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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 17 de maio de 2024
 

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Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 50)

Em 1964 fui eleito Governador do Distrito 458, de Rotary International, que na ocasião abrangia quase todo o Estado de Minas Gerais. E tomei posse em 1965, para um mandato de um ano.
Fazia parte de meus compromissos, como Governador de Rotary, visitar e manter contato, durante um ano inteiro, com 41 das principais cidades do Estado, inclusive Belo Horizonte, Juiz de Fora, Governador Valadares, Barbacena, Patos de Minas, Cataguazes, Leopoldina, Itaúna e muitas outras cidades prósperas de Minas Gerais, em muitas das quais havia importantes empresários da indústria têxtil.
Àquela altura a Sudene era pouco conhecida em Minas Gerais. A maioria dos mineiros não sabia que uma quinta parte do território do Estado encontrava-se inserida na área de atuação da Sudene. Fazia-se necessário um amplo trabalho de esclarecimento, mas todos aguardavam que o próprio governo se encarregasse disso.
Ao ser escolhido para assumir a governadoria de Rotary compreendi que se abria para mim a oportunidade de tornar a Sudene conhecida dos mineiros. Para isso elaborei um plano de trabalho inédito e corajoso. Ouvi as áreas técnicas da Sudene e resumi e mandei imprimir, por conta própria, folhetos com a legislação incentivadora da Sudene e um levantamento do potencial econômico da Área Mineira da Sudene. Enchi com esse material uma mala e organizei um grupo folclórico, de artistas amadores, amigos meus – tocadores de viola, cantores, sapateadores, improvisadores e contadores de casos e me pus a caminho, em veículos próprios, a divulgar de cidade em cidade, a começar por Belo Horizonte, o que era a Sudene e o quanto a Sudene era importante para Minas Gerais, como agência propulsora do desenvolvimento econômico e social.
E criei uma frase que a partir daí passou a ser divulgada nos meios de comunicação e tornou-se comum : A SUDENE COMEÇA EM MINAS.
De fato, para nós mineiros, que a víamos do Sul, a Sudene começava em Minas.
Pela primeira e única vez viu-se um Governador de Rotary percorrer seu estado na dupla condição de administrador de Rotary International e caixeiro viajante do desenvolvimento econômico e social de uma região.
Eu estava vendendo um sonho. Um grande sonho.
A primeira visita foi aos Rotary Clubes de Belo Horizonte.
Tanto na reunião administrativa, com as diretorias e os componentes das Grandes Avenidas dos clubes visitados, como também na reunião social, que se fazia em jantar festivo, de conclusão das visitas, na qual compareciam altas autoridades locais, eu reservava espaço, em meio à mensagem rotária que me cabia transmitir, para vender o meu sonho. E informava que havia no Norte de Minas uma área maior do que o estado de Pernambuco e maior também do que a soma das áreas dos estados de Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Norte, na qual uma legislação federal, especialmente criada para fomentar o desenvolvimento, oferecia a quem quisesse empreender na referida área, além de outros incentivos, a participação acionária da Sudene, na proporção de 3 vezes o valor do capital do empreendedor, e isenção de imposto de renda para o empreendimento durante 15 anos. E acrescentava que o principal produto agrícola da região era o algodão e que a região estava aberta para a implantação de uma ou mais fábricas de tecidos.
E me oferecia, no final, para maiores detalhes a quem se interessasse.
O interesse despertado por essa divulgação foi compensador. Muitos empresários vieram a empreender, mais tarde, na região, ou passaram a aplicar seus recursos do FINOR em projetos norte-mineiros.
É de praxe o Governador de Rotary ser levado a visitar autoridades locais – o Prefeito, o Bispo, o Fórum – e pelo menos a uma empresa representativa do progresso da cidade visitada.
Ubá foi uma das últimas cidades que visitei.
Em Ubá levaram-me a visitar a WEMBLEY, uma fábrica de confecções recém inaugurada, cujo proprietário, José Alencar, interessou-se muito pela exposição que lhe fiz sobre os incentivos da SUDENE e o potencial econômico do Norte do Estado. E sobre a possibilidade de aprovação de projetos de fábricas de tecidos e confecções, aceitando, de pronto, meu convite para visitar Montes Claros.
Isso foi em fevereiro de 1966. A visita foi feita e o assunto prosperou. E em dezembro de 1967 nos associamos para o empreendimento que seria a grande meta profissional de nossas vidas de empresários. Sem ele e sem o apoio dos acionistas que confiaram em nós, o empreendimento não teria sido possível nas proporções em que foi realizado. O encontro em Ubá, entre os dois empresários que seriam os fundadores da empresa, constituiu-se, portanto, um marco fundamental para a existência da Coteminas.
Optamos por uma fábrica integrada (fiação, tecelagem e acabamento), de concepção ultra-moderna, para produzir tecidos de alta qualidade ao mais baixo custo de produção possível no País.
A Coteminas não nasceu por acaso. Sua consecução requereu planejamento, organização, muito trabalho, muitos sacrifícios, muita confiança no projeto e muita obstinação.
Mas houve um momento em que o acaso teve presença marcante.
Se não encontrasse um sócio, não iria deixar morrer meu sonho. Partiria para realizá-lo. Mas meu encontro com o Alencar, em Ubá, sendo eu usineiro de algodão e ele fundador de uma fábrica de confecções, foi decisivo.
O acaso começou a manifestar-se na escolha da empresa a ser visitada. A Wembley era uma das empresas relacionadas pela secretaria do clube. A escolha poderia ter sido outra. E continua o acaso. Se o Alencar não estivesse em Ubá no dia em que visitei a fábrica de roupas da Wembley, ou estivesse com um simples resfriado que o impedisse de estar presente, nós não nos teríamos conhecido. Bastava isso ou qualquer outro motivo que impedisse naquele dia o nosso encontro para que não acontecesse entre nós o diálogo do qual resultou meu convite e sua vinda a Montes Claros.
Eu nunca, antes, ouvira falar do Alencar nem ele de mim. Éramos dois desconhecidos. Ubá estava tão distante de meu giro de negócios como Montes Claros estava do dele. O acaso foi peça importante para acontecer aquele encontro, na recem-inaugurada fábrica de roupas da Wembley.
E o acaso costuma ser o pseudônimo de Deus, quando Deus não quer assinar seu próprio nome...

(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)

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