir. E fugido estava. Agora, nem voltar era possível. O jeito era procurar um meio de vida. Ou de morte”. Podia ter ficado sossegado, mas buscou outro rumo.

Na cidade grande, estaria seu futuro, botando as ideias no lugar, resgatar o tempo perdido. Meditou sobre sua carreira de advogado, sua experiência como professor e escritor, os amores, a angústia, mas partiu pela terceira vez. Não se despediu, azulou no mundo. Pegou suas coisas e saiu. “Tranquei por fora, joguei a chave por cima do portão e fugi mais uma vez”. Uma novela que merece leitura mais de uma vez.


86915
Por Manoel Hygino - 8/11/2023 08:17:43
Guerra só de longe

Manoel Hygino

Enquanto se desenrola a guerra no Oriente Médio, no Brasil se esperam os de nossa nacionalidade por lá encontráveis ainda, para trazê-los... Quem gosta de samba o canta e dança, quem aprecia futebol se diverte com o ludopédio, a quem agrada a política se depara com inflamados discursos que nem sempre resultam em benéficos projetos. Mas se vive relativamente a contento.

Quem ama a poesia tem muita oportunidade de satisfazer-se. Tanto que o professor Jacyntho Lis Brandão, eleito este ano presidente da Academia Mineira de Letras, foi premiado pela Biblioteca Nacional na categoria, por seu livro “Harsiese”, enquanto João Moreira Salles ficava com o primeiro lugar em ensaio geral, com seu “Arrabalde”.

Não esqueço: no dia 23 de outubro, dentro do Ciclo Filosofia e Literatura, o professor-doutor Guilherme Domingues da Motta discorreu sobre “Platão e a Poesia”. O palestrante é um mestre e se houve à excelência diante do tema, que era relativo às restrições Platão no âmbito da educação proposta em seu célebre diálogo “A República”.

Em 4, 5 e 6 de outubro o sodalício dos escritores mineiros, apresentou o VII Colóquio Internacional Portugueses de Papel, reunindo pesquisadores da Europa e do Brasil, que se debruçaram sobre textos de ficção em prosa brasileira com personagens portugueses. Algo muito interessante, evocando-se Machado de Assis, Aluísio Azevedo, João do Rio, Jorge Amado e Monteiro Lobato.

A participação do Colóquio foi gratuita, servindo de alerta para outras oportunidades que apareçam, por iniciativa do prestigiado Grupo de Investigação 6 do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – atual Linha de Investigação Brasil: literatura memória e diálogos com Portugal – que criou o projeto Portugueses de Papel que visava colmatar essa lacuna”, explica Vania Pinheiro Chaves, coordenadora do Projeto.

Desta vasta, coletiva e contínua pesquisa resulta a produção de um site (portuguesesdepapel.com) em que está colocado o Dicionário de personagens portuguesas da ficção brasileira, dirigido em parceria pelas Doutoras Vania Pinheiro Chaves (ULisboa), Ana Maria Lisboa de Mello (URFJ) e Jacqueline Penjon (Sorbonne Nouvelle). Em permanente atualização, o Dicionário já publicou mais de uma centena de verbetes.

A despeito de tudo e de todos, melhor ainda viver por aqui. Os do Oriente Médio não aprenderam a conquistar paz e felicidade a despeito de milênios.


86919
Por Manoel Hygino - 7/11/2023 09:06:11
Já é novembro

Manoel Higino

O brasileiro está impaciente, tão longa sua espera por melhores dias, a começar pela comida na mesa. Hoje, com licença do trocadilho, “comida farta”, isto é, falta; pelo menos para mais de trinta milhões de conterrâneos.

A esperança residia ou reside no novo governo, que assumiu este ano no calendário.

Se há algo que aumentou significativamente foi o número de ministros. Dará certo? A pergunta paira no ar, como muitas outras de difícil resposta.

