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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 26 de abril de 2024
 

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Mensagem: CARA AMIGA Em memória de Tânia Sinto-me, na senectude, bem mais próximo de ti, mas também sinto que já começo a ter certa intimidade contigo. Suponho até que tenhas nome. Se não tiveres, dar-te-ei um. Se tiveres, qual seria? Geminiana, Gertrudes, Yara, Mariá, Yemanjá? Não sei. Mas que tu deves ter um nome, deves. Morte não é nome de ninguém. Pois é, de tanta intimidade, atrevido até onde não se pode mais ser, desde a infância, ou até antes dela, tenho-te tratado atualmente de cara amiga. Para mim esse é teu nome. Sabes por quê? Porque quando mais tu te aproximas de mim, mais eu gosto da vida. E queres amiga mais cara do que aquela que te faz gostar de viver? Aprendi que me abraçaste tão logo fui gerado. E foi aí que comecei a envelhecer, ou seja, a caminhar em tua direção, não é mesmo? Depois adquiri certeza de que, um dia, chegarás e me levará, queira eu ou não. Podes levar-me, cara amiga, mas serei sempre superior a ti, simplesmente porque tu nunca matarás a vida que habita em mim. Essa, tua grande frustração. Acaso aceitarias, já que és feminina, antes de me levares, ser minha mais nova namorada, como pretendeu, em “O Haver”, o poeta maior desta pátria minha? É bem verdade que deverás chegar cerimoniosa, parecendo uma antiga amante, mas, quem sabe? Não te faria essa proposta emprestada se tivesse certeza de que fosses masculina, embora muita gente que nem eu o fizesse, o que não me causaria a menor espécie. Acaso tens útero? Abrigaste alguém? Onde vives? Por onde andas? Cara amiga, a verdade é que nunca conseguiste destruir a vida e, por isso, também não destruirás a minha, porque sou um grãozinho da eterna poeira cósmica que tudo gerou, inclusive a ti, se é que foste gerada. És, portanto, falível. Só a vida é eterna. Ainda assim, peço-te que demores o mais que puderes para arrebatar-me. Já tens tanto trabalho! Não paras um minuto, sequer, nem para um cafezinho. Tua lista é imensa. Que rol, hein? Não cansas de tantos nomes e lugares? Já andas bem velhinha, bem cansadinha, e poderias esquecer do meu, na hora H. Ficar-te-ia eternamente grato, porque não te quero perto de mim, cara amiga, nem para dares fim a meus sofrimentos. Deixa-me sofrer em paz. Um abraço? Um beijo? Ambos? De quem te espera tranquilo, sem trema, como manda a nova ortografia de meu país.

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