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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 7 de maio de 2024
 

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Mensagem: No livro Efemérides Montesclarenses, o agrimensor/historiador Nelson Viana, curvelano que amou nossa cultura com um extremo que poucos filhos originais de Montes Claros conseguiram alcançar, Nelson Viana registrou, em 1962, na data reservada ao dia de hoje, 27 de junho: ´1917 - Nasce em Várzea da Palma, Minas, o dr. Luiz de Paula Ferreira, filho de Joaquim de Paula Ferreira e dona Emília Mendonça de Paula. Fêz o curso primário em sua terra natal, em Montes Claros, e em Pirapora, o secundário em Montes Claros, diplomando-se, como Contador, em 1942 e bacharelando-se em Direito, em 1957. Tem exercido os seguintes cargos: Secretário, Diretor e Presidente do Rotary Clube de Montes Claros, Diretor da Companhia Telefônica, da Associação Comercial, do Pentáurea Clube e do Clube Montes Claros´. Hoje, distantes 55 anos do ano em que o livro foi lançado, Luiz de Paula completa 100 anos, com a descendência reunida ao seu redor. No livro, que examina com lupa 255 anos da história local - de 1707, ano do começo, a 1962, ano do livro - há muito o que acrescentar. Que Luiz de Paula é o autor, melodia e letra, da música que celebra, como nenhuma outra, o centenário de cidade, em 1957, e que toda a gente carinhosamente chama de ´Montes Claros Vovó Centenária´. (´E os morrinhos, com a capelinha/Onde minha mãezinha/Rezava orações/ E onde à noite os teus poetas cantores/Falavam de amores/Em ternas canções´) Que Luiz de Paula, entre milhares de alunos, foi o paradigma dos que passaram pelo Instituto Norte-Mineiro de Educação, no depoimento jubiloso do seu criador, o santanense João Luiz de Almeida, nascido na Cataguases de Humberto Mauro e do Movimento Verde. Que passou pela política, pelos clubes de serviço, pela seresta e pela poesia. Foi usineiro e industrial. Em 1967, deputado federal, levou a Seresta João Chaves a cantar no Palácio da Alvorada e lá, cantando, arrancou a ordem para asfaltar o que restava de terra na poeirenta estrada entre M. Claros/BH. Que sua iniciativa, no fim dos anos 60, está no embrião da universidade que hoje, por dobras e redobras, reitora o ensino superior em M. Claros e pelo Norte de Minas. Ensino superior, que mais perto do que longe, absorverá a ´Universidade do Grande Sertão´, em homenagem a Guimarães Rosa, no território dos seus sonhos e dos sonhos de Riobaldo e Diadorim. (Homenagem invertida, em que o homenageado confere prestígio e visibilidade ao homenageador). Tudo tem muita importância, muita, para nós e para a história do que se reuniu aqui, e que teve em Luiz de Paula, nos últimos 100 anos, uma referência segura e preciosa. Contudo, penso agora, nenhuma importância, abaixo das nuvens, por superior que seja, excede o gosto de ler, reler, tresler, os textos de Luiz de Paula. Como os abaixo selecionados por sua filha Isabel, para festejar este 27 de Junho. Muitos publicados inicialmente aqui, neste raso montesclaros.com Por fim: nas notícias que nos últimos anos nos vêm de Luiz de Paula, hoje centenário, hoje morando no pé dos montes claros, no sopé da serra que é a nossa atalaia, bom é saber de sua alegria quando a chuva se aproxima e vai, enfim, cair sobre nós, o ser-tão. Suponho que no clarão da chuva, que ilumina desde sempre sua música e sua poesia, Luiz vem nos ver, visitar, em cada ponto da cidade que adotou, e que ama. E que hoje, aqui pelas campinas de um junho frio, canta o seu centenário. *** Agora, Luiz de Paula, na seleçao da filha Isabel: Palavras a Isabel ´Antes, aqui, Cantavam as siriemas ...´ Em nossa próxima visita à minha terra, se quiseres caminhar comigo pelas velhas trilhas em que andei na infância, me darás muita alegria. Na caminhada, se a qualquer altura me sentires desatento, como se esquecido estivesse da tua companhia, por favor, se tal acontecer, ainda que por breve momento, não tomes isso como desapreço à tua pessoa. És minha esposa. A terna e querida companheira que escolhi para toda minha vida. Muito do que rabisco nestes pobres cadernos é para ti. Poderá acontecer que minha atenção seja momentaneamente desviada. É que as velhas trilhas costumam, às vezes, falar-me de um menino que por elas andou, de bodoque e anzol, a pescar ariscas matrinxãs e a caçar passarinhos - pés descalços e braços nus, como disse o poeta. A compartilhar manhãs de ouro e crepúsculos inesquecíveis com a velha Serra do Cabral, com os arroios, matas e campinas. A trilhar caminhos de graciosas curvas, cujas margens estavam quase sempre enfeitadas de cipós e flores. Em um tempo em que o mundo era todo dele. E em que o futuro era uma promessa mágica e colorida de sucesso e venturas que jamais teriam fim. Num tempo em que havia em volta dele um universo humano do qual compartilhavam todas as pessoas do seu amor. Muitas das quais só existem hoje no altar de suas saudades. Mas isso, se vier a ocorrer, não durará mais que um breve instante. E digo mais. Se andares comigo mais vezes, pelas velhas trilhas, estou certo de que elas serão