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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 19 de abril de 2024
 

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Mensagem: VAMOS À FAZENDA DE IDALÍCIO Alberto Sena Bom mesmo era quando pai falava: ‘amanhã, nós vamos à fazenda ‘Aliança’, de Idalício`. Nem aguentava esperar o dia seguinte chegar para ir a pé à fazenda ‘Aliança’, de Idalício. Ia dormir cedo que era para a noite passar rápido e o dia seguinte chegar logo. Bem cedinho, aos primeiros clarões do dia, pai acordava e chamava para tomar café. Depois, pé no caminho. A fazenda de Idalício era longe. Tínhamos de andar muito debaixo do sol causticante de Montes Claros. Outro dia, conversava com o advogado e ex-deputado federal Genival Tourinho, o que denunciou a ‘Operação Cristal’, na ditadura militar, e ele me disse que a fazenda ainda existe. Gostei de ouvir a informação, porque conservo boas lembranças daquele lugar. Idalício era irmão de Petronilho Narciso. Petronilho era compadre de pai e morava na Rua Carlos Pereira. Era pai – entre outros – de Pedro, Chiquito, Maria Inês, Petronilho Narciso Jr. Este último, era menino de sete/oito anos de idade, regulava comigo. Éramos, inclusive, colegas de sala no Grupo Escolar Gonçalves Chaves, ali na Praça Dr. João Alves. Três imagens me vêm à cabeça ao me lembrar das vezes em que fomos a pé à fazenda ‘Aliança’, de Idalício, meados da década de 1950. Imagem 1: Chegávamos, e de longe vimos algumas pessoas na frente da sede da fazenda. Ficamos pensando ‘o que será que aconteceu?’ e quando nos aproximamos mais vimos: o capataz da fazenda havia matado a pau uma cobra enorme e a estendera no arame da cerca. Exibia-a como troféu. Ficamos impressionados, parecia que em todo canto da fazenda tinha cobra e era um perigo andar por ali sozinho. Imagem 2: nos fundos da sede da fazenda havia um grande pomar, cheio de pés de manga. Na safra, era tanta manga que ninguém dava conta. Virava lama debaixo das mangueiras. As pessoas derrubavam manga de todo jeito: na vara, na pedrada ou na mangada, quer dizer, atiravam manga verde para derrubar manga madura. De repente, ouviu-se um tiro. Era de espingarda ‘chumbeira’ do capataz, que a disparou para o alto contra um bando de maitacas que passava fazendo ‘krec’, ‘krec’, ‘krec’. Duas delas caíram aos nossos pés. Agonizavam. Uma delas ficou comigo. A outra ficou com Maria Inês. E ela exibia a maitaca, quando um dos cachorros da fazenda avançou na mão dela e a arrebatou. A menina chorou. Não sei se de susto ou porque perdera a maitaca para o cachorro. Imagem 3: era de manhã e voltávamos da fazenda `Aliança`, de Idalício. Pai, Petronilho (filho) e eu. Era uma trilha em meio a arbustos com grandes árvores dos lados, mas bem afastadas. Pai levava uma maleta na mão. Na copa da árvore mais alta, vimos uma ave enorme. Devia ser um gavião. Exibia o peito esbranquiçado. Pai colocou a maleta no chão. Abriu-a. Retirou de dentro dela uma espingarda desmontada. Montou-a. E em seguida carregou-a. Levou a espingarda à altura do ombro e fez mira contra a ave posada na copa da árvore. Para mim, tudo aquilo era novidade: nem sabia que pai tinha espingarda. Fiquei estático. Torcia em silencio para que o gavião percebesse as intenções de pai. O cano da arma estava apontado para o bicho. Eu rezava. Pedia a Deus para fazer a ave voar. E parece que Deus atendeu porque antes de pai disparar o gatilho a ave bateu asas e voou. Voou em círculos. Sumiu das vistas. Pai retirou as balas da espingarda. Desmontou-a. Em seguida guardou-a na maleta. E seguimos viagem, a pé, de volta a Montes Claros. Em casa, ao chegarmos, mãe, como sempre fazia, encheu uma bacia com água morna, pôs um punhado de sal, e o menino tomou ‘um banho de sal’. Segundo mãe, era para ‘descansar as pernas’, porque a fazenda ‘Aliança’, de Idalício, era longe. Na cabeça do menino, alheio ao tempo, era preciso andar horas e mais horas para chegar à fazenda ‘Aliança’, de Idalício, hoje dentro do perímetro urbano de Montes Claros.

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