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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 7 de maio de 2024
 

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Mensagem: Uma “Mãe de leite Especial”

Ruth Tupinambá Graça

Todos nós sabemos as grandes vantagens do leite de cabra na alimentação, principalmente das crianças. Muitas vezes me perguntam:
_ “Dona Ruth, como a senhora atingiu os 90 anos com tanta saúde”?
_ Eu respondo calmamente: fui criada com leite de cabra.
Devo confessar que os antigos tinham muita sabedoria, tanto que muitos procedimentos usados pelos nossos antepassados são atualmente indicados pelos médicos e também recomendações e conselhos que aparecem constantemente no programa do “Globo Repórter”, foram outrora usados pelos nossos avós.
Lá em casa tinha sempre uma cabra no quintal responsável pelo leite da nossa família. Fomos todos criados com leite de cabra.
O leite de vaca era mais difícil, o transporte era precário, não existia geladeira para conservação de sorte que o papai optava pelo leite de cabra. Papai viajava muito (era agrimensor) e para a tranqüilidade da família ele tinha o cuidado de arranjar uma cabra que desse bastante leite principalmente quando a “cegonha” chegava. O nosso quintal era enorme verdadeira chácara; além das árvores frutíferas e frondosas, no fundo, uma grande parte era só pasto de sorte que a cabra tinha como se alimentar. Mas nós gostávamos de dar-lhe milho e farelo para aumentar-lhe o leite. Era uma alegria nesta hora; deliciávamos vendo a cabrita (com seu cabritinho) avançando gulosamente para agarrar a ração que jogávamos, mudando sempre de lugar (verdadeira molecagem) só para vê-la dar “aqueles pulinhos...”
Até hoje sinto na boca o gostinho daquele leite de cabra quentinho (tirado na hora) que a mamãe trazia toda manhã para todos (os 7 filhos) que já reunidos em volta da grande mesa da sala de jantar. Era a nossa primeira refeição. Depois vinha um café gostoso com biscoitos caseiros. Naquele tempo não existiam padarias que hoje facilitam tanto para as donas-de-casa. Era uma hora muito divertida. Enquanto a mamãe ocupada nos afazeres da cozinha, nós na sala, traçávamos nosso programa do dia: as mulheres arranjando sempre uma hora para as distrações (tão raras naquele tempo) e os homens pensando nas escapulidas para o Rio Vieira (éramos vizinhos) para uma nadada com os companheiros. Tínhamos nossas tarefas e obrigações pois a mamãe não admitia empregada em nossa casa, já estávamos crescidinhos e podíamos ajudá-la. Ela era exigente e muito cuidadosa nos seus deveres de dona-de-casa e nunca encontrava uma faxineira bastante caprichosa. A arrumação era por conta da Fely e Maria, as mais velhas. O quintal, inclusive a “horta” era obrigação dos homens: Cassimiro, Raymundo e Domingos. O Ruy que era o caçulinha (ainda nenê) ficava assentadinho no caixotinho forrado com cobertor. Não existiam os carrinhos de hoje confortáveis e incrementados, onde os bebês de hoje passeiam pela manhã como verdadeiros reizinhos. A minha obrigação era tomar conta do caixotinho para que o nenê não caísse.
Não havia água canalizada de sorte que em todas as casas existiam cisternas. Certo dia acordamos com os berros da nossa Cabritinha. Saímos assustados e procuramos por todo o quintal e não a encontramos.
Descobrimos que ela estava dentro da cisterna que já começava diminuir a água por causa da seca.
Foi aquele alvoroço! Começamos a chorar (todos em volta da cisterna) assustados com medo da Cabritinha morrer. Ela era tão mansinha! Até meus irmãos conseguiam tirar o leite.
Papai ficou logo incomodado, a nossa “mãe de leite” não poderia morrer. Mas como tirá-la do fundo daquele poço? De repente teve uma idéia brilhante. O “Circo de Meloso” estava armado na Praça da Matriz bem perto da nossa casa. Papai com toda diplomacia e educação pediu ao dono do Circo socorro e explicou toda a tragédia, o nosso desespero, a falta que a cabra ia nos fazer principalmente pelo leite das crianças. Papai conseguiu convencê-lo. Logo vieram dois rapazes fortes acostumados fazer acrobacias nos trapézios e deram um espetáculo em nosso quintal. Tomaram as precauções necessária e um deles desceu até o fundo da cisterna. Amarou a Cabra (berrando sem parar) e o seu companheiro foi puxado devagarzinho...
Graças aos dois valentes voluntários finalmente ela apareceu esperta com os olhinhos vivos e arregalados e um pouco assustada. Felizmente não quebrou nada foi aquela alegria!
Naquela hora de espera descobrimos como ela era importante para nós e como amávamos. E por nada deste mundo queríamos perder aquele “leite quentinho”, que todas as manhã fazia parte da nossa primeira refeição.

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