capazes de um dia conversar também contigo. *** A Poesia Necessária A frase é de Voltaire. Ele disse: “a poesia é necessária à criatura humana”. Realmente, na vivência do dia-a-dia, no trabalho diário, muitas vezes prosaico e não inspirativo, parece que vamos nos tornando carentes da participação do belo. E a vontade de ouvir uma bela canção, de visualizar uma cena inspiradora, de relembrar um poema ou de compor uma frase sugestiva, faz-se presente a doer na alma. Até pessoas menos sensíveis à estética da vida, menos vulneráveis à abordagem poética, até essas, pressionadas por emoções mais fortes, movimentam as engrenagens de seus sensores cerebrais e se expressam, bem ou mal, em linguagem não trivial. Estou chegando aos 90 anos. Em minha caminhada a poesia visitoume algumas vezes. *** O Tempo O tempo é um estranho pássaro que voa de asas leves, as penas da cor do vento. Quem viu o pássaro do tempo? Dizem que olhos sofridos vêem o tempo conduzindo o conteúdo do mundo pela estrada do amanhã. Lá vai o tempo levando o rosto moço que eu tinha e o jeito descuidado de rir das coisas da vida! O tempo é um pássaro de seda, as asas da cor do momento... Todo dia o tempo faz e todo dia desfaz. - Estranho pássaro é o tempo.. *** A convidada da tarde Tardes vividas em outros tempos, acontece, embora raramente, as reencontrarmos. O mesmo sol, os pássaros, o cheiro e a leveza da brisa, as nuvens respaldadas em luz. Tardes que um dia, quem sabe, iluminaram nossa infância. Talvez a própria infância do mundo. Tinha a tarde quase tudo que um mágico e inspirado abril de belo pode ofertar. Sol claro-ouro de sonho campo em matiz perfumado e a brisa a balouçar cachos floridos na estrada. Rente à relva um regato feliz passava e no céu de ouro claro e azul, voavam pássaros festivos. Tarde mágica de abril, tarde de todas as eras, sem idade, tarde eterna. No sortilégio que havia, pensamentos e lembranças despiram o azul do tempo e foram banhar-se nas águas do regato que passava. E aquela que trago comigo, em meu peito enclausurada, saltou lépida ao ar livre e voluteou sobre a relva, plena de graça e de encantos na alegria do recreio. A tarde ficou mais bela na sinfonia das cores e na brisa que passava vinha um suave perfume de artemísias e sálvias. Mas quando se decompôs o arco-íris do tempo no esmaecer vespertino desfez-se o painel de luz. E a que viera com a tarde, com a tarde se esfumou. *** Montes Claros De mim para você, Montes Claros, há um respeito, um carinho, um amor tão grande como se em cada letra de seu nome houvesse um pedaço de mim. Em cada rua sua, em cada pedra de seu chão eu me sinto presente desde os tempos mais distantes. Incrustado. Ontem e hoje. Sempre. *** O povoado Antes era a Serra do Cabral, o Rio das Velhas e os Campos Gerais onde cantavam as seriemas. Depois veio o apito do trem. E a rua. Sem nome. Simplesmente a rua. E a Venda. Ao fundo a velha Caraíba, teimosa testemunha que restou do tempo em que cantavam as seriemas *** Litígio Meu coração em meu peito vive um caso de direito que convida ao raciocínio. Eu tenho a posse, entretanto, pra meu tormento e espanto és tu que tens o domínio. *** Um hábito salutar Meus lábios, louvado Deus, jamais tocaram em cachaça, a meus pais devo essa graça que norteia os passos meus. Entre nobres ou plebeus, diante de um trago dela - da branquinha ou da amarela, balanço-a pra lá e pra cá e com a prática que o tempo dá jogo direto na goela. *** Amanhecer na fazenda de Chico Tófani É de manhã, o sol nasce, o mundo muda sua face lá na Fazenda do Salto. Tudo é luz irradiante e o orvalho é diamante nas folhas do capim alto. Passarinho madrugueiro faz silhueta brejeiro no céu de ouro e cobalto. U’a mulher numa choça canta cantigas da roça fazendo o lume bem cedo, e quando sobe a fumaça papagaio acha graça no galho do arvoredo. A casa grande desperta, a porta já está aberta, há labuta na cozinha. Canta um galo no quintal, muge o gado no curral, roda a roda da farinha. A ordem é um desafio - menino, espante este frio, vai logo, abre o portão! Moleque correndo vai, a calça cai que não cai das tiras do correão. Sanhaço comendo uvas, garricha chamando chuvas, canário no visgo pego, um casal de patos brancos brinca de amor nos barrancos e se despenca no rego. Deixando o pé de gonçalo e se escondendo do galo gavião voa baixinho, galinha velha esconjura, cata ali uma tanajura e volta a guardar o ninho. Peixe frito? Está calado, durante a noite, coitado, cantou até ficar rouco. Saracura na vazante, oferece a cada instante “três potes, três potes, um coco...” Lá em cima, no espigão, deixando rastros no chão, carro de bois vem cantando... Da porteira, Chico, olhando, chama Zequinha Santana e diz: “vamos, vagabundo, já pra roça todo mundo, lá vêm as mudas de cana!” A turma sai para o eito, Chico fica satisfeito, olha o céu: “hoje ainda chove!” Põe de lado a ferramenta, vai pra varanda e se assenta para ler o seu X-9. O dia avança. Lá embaixo canta a água do riacho à sombra dos buritis... Pássaro-preto a orquestra afina para saudar a rotina de mais um dia feliz...

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