A outra indagação é com relação à reforma tributária que vem deixando o ministro Haddad em palpos de aranha. Afinal, vai ou não dar certo? Pelo menos as expectativas giraram expressivamente em função dela. Mas a gestão Lula já vai completar um ano, e há um mistério desafiador.

O leigo se assusta com a longa discussão da matéria, sobre a qual se fundamentam horizontes e sonhos. Tantos meses decorridos, o projeto segue sendo projeto e sempre discutido. Será que não vai? Está escorregando nos trilhos do Parlamento como sabão nas mãos de lavadeira?

Agora entra em cena o jurista Sacha Calmon, que suscita novo problema: “Estima-se um prazo de transição que, em tese, pode chegar a até 50 anos de coexistência entre o velho sistema tributário, tido por complexo, e o novo, talvez mais complexo ainda, somando-se perplexidades”.

E Sacha não é um qualquer, um disseminador de boatos. Advogado, doutor em direito público (UFMG). Coordenador do curso de especialização em direito tributário da Faculdade Milton Campos, ex-professor titular das faculdades de direito da UFMG e da UFRJ. Ex-juiz federal e procurador-chefe da Procuradoria Fiscal de Minas Gerais. Presidente Honorário da ABRADT e ex-presidente da ABDF no Rio de Janeiro. Autor do livro “Curso de direito tributário brasileiro” (Forense). Sabe, pois, o que diz.

O relatório da reforma tributária foi protocolado pelo senador Eduardo Braga, mas se antevê aprovação longa e turbulenta. Roberto Andenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, observou: “Ao criar um imposto seletivo para essa atividade, você gera uma pressão inflacionária que vai impactar todos os consumidores”. Na mesma linha se manifestam outras atividades empresariais. Duro acreditar.


86910
Por Manoel Hygino - 4/11/2023 07:25:48
Perspectivas sombrias

Manoel Hygino

Os brasileiros dormem, quando dormem, e acordam pensando nos preços de todos os produtos imprescindíveis à sua manutenção ou sobrevivência. É típico do civilizado, aliás. E, nestes tempos bélicos, com conflitos no Oriente Médio, entre Rússia e Croácia, e entre países que já pertenceram à União Soviética, no Sudeste da Europa, não faltam ao interessado na paz mundial motivos para impedir um bom sono.

Eis o caso dos chefes de executivos municipais, que se acham em regime de permanente insônia. No caso de Minas, os municípios, em especial os com menos de 5 mil habitantes, enfrentam uma crise financeira sem tamanho, que pode dificultar o pagamento do 13º salário a seus servidores neste final de ano. E falta pouco...

Li que o presidente da Associação Mineira de Municípios vem alertando que a diminuição dos repasses está gerando desequilíbrio nas finanças. Nem poderia ser de outro jeito e maneira. Em decorrência da redução da arrecadação de tributos neste ano, a maioria das cidades mineiras depende de recursos transferidos, como o ICMS e FPM, tendo este sofrido significativa diminuição.

A situação é tão delicada que se prevê, em maio de 2024, se não houver uma mudança imediata no cenário (o que está fora de perspectiva) os municípios poderão enfrentar colapso financeiro. Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, adverte homens e mulheres de todas as confissões religiosas, renovando o apelo do pontífice Francisco.

Os cenários de pobreza e exclusão social, conflitos, mortes, manifestações furiosas da natureza comprovam a gravidade da situação, que ameaça a dignidade humana. A lembrança é de que tudo está interligado, inspirando o engajamento de todos para a adoção de um novo estilo de vida. É preciso superar determinados modos de agir no mundo, indiferentes com relação ao planeta, pautados pela mesquinhez. Ao se trata de uma simples abordagem ligada à preservação da fauna e da flora. Inclui a necessidade do cuidado com o semelhante, condição essencial para a autopreservação.

Todos precisam buscar-se informar, e se posicionar diante de tudo o que leva à degradação ambiental. Atribuir responsabilidade aos pobres apenas acentua lógica de exclusão e contribui para esgotamento extrativista da natureza. Vamos acordar e agir.


86904
Por Manoel Hygino - 1/11/2023 09:02:40
Luta sem trégua

Manoel Hygino

Tem razão o presidente Lula quando relaciona a Faixa de Gaza com os acontecimentos policiais e criminosos no Rio de Janeiro no outubro findo. O país, que vinha sofrendo sucessivos, inúmeros e graves episódios de violência, aprecia chegar ao ápice com a evolução dos horríveis embates no Oriente Médio, que preenchem grandes espaços nos meios de comunicação.

A médica e jornalista Mara Narciso, natural de Montes Claros, onde reside, resume: “A vida é hoje, e até mais breve, a vida é agora”. Ela opina: “Antes de expressar-se sobre a paz no mundo, é preciso pacificar o espírito e semear a paz interior”. Depois de considerações sobre a guerra no Oriente, declara: “Quem quer fazer valer sua vontade aos demais, não tem como clamar pela paz”.

Pois, da maior cidade do Norte de Minas, chegou, há poucos dias, a notícia de mais uma ação do novo Cangaço, bem armado e violento. Dez criminosos explodiram caixa eletrônico do Banco do Brasil, em Itinga, a 420 quilômetros dali. Toda a região se põe em campo, três bandidos foram presos, três viaturas com explosivos foram, localizadas, suficientemente lotadas com armas e munições. Guerra à vista.

Oito metralhadores de grosso calibre desapareceram de um quartel do Exército, em Barueri, São Paulo, encomendadas por traficantes do Rio para seus confrontos. Autoridades se puseram em campo, porque afinal uma parte das Forças Armadas estava ferida até em seu prestígio diminuído em arsenal. A busca continua pelas armas e por seu desvio.

Em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana de Recife, durante a noite, um Juiz de Direito, 69 anos, foi morto a tiros. O crime, por volta das 20 horas, ocorreu quando o magistrado dirigia seu carro e foi cercado por criminosos, dispararam contra ele e fugiram. Com mais de trinta anos de devotamento à magistratura, barbas brancas crescidas, não mereceu respeito dos foras da lei. O juiz mantivera reunião com o presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco para investigações rápidas da Polícia por justiça.

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, expressou solidariedade à família e aos amigos do juiz. É o que poderia fazer. Fora isso, o crime percorre ruas, viela e avenidas, não só da capital pernambucana.


86902
Por Manoel Hygino - 31/10/2023 09:25:53
Ao sol do rio Grande

Manoel Hygino

Enquanto avultavam os embates no Oriente Médio, desencadeados após o imprevisto e absurdo ataque do grupo Hamas, em 7 de outubro, maldito, alguma coisa útil e digna aconteceu do lado de cá do Atlântico. Parece que as Américas começam a entender que chegada é a hora de acertar o passo político no hemisfério sul do continente. Parece – foi o verbo que usei. Ficaria, porém, a indagação. Chegou a hora efetiva de as Américas abaixo do Rio Grande, encontrarem seu melhor e mais lúcido caminho? Gostaria de ouvir agora Manoel Bonfim e Darcy Ribeiro, que lamentavelmente não mais estão conosco.

Mas o presidente Nicolás Maduro despertou de seu pesadelo e determinou a soltura de alguns de seus 273 presos políticos. Assim, obedecendo a acordo com a oposição, prometeu eleições presidenciais limpas, competitivas, em 2024, com presença de observadores internacionais. Também mandou libertar o ex-deputado Juan Requesens. Este, à porta de sua residência, onde estava cumprindo pena de oito anos de prisão domiciliar, foi aplaudido.

Como não podia deixar de ser, o jornalista Roland Carreño conseguiu igualmente a libertação. Também falou. Declarou estar “cheio de esperança de que a liberdade da Venezuela também chegue. Um acordo político foi firmado para tentar retomar a normalidade democrática”. Em compensação, Estados Unidos suspenderam sanções ao petróleo, gás e ouro da Venezuela, impostas desde 2019.

Na Argentina, após campanha marcada por discursos contundentes contra os adversários, o ultradireitista Javier Milei, sempre descabelado como de costume, classificado como anarcocapitalista ou libertário, ficou em segundo lugar no pleito, no último domingo, não confirmando as pesquisas e os números das primárias de agosto. Agora, é esperar a segunda votação para ver como ficam as relações com o Brasil. E há pauta importante: Mercosul, acordo com a União Europeia e ingresso nos Brics, em 2024. E ainda: adoção de uma moeda única para os dois países.

Em 3 de novembro próximo, o novo presidente do Equador, Daniel Noboa, filho de conhecido empresário, venceu as eleições, com mais de 52% das atas válidas contabilizadas. Por sinal, ele votou usando um colete à prova de balas devido à violência no país. Veremos na posse como será.


86899
Por Manoel Hygino - 28/10/2023 07:26:32
A paz distante

Manoel Hygino

Na fronteira do Egito, cerca de 150 caminhões estacionados, esperando ordem para que entrassem na Faixa de Gaza. Tinham de aguardar ordem para entrar em Rafah, ainda isolada do resto do mundo. Inicialmente, eram 20 veículos, que o presidente dos Estados Unidos chegou a anunciar que recebera autorização do governo egípcio para transpor cruel marco divisório. Após angustiante espera, contudo ingressaram os pesados veículos no outro lado, o da Faixa e dos milhões e quatrocentos mil palestinos famintos, feridos e sem assistência, sequer alimentar, em Gaza.
Notícias perversas e auspiciosas cruzavam os limites conflagrados.

A Organização Mundial de Saúde, tão citada e atuante na recente pandemia da Covid, alertava: vinte caminhões com alimentos de toda espécie são insuficientes para suprir as ingentes necessidades. A população civil percorria as ruas, quando e quanto pôde, para gritar por ajuda urgente. A resposta foram novos bombardeios há meio mês praticamente, desde que o grupo terrorista resolveu atacar terra e povo em região de Israel, sem explicação prévia, como se procederia mesmo em tempo de guerra.

A contestação veio em forma de poderosos mísseis.
O território palestino sofre pesadamente. A palavra paz ou a expressão cessar-fogo não são conhecidas. Guerra é guerra e a insistência de líderes internacionais por pacificação, não foi percebida. Os caminhões permaneciam ao longo da fronteira, pois os principais autores da tragédia, são surdos e cegos.

Os civilizados não se espantam mais, não se surpreendem com o caos, somente temem que o conflito se estenda em tempo e espaço, que o ódio invada criminosamente as grandes cidades do planeta ou os pequenos conglomerados, como a Covid, ampliando-se por outras distantes e pobres localidades.

O fim da guerra atual entre Israel e palestinos não será o término do extensíssimo conflito, que se alonga por centênios. A inimizade entre as partes perdurará, a julgar pelos sentimentos e pensamentos das lideranças. Uma trégua agora seria apenas uma pausa para meditação e para o sonho milenar. Mas abriria uma esperança. Esperança embora tênue.

Enquanto isso, palestinos e grupos israelenses percorrem as ruas das capitais da Europa trocando acusações e injúrias.
O ódio não terminou, pelo que se vê e se sente. É um sentimento que séculos não conseguiu amainar ou extinguir.


86897
Por Manoel Hygino - 24/10/2023 09:02:15
Conflito sem fim

Manoel Hygino

O presidente Biden, cauteloso, não deixa de advertir: Qualquer país, qualquer organização, a qualquer pessoa que esteja pensando em aproveitar a ocasião, eu tenho uma frase: “Não faça, não o faça”.

Em verdade, em verdade, vos digo, redige o autor deste comentário: está-se vivendo no Oriente Médio uma situação extremamente grave que até os mais ingênuos ou os mais sabidos reconhecem. Chegou-se ao ponto nevrálgico de não se saber o que acontecerá.

O que está certo é que os Estados Unidos não enviarão tropas à região conflagrada. Para Biden, a ocupação militar de Gaza por Israel seria um erro. Na semana passada, ele foi a Tel Aviv, mas abandonou a ideia de uma reunião com os grupos palestinos árabes. Mesmo assim, segue crendo que há necessidade de um Estado palestino, devendo existir um caminho para sua criação.

Mal compreendido pelo Ocidente também o presidente norte-americano acredita que Israel seguirá as “regras da guerra”, embora não tenha sido esta a atuação do grupo terrorista Hamas. Enquanto isso, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, responde que seu país não tem interesse em ocupar Gaza, mas se mantém determinado a impedir sua sobrevivência para assegurar-se.

Voltou-se a avaliar a posição do Islã em apoio ao grupo Hezbollah, com base no Líbano. Biden destaca que não existem evidências de que o governo iraniano esteja diretamente envolvido no conflito, embora apoie o Hamas e o Hezbollah, este através de suas bases no Líbano.

Mais uma semana se completou no último sábado do início do conflito na turbulenta região. Pode-se constatar que o quadro não melhorou; pelo contrário se tornou mais tenso com o bombardeio de um hospital em região beligerante, há dias. Mais de 500 seres humanos perderam a vida e as partes se negam a confessar autoria do crime.

Os finais de semana são de devoção para os que praticam a religião de Maomé e os cristãos. No entanto, a paz permanece distante e o ambiente sombrio e tenso. Até quando, só Deus saberá. Até uma paz temporária e um acordo de cessar fogo são perspectivas remotas.
Os grupos terroristas não têm interesse ou controle de discutir a paz. No entanto, eles e os palestinos favoráveis às negociações não se dispõem a sentar-se numa mesa. A voz desses segmentos é pela guerra e pelo sangue derramado. É incrível que isso ainda persista. É triste reconhecê-la.


86896
Por Manoel Hygino - 21/10/2023 09:17:26
Temor no Irã

Manoel Hygino

O mundo está atento à posição do Irã relativamente ao conflito entre Israel e o Hamas, uma preocupação muito candente em países do mundo ocidental, principalmente. O Irã apoiaria quem? A pergunta paira no ar, por óbvios motivos. Mas um outro mundo, dos que pensam, dos intelectuais, dos escritores também se inquietam, sobretudo depois do Prêmio Nobel da Paz de 2023, atribuído a Narges Mohammadi, de 51 anos.

Ela, iraniana, está presa em Teerã por “espalhar propaganda contra o Estado”. O Comitê norueguês do Nobel informou que Narges cometeu a imprudência de “apoiar a luta das mulheres pelo direito de viver vidas plenas e dignas. Esta luta, em todo o Irã, tem sido alvo de perseguição, prisão, tortura e até morte”.

Há 30 anos, tem sido assim, desde que ela ingressou na universidade, com artigos escritos em favor dos direitos das mulheres no país. Seu marido, Taghi Rahmani, também detido por 14 anos, pela mesma razão, vive exilado na França com os dois filhos gêmeos, Ali e Kiana. Antes, Narges estivera presa, em 2009, ficando atrás das grades oito anos. Libertada em 2021, foi novamente detida ao participar de cerimônia pela memória de uma pessoa morta durante protestos contra o regime islâmico.

Os países com maior interesse no Oriente Médico estão em aflição permanente em razão dos riscos que os iranianos correm em sua própria pátria, e sabe-se perfeitamente que o acontecido com a vencedora do Nobel e seus familiares, pode estender-se. O noticiário internacional dá repetidas referências às restrições que sofrem os iranianos de mais expressivo nível intelectual e que se julgam no direito de emitir opinião, que possa desagradar aos donos do poder. É terrível a situação, portanto.

Os demais países mais de perto sensíveis aos problemas do Oriente Médio também temem, pois, se sabe que há um grau de cumplicidade iraniana nos ataques do Hamas, que resultaram na guerra Israel-Hamas, há poucos dias, desencadeada. A aplicação de pena de morte em Irã se deu em 2009, com execução de 338 pessoas, sem contar à iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada a apedrejamento.


86894
Por Manoel Hygino - 19/10/2023 09:12:26
Guerra a Leste

Manoel Hygino


Não constitui até certo ponto estranheza o ataque do grupo Hamas, ao invadir Israel, num final de semana além de ferir, trucidar, aprisionar, fazer reféns milhares de pessoas que se encontravam na faixa de Gaza e imediações. Foi medida sorrateira, violenta, mas que apenas confirma a posição permanente de guerra contra o vizinho país.

No fundo, porém, trata-se de uma pérfida iniciativa não restrita a Israel, pois atinge, com suas repercussões, grande parte do mundo civilizado, fazendo vítimas enormes contingentes humanos, de várias nacionalidades.

Uma longa preparação vinha sendo feita pelo Hamas na região, em que vivem, sob bloqueio israelense desde 2007, 2,3 milhões de palestinos. Sob o labirinto de vias estreitas e superpovoadas, que a televisão exibe para todo o planeta, há uma rede de túneis, que o Exército de Israel sabia que existia, sendo conhecido como “metrô” de Gaza.

Idêntica providência foi adotada em vias subterrâneas em seu próprio território, a uma profundidade de 30 a 40 metros, fora do alcance de ataques aéreos inimigos. Ali se instalaram também sistemas lança-foguetes, que se elevam à superfície usando alçapões.

John Spencer, do Modern War Instituto da Academia Militar norte-americana de West Point, observou: “Sempre soubemos quem é o Hamas, agora o mundo inteiro sabe. O Hamas é o Estado Islâmico. Todos os inimigos vão saber que foi um erro terrível atacar israel. Vai ecoar por gerações”, afirmou.

Não apenas o Hamas participa do conflito, cuja extensão, em espaço e tempo, ainda é cedo para avaliar. Outras facções palestinas, como o Jihad Islâmico e a esquerdista Frente Popular pela Libertação da Palestina estão aliados ao Hamas; tanto que Israel já ordenou um “cerco completo”, ao enclave. O analista da “Inteligência Jones, afirma que há ali um campo de batalha de 360 graus, onde a ameaça está por toda parte, dos bueiros aos telhados”.

O que se terá pela frente é o fundamental, mas ainda uma incógnita. “O Hamas ainda deve ter um significativo arsenal de foguetes de reserva e parece favorável que possa manter o fogo durante muito tempo”, alertou Fabian Hinz, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês). Esse grupo islâmico palestino possui um arsenal difícil de decifrar, mas muito variado, concluiu com razões de sobra.




Selecione o Cronista abaixo:
Avay Miranda
Iara Tribuzi
Iara Tribuzzi
Ivana Ferrante Rebello
Manoel Hygino
Afonso Cláudio
Alberto Sena
Augusto Vieira
Avay Miranda
Carmen Netto
Dário Cotrim
Dário Teixeira Cotrim
Davidson Caldeira
Edes Barbosa
Efemérides - Nelson Vianna
Enoque Alves
Flavio Pinto
Genival Tourinho
Gustavo Mameluque
Haroldo Lívio
Haroldo Santos
Haroldo Tourinho Filho
Hoje em Dia
Iara Tribuzzi
Isaías
Isaias Caldeira
Isaías Caldeira Brant
Isaías Caldeira Veloso
Ivana Rebello
João Carlos Sobreira
Jorge Silveira
José Ponciano Neto
José Prates
Luiz Cunha Ortiga
Luiz de Paula
Manoel Hygino
Marcelo Eduardo Freitas
Marden Carvalho
Maria Luiza Silveira Teles
Maria Ribeiro Pires
Mário Genival Tourinho
montesclaros.com
Oswaldo Antunes
Paulo Braga
Paulo Narciso
Petronio Braz
Raphael Reys
Raquel Chaves
Roberto Elísio
Ruth Tupinambá
Saulo
Ucho Ribeiro
Virginia de Paula
Waldyr Senna
Walter Abreu
Wanderlino Arruda
Web - Chorografia
Web Outros
Yvonne Silveira