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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 16 de abril de 2024
 

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Mensagem: Mergulho na Praça de Esportes Alberto Sena A importância do acervo de fotografias de Dona Dorzinha – Maria Das Dores Guimarães Gomes – sempre terá realce quando o assunto for preservação da memória individual e coletiva dos montes-clarenses. A chamada “doença do alemão” tanto pode obscurecer a memória de um cidadão como de toda uma população que não tenha a sua história registrada no papel por meio de textos e de fotografias. A foto em epígrafe fez a mim, e certamente a todos de minha geração – década de 50 – reviver a sensação de dar um mergulho nos ares da Praça de Esportes de então, quando subíamos as escadas até os píncaros do escorregador, como se alcançássemos o cume de uma montanha, e nos deixávamos escorregar sentindo o vento veloz sacudir os cabelos numa sensação de êxtase somente sentida quando se é criança. Essa foto me fez reviver, não com a mesma nitidez como se tivesse acontecido no dia de ontem, mas recordo-me da alegria esfuziante como subia os degraus da escada para ter acesso ao cume do mundo; sim, era essa a sensação lá do alto onde o menino tinha visão ampla, 360°, e se atiraria pelo escorregador abaixo até bater com os dois pés em terra. Essa foto me fez recordar das iluminadas manhãs de domingo, depois da missa na Catedral de Nossa Senhora Aparecida ou na Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José, para cumprir com a recomendação materna, e só depois se podia ir à Praça de Esportes, onde o espírito infantil parecia ganhar asas de condor e sobrevoava – e saboreava – os ares da liberdade em plenitude. Revendo, agora, a cena dominical, a escada parece até perigosa para as crianças – e olhe que havia outra maior, salvo engano, utilizada por crianças maiores. Mas era importante para exercício das pernas logo cedo. Esse subir escada e descer escorregando de lá de cima era algo sublime e não há palavras para explicar sua intensidade, inda mais depois de passado tanto tempo. Naquela época, a Praça de Esportes era o centro do Universo. E as manhãs eram mais mágicas, porque em Montes Claros daquela época, a vida transcorria calmamente; o trânsito de veículos era incipiente; as ruas eram tomadas por bicicletas. Raramente se via uma motocicleta. Havia as popularmente chamadas “furrecas” e os caminhões precisavam de uma manivela introduzida na frente, do lado de fora, logo acima do para-choque a fim de pegar no arranque. No ar, respirando a fragrância dos ares sertanejos misturados com o pó vermelho característico do Cerrado hoje devastado, a atmosfera era romântica. Ouviam-se músicas clássicas e os cantores nacionais como Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, entre outros, profissionais da melhor qualidade. Na Praça de Esportes o verde predominava. Embora Montes Claros esteja em uma região árida, havia água suficiente para molhar as plantas. Os fícus eram podados periodicamente com tesouras enormes empunhadas em duas mãos. Havia piscina de natação para criança e oficial para os adultos, onde se realizavam competições estaduais de nado e salto do trampolim, quando Aprígio exibia as suas qualidades. Havia também duas mesas de pingue-pongue debaixo de um telhado sustentado por meia dúzia de pilastras. Ali reinávamos na modalidade “rodinha”. Mandando para o outro lado todos os companheiros. Era, então, quando me sentia rei sem coroa, mas reinando até que, cansado, abdicava do trono. Para concluir e enfeixar as lembranças na foto do arquivo de dona Dorzinha, realçando a sua importância quase arquetípica, basta dizer, se um dia a foto não tivesse sido sacada por alguém para ser doada anos depois ao acervo e ser agora exibida, para minha alegria e de muitos de minha geração, este texto por mim assinado não teria existido. O que, num hipotético futuro do pretérito, eu teria muito a lamentar. A Praça de Esportes, que ainda hoje é motivo de polêmicas, ainda está lá. A última notícia dela, recentemente, dava conta de que o prefeito Humberto Souto iria construir nela um estacionamento de veículos. Prometia requalificar a Praça de Esportes, transformando-a em um dos melhores lugares de esporte e lazer de Montes Claros. Se assim for, assim seja. Vamos bater palmas. Se assim não for... Bem, se assim não for será, então, uma outra história.